08 Rota da Grande Lisboa

Descrição

A Grande Lisboa geológica e morfologicamente tem na sua diversidade um pouco da variedade de Portugal. Os 30.000 hectares do estuário do Tejo formam o seu núcleo, em redor do qual se estendem zonas planas e colinas até às duas serras que a rematam: a Noroeste a Serra de Sintra, granítica com 528m de altitude, e a Sul a Serra da Arrábida, calcária que atinge 501m. Estas elevações, que se veem de Lisboa, são a representação evidente das paisagens do Portugal Atlântico e do Portugal Mediterrânico que Orlando Ribeiro definiu e explicou no seu ensino.

Os jardins que integram a Rota dos Jardins Históricos da Grande Lisboa espelham esta diversidade e distribuem-se por estas três realidades geofísicas: Lisboa e o estuário, a Serra de Sintra na sua vertente poente e Norte virada para o oceano, e a Serra da Arrábida com a vertente Norte virada para Azeitão e a Sul para Setúbal.

Nos jardins desta Grande Lisboa tripartida pode confirmar-se que estão presentes os quatro traços que marcam a identidade do jardim Português - grande variedade de espécies, vistas longas, azulejos e grandes tanques decorados. Na diversidade de plantas exóticas destacam-se as árvores sub-tropicais com florações excecionais, como os Jacarandás e as Tipuanas que inundam de cor a cidade de Lisboa e os seus jardins. A vista dos jardins é sobre o rio Tejo ou sobre o Oceano e os miradouros, ganham importância com os descobrimentos, têm alegretes que oferecem assentos donde se vê o rio ou o infinito horizonte: dos jardins e miradouros da Graça, de Santa Catarina, e da capelinha de S. Jerónimo se desfruta do património das vistas, locais preparados para aguardar, olhando, o retorno das embarcações donde voltariam os homens, a fortuna ou a desgraça e este traço fundamental da cultura portuguesa reflete-se nos jardins da Grande Lisboa.

A decoração com azulejos e a presença de grandes tanques alimentados por estratégicos sistemas de água fazem parte destes quatro traços de «carácter». Na construção de jardins a partir do seculo XVI, com o retorno dos vice-reis da India, se entrança a influência de Itália com a da India fazendo nascer um estilo local que celebra as epopeias de cada herói: na quinta da Bacalhoa em Azeitão, Afonso de Albuquerque, na Penha Verde em Sintra, D. João de Castro, em Fronteira já no sec. XVII D. João de Mascarenhas, herói de 1640 e de toda a gesta portuguesa que restaurou a nacionalidade.

Fronteira em especial constituiu inspiração para outros jardins dentro das quintas de veraneio que se vão instalando sobre as colinas em redor de Lisboa. Na encosta de Belém-Ajuda aparecem no século XVII o palácio de Belém, e já no século XVIII são emparcelados por D. João V os palácios e jardins que agora formam o Jardim Botânico Tropical, e o Jardim Botânico da Ajuda. No Lumiar, a Quinta do Monteiro-Mor do século XVIII, e pela mesma altura em Oeiras a Quinta Modelo do Marquês de Pombal e os seus jardins, em Setúbal a Quinta das Machadas. A família real constrói também nos arredores, seguindo o modelo de Versailles, o palácio de Queluz e a Quinta Real de Caxias. Nestas quintas os jardins servem de retiro e para se gozar a qualidade do ar, das águas, das vistas amplas e de maior frescura, fugindo ao calor do Verão de Lisboa.

No século XIX o estímulo dado aos jardins pelo Rei D. Fernando é seguido por muitos e em Sintra depois da construção do romântico parque da Pena, seguem-se dezenas de jardins e palacetes como a Vila Sassetti, a Regaleira, Monserrate. Em Lisboa o passeio público da Estrela e os “squares” do Príncipe Real e das Amoreiras são exemplo da requalificação urbana no trilho de Haussmann em Paris. Finalmente, no Século XX surgem os parques urbanos em que Setúbal precede com o parque do Bonfim o modernismo do jardim da Fundação Calouste Gulbenkian.