Quinta da Boa Viagem
Norte | Viana do Castelo
Quinta da Boa Viagem
Quinta com cerca de 4ha, implantada na Serra de Santa Luzia, em encosta voltada ao mar, cujo local de implantação, bem visível pelos pescadores e marinheiros terá lhe dado o nome de “Boa Viagem”. Aliás no alto do monte nos limites da grande mata que sobe encosta acima encontra-se uma grande cruz visível aos navegantes.
Em 1579, Gonçalo Ferreira Villasboas, casado com D. Catarina Álvares de Seixas, a “Marquesa”, filha de ricos armadores de Viana do Castelo, instituiu o morgadio da Boa Viagem, vinculando a quinta e a capela dedicada à Nossa Senhora da Boa Viagem, construída em 1592. Em 1742 Fernando Leite Lobo, moço fidalgo da Casa Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Ouvidor de Ouro Preto, no Brasil casou com sua prima Maria Rozenda Villasboas e com a fortuna acumulada no Brasil empreendeu profundas obras na casa e jardins, construindo terraços, escadarias e fontes.
Chega-se à quinta por caminho de Santiago, ladeado por oliveiras, encontrando-se a pequena capela alpendrada da casa, de Nossa Senhora da Boa Viagem, com o ribeiro do Pego que corre monte abaixo, com azenha Um portal armoriado, com o brasão dos Villas Boas rasgado em muro com merlões, dá acesso a caminho coberto por ramada, com inscrição latina no chão “cave canen” (cuidado com o cão) inspirada numa inscrição existente em Pompeia, que liga ao terreiro da casa. A casa impõe-se em quota elevada, com torre e escadaria, voltadas ao mar, com a cor forte de ocre, sendo que o terreiro é ligeiramente inclinado. Uma fonte com bica carranca e nicho com santo volta-se para o terreiro. Junto ao terreiro a sul, um espaço murado laranjal, projeto da arquiteta paisagista Cristina Castel-Branco, segundo inspiração nas ideias para a quinta do arquiteto paisagista Ilídio de Araújo. Para a esquerda do terreiro, encontra-se um pátio envoltos por antigos edifícios agrícolas, hoje transformados e adaptados para receber turistas. Acesso ao jardim por túnel sob casa, para oeste, recebendo o visitante uma figura de convite pétrea dando início o caminho que percorre a quinta de recreio, encosta acima, disposta em socalcos. O caminho inicia-se coberto por ramada e ladeado por lagerstroemias, laranjeiras, rododendros e diospireiros. A meio do caminho, encontra-se monumental fonte, com tanque cujas bicas surgem em estatuária, escadaria ladeada por dragões e em cima, fonte de espaldar com estátua a jorrar água, encimada por nicho com Santo António. Atrás encontra-se jardim de notáveis camélias com um cruzeiro. O caminho segue ladeira acima, acompanhado por regadeira, ladeado por campos de cultivo, com algumas árvores de fruto, a piscina ao fundo, e no local elevado, chamado de Eira dos Mouros, um patamar com jardim formal de buxo, de 1920, mandado fazer por João Teixeira de Queiroz, com pavimento em tijoleira e fonte central. No extremo, a sul, um mirante com conversadeiras, voltado ao ribeiro que ali corre e ao caminho de peregrinos de Santiago. No lado oposto, no extremo do campo uma estátua de Daniel Arnaut, chamada “Dança das Cadeiras”. No topo do caminho encontra-se grande tanque que acumula a água que leva para as fontes da quinta, com notáveis carvalhos e camélia e porta de acesso à mata. Junto ao tanque um jardim com mesas e zonas de sombra e muro com conversadeiras, voltadas à quinta. Regadeiras avistam-se junto aos muros de suporte dos socalcos, sendo visível o circuito de água. O sistema hidráulico foi alvo de recuperação no âmbito do projeto EEA Grants financiado pelo EEAGrants (European Economic Area Financial Mechanism). Atrás da casa surge um outro jardim com antiga fonte de taça central, pro-veniente do Porto. Num recanto deste jardim encontra-se um tanque com lavadouros e espaldar com nicho. Seria coberto por alpendre, existindo apenas a estrutura.
Conjunto de Interesse Público / ZEP, Portaria nº 651/2014, DR, 2.ª série, n.º 150 de 06 agosto 2014.
Inventário: Joaquim Gonçalves - outubro de 2018.
Quinta da Boa Viagem
(Consultada em outubro de 2018)
AZEVEDO, Carlos – Solares Portugueses: Introdução ao Estudo da Casa Nobre. 1ª ed. Lisboa : Livros Horizonte, 1969. pp. 76, 103, 120.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins com História: Poesia atrás de muros. [S.l.]: Edi-ções Inapa, 2002. pp. 31 - 35.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins de Portugal. [S.l.] : CTT Correios de Portugal, 2014. pp. 18, 19.
LEVANTAMENTO E AVALIAÇÃO de Jardins Históricos para Turismo. Lisboa: Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia. Abril de 1998. Vol. I.
STOOP, Anne de; MAYOR, João Paulo Sotto (fotografia) – Arquitetura Senhorial do Minho. [S.l.] : Caminhos Romanos, 2015. pp. 447-451.
http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=22899
http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=3501
AJH, Documentação EEA Grants, Recuperação de estruturas e circuitos de água, 2010.