Palácio dos Condes de Anadia / Casa dos Condes de Anadia

Centro | Mangualde

Palácio dos Condes de Anadia / Casa dos Condes de Anadia

O Palácio Anadia encontra-se dentro de uma quinta de recreio portuguesa, com mais de 30 ha, em pleno centro da cidade de Mangualde, mantendo integralmente a estrutura original, ao contrário da maioria das quintas, que desapareceram pela pressão urbana. As dimensões são surpreendentes e é composta pelo imponente palácio, jardins, hortas, pomares e vinhas todos harmoniosamente integrados e uma extensa mata, outrora com veados, casas de colmo e pequeno “convento de frades” (LEVANTAMENTO E AVALIAÇÃO de Jardins Históricos para Turismo, 1998). O jardim encontra-se disperso e afastado da casa, comum na região do Dão, onde os jardins muitas vezes localizam-se junto de fontes e nascentes, ligando-se à casa por alamedas e carreiras de buxo (ARAÚJO, 1962).

A origem da quinta e palácio remete-nos para 1686, altura em que Simão Paes do Amaral (c.1660-1749), capitão-mor de Azurara da Beira e 7º senhor da Casa de Mangualde, compra vários terrenos e casas para construir o seu palácio. Durante os dois primeiros quartéis do séc. XVIII é construído o palácio e jardim. Mas é já no início do séc. XIX que o jardim sofre grandes remodelações, sendo durante todo o 1º quartel que se constrói grande parte do que hoje existe, tudo por impulso de Miguel Pais de Menezes, um dos 18 filhos de Miguel Pais do Amaral, da Casa de Mangualde e de D. Joaquina Teodora Sá de Meneses, das Casas de Anadia e Condeixa. É por esta altura que o palácio começa a ser conhecido como Casa de Anadia.

A vasta propriedade, com suave declive, encaixada na cidade, possui diversos acessos, alguns com portais ricamente decorados, mas o principal é feito junto à fachada principal do palácio, uma fachada de aparato rococó, que dá acesso a pátio das cavalariças, com um exemplar notável de plátano a criar uma grande zona de sombra. A fachada lateral do palácio voltada a este pátio assume também algum aparato com varanda corrida com arcadas e escadaria de lanços curvos convergentes, com rododendro no centro. No lado oeste deste pátio uma fonte com nicho e do lado oposto, um portão de acesso aos jardins e quinta, que conduz a corredor com pavimento lajeado e carreira de loureiros, criando zona de sombra. No final um outro portão abre-se para caminho, conduzindo para o lado esquerdo a carreira de buxo, enquadrando campos de nogueiras e castanheiros da índia. Junto a fachada lateral norte do palácio encontra-se um pequeno jardim, impulsionado pela atual condessa de Anadia, com camélias, rododendros, aceres, azálease diversas flores anuais e vivazes. Junto ao muro encontram-se grandes tílias, que percorrem grande parte do muro da propriedade do lado norte. O buxo assume presença constante formando 'carreiras’ a delimitar campos e quadras. Em eixo com o portão de entrada corre alameda no sentido oeste / este com exemplares notáveis de freixos, cruzada por uma outra alameda perpendicular de grandes dimensões que percorre toda a propriedade no sentido norte / sul. A ladear a primeira alameda encontra-se, do lado direito um olival que percorre a propriedade e, do lado esquerdo, uma monumental construção com grande pombal torreado no centro e em baixo compridos tanques. Continuando por entre carreiras de buxo chega-se a um grande tanque com lavadouros, em quota inferior, virado aos jardins e pomares. Na proximidade, construções agrícolas com eira. Grande parte do extremo este da propriedade, junto ao muro, é bordejado por cedros e ciprestes, criando um ambiente algo mediterrânico. Toda esta zona é marcada pela presença da vinha e olival entre sebes de buxo, enquadrando e misturando campos e pomares com o jardim. A comprida alameda norte / sul é plantada com freixos e aveleiras, chegando ao centro à chamada Fonte Nova, com a data inscrita de 1807, com espaldar coroado por obelisco e tanque semicircular, dando acesso, em quota mais baixa, por escadas a lago redondo, com taça rodeada por nenúfares e enquadro por buxo podado criando ondulação e bolas. Sob as escadas encontra-se uma antiga casa de fresco. Os campos que ladeiam o lago são preenchidos por hortas e pomares.

Continuando a percorrer a grande alameda, encontra-se largo com cedros do Buçaco e bancos que conduzem aos campos de vinha que ocupam grande parte da vasta propriedade. No extremo da alameda surge outra fonte monumental, com reboco a rosa a contrastar com a cantaria de granito, de espaldar recortado, com tanque quadrangular, que conduz por gravidade a outro tanque retangular, em quota mais baixa, enquadrado por bambus. Atrás desta fonte encontram-se antigas gaiolas de pássaros, voltadas a um jardim formal, com canteiros de buxo, com camélias e azáleas e no centro exemplar notável de magnólia grandiflora. Nos cantos do muro deste patamar de jardim encontram-se conversadeiras voltadas à paisagem que permite vistas, aliás sempre presentes em diversos pontos da quinta, para os terrenos agrícolas e para a Serra da Estrela no horizonte. Em socalco ascendente, encontra-se um outro patamar ao nível dos telhados das gaiolas, com acesso por escada, com canteiros formais de buxo, com pirâmides talhadas, pontuado por lagerstroemias e preenchidos por agapantos. Neste patamar encontra-se ainda uma estufa, ameixieiras de jardim e um exemplar de caneleira. Lateralmente a esta zona do jardim corre caminho com carreira de buxo, em sentido ascendente, rumo a oeste, em direção à mata. Passa por campos pastoreados por ovelhas e olival, chegando a zona com grandes formações rochosa constituindo largos penedos, surgindo um banco de pedra encostado ao muro de modo a descansar e permitir usufruir da vista sobre a propriedade e serra da Estrela. A mata com cerca de 15 ha é murada e tem acesso pelo exterior onde, à esquerda, se encontra um recinto de granito para o jogo da bola. Acede-se também à mata pelo interior da quinta por portão que dá para um pequeno túnel sob a via pública. A mata ocupa um terreno declivoso, com expressiva orientação a nascente, e está estruturada com uma complexa rede de caminhos, por vezes ladeados com alinhamento de árvores. Os caminhos conduzem a vários pontos - obelisco, convento, jogo da bola, lago, gruta, espaços de descanso - e portões da propriedade. Possuí exemplares de pinheiros, castanheiros, loureiros, medronheiros, cedros e carvalhos, alguns deles centenários. Diferentes estruturas hidráulicas – minas e valetas - conduzem as águas. Nos muros que percorrem a mata para além dos portões surgem janelas gradeadas permitindo pontos de vista sobre o exterior.

CIP - Conjunto de Interesse Público

Inventário: Joaquim Gonçalves – Junho de 2018

inserido na ROTA DO DÃO

Palácio dos Condes de Anadia / Casa dos Condes de Anadia

(Consultada em junho de 2018)
ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa : Centro de Estudos de Urbanismo, 1962. pp. 218, 229.
AZEVEDO, Carlos – Solares Portugueses: Introdução ao Estudo da Casa Nobre. 1ª ed. Lisboa : Livros Horizonte, 1969. pp. 74, 88, 96, 110.
BOWE, Patrick, SAPIEHA, Nicolas – Gardens of Portugal. [S.l.] : Quetzal Editores, 1989. pp. 134-137.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins com História: Poesia atrás de muros. [S.l.]: Edições Inapa, 2002. pp. 89-93.
GUIA de Portugal: Beira. II - Beira Baixa e Beira Alta [S.l.] : Fundação Calouste Gulbenkian, 1983. Vol. 3. p. 808.
LEVANTAMENTO E AVALIAÇÃO de Jardins Históricos para Turismo. Lisboa: Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia. Abril de 1998. Vol. I.
SILVA, António Lambert Pereira da – Nobres Casas de Portugal. Porto : Livraria Tavares Martins, 1958. Vol. III. pp. 5-13.
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3677
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=4231

Largo Conde de Anadia