Convento de São Paulo
Alentejo | Redondo
Convento de São Paulo
Na meia encosta na serra d’Ossa de formação xistosa, entre Estremoz e Redondo, encontra-se o Convento de São Paulo, desde 1993 Hotel Convento de São Paulo. A serra com cerca de 650 m de altitude, tem uma orientação NW/SE e é a principal elevação na planície alentejana pertencente aos concelhos de Borba, Estremoz e Redondo. Do alto de São Gens, avista-se toda a planície alentejana. Hoje está predominantemente coberta pelo eucalipto embora surjam ainda manchas notáveis de vegetação autóctone constituídas por montado de sobro e azinho e ainda os estevais. Rica em água, nela instalam-se nascentes quer da bacia do rio Guadiana quer do rio Tejo (Sorraia). Envolta em terrenos férteis, a presença humana na serra tem marcas muito antigas e nela se instalaram ermitérios, pelo menos desde o século IV, habitados por frades sobretudo contemplativos vivendo longe dos aglomerados. O Convento de São Paula guarda a memória de todo este movimento tendo a cerca uma área aproximada de 600 ha.
O Convento de São Paulo destaca-se na serra, instalado na meia-encosta, sendo servido pela EN 381. As primeiras construções foram fundadas no século IV pelos monges eremitas, tendo sido destruídas pelo terramoto de 446. Um convento foi construído em 1182. Sendo já grande a expansão de eremitérios no Alentejo, nomeadamente na Serra d’Ossa, uma visitação ordenada por Gregório XI, em 1378, foi levada a cabo por D. João, bispo de Coimbra, Guilherme Carbonel, vigário de Lisboa e Mem Peres, chantre de Évora, veio dar força ao movimento e o convento de São Paulo vai-se tornar um importante centro destes homens ditos ‘da pobre vida” vivendo em comunidades compostas sobretudo por leigos, sem a profissão de qualquer voto. Inicialmente foi fundada a Casa dos Pobres de Nosso Senhor Jesus Cristo, no entanto, a Congregação dos Monges de Jesus Cristo da Pobre Vida apenas foi aprovada pelo Papa Gregório XIII, por uma bula de 1578, tendo recebido muitos privilégios reais e papais. Foi a partir dessa data que se renovou o complexo conventual que está na origem do edifício atual. A reforma geral do edifício data de 1727 tendo o convento assistido posteriormente a várias campanhas de obras. Destas destacam-se as levadas a cabo ao longo do século XVIII, nomeadamente as associadas ao revestimento com imensos e notáveis painéis de azulejos azuis e brancos de escadas, corredores e capelas e que são oriundos de oficinas de Lisboa de mestres como Gabriel del Barco, António de Oliveira Bernardes e Nicolau de Freitas – e de um que assina como PMP – num total aproximado de 55 mil azulejos com cenas do Antigo e do Novo Testamento, vidas de santos, santas, eremitas e anacoretas. Por sua vez, ao longo dos tempos, foi visitado por figuras ilustres como D. Sebastião, a caminho de Alcácer Quibir em 1577, D. João IV e D. Catarina de Bragança em 1699. O rei D. Carlos também aqui esteve.
O lugar ficou ao abandono após a extinção das ordens religiosas em 1834. Foi comprada em 1870, em nome de Carolina Amélia Fernandes Torres, mais tarde Leotte, por casamento com o juiz desembargador Henrique Xavier Correia da Silva Leotte que deram então início à recuperação do convento, missão que se prolonga por quatro gerações. Em 1992 foi adaptado a unidade hoteleira. Em 2000 foi criada a Fundação Henrique Leote, sedeada no Convento, destinada à promoção de atividades culturais e tendo como principal finalidade a recuperação, preservação e desenvolvimento da identidade cultural das populações raianas a par com a colaboração na conservação do convento.
Trata-se de um edifício enorme e complexo que resultou de diversas fases de obra e de expansão e que foi construído adaptando-se à morfologia da encosta estando por isso implantado em diferentes níveis. Sobe-se o caminho ao longo da encosta e acede-se a um pátio com a igreja no topo, rodeada por duas torres sineiras. À esquerda, encontra-se a fonte da Leoa e à direita um portão conduz aos jardins, hortas e pomares suportados por vários muros, interligados por escadas tendo no ponto mais alto um tanque (hoje PISCINA?) Entra-se no mosteiro, passando a receção do hotel e acede-se de imediato ao claustro, de um só piso, com jardim de buxo e fonte de mármore ao meio com estátua de Neptuno. Do claustro, passando-se a um nível superior, acede-se às alas dos quartos e também ao Jardim das Quatro Estações, um pequeno pátio com portas, revestido a azulejo com a fonte do Dragão, encimado por quatro bustos alegóricos das quatro estações do ano. Saindo-se por uma das portas tem-se acesso à mata, antecedida por um terraço com um tanque redondo e logo à entrada uma mãe-de-água. A mata possui um conjunto de caminhos. Pelo interior do convento, atravessando as alas dos quartos e a igreja, acede-se ao tanque da Carreira, com nichos na parede com esculturas, laranjeiras, rematado por bancos, e suportado por um muro. O sistema hidráulico com as suas fontes, tanques e canais abastecidos por minas a partir da mata.
Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 28/82, DR, 1.ª série, n.º 47 de 26 fevereiro 1982 (Convento de S. Paulo, sito na serra de Ossa, incluindo azulejos setecentistas que revestem o seu interior, o retábulo fingido da capela-mor, os 2 fontanários em mármore, uma fonte decorativa e os jardins circundantes)
Inventário: Teresa Andresen - janeiro 2019
Convento de São Paulo
(consultada em maio de 2019)
ARAÚJO, Ilídio Alves de, Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal, vol.1, Lisboa, 1962;
CARITA, Helder, HOMEM CARDOSO, António, Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal ou da Originalidade e Desaires desta Arte, Círculo de Leitores, Lisboa, 1990, p.257, 260, 274 a 277;
CASTEL-BRANCO, Cristina, Jardins com História, Poesia Atrás dos Muros, Edições INAPA, Lisboa, 2002. pp. 143-146;
FONTES; José Luís Inglês, Cavaleiros de Cristo, monges, frades e eremitas: um percurso pelas formas de vida religiosa em Évora durante a Idade Média (Secs. XII a XV), LUSITANIA SACRA, 2ª série, 17 (2005) 39 pp 39-61
GUIA de Portugal: Estremadura, Alentejo e Algarve. II - [S.l.] : Biblioteca Nacional de Lisboa, 1927. Vol. 2. p. 90;
LEVANTAMENTO E AVALIAÇÃO de Jardins Históricos para Turismo. Lisboa: Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia. Abril de 1998. Vol. II.
http://www.hotelconventosaopaulo.com/index.php
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=23829
http://www.fundacaohenriqueleote.pt/
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74541/