Miradouro da Nossa Senhora do Monte

Lisboa, a cidade das sete colinas, é repleta de miradouros com vistas fantásticas. O Miradouro da Senhora do Monte, situado junto à Capela do mesmo nome, num dos pontos mais altos da cidade, oferece uma panorâmica única, considerada por Fernando Pessoa “[…] uma das mais belas vistas de toda a Lisboa, seja à noite, seja ao nascer ou ao pôr-do-sol [...]” (Pessoa, 2006).

A sua história, intimamente ligada à capela de Nossa Senhora do Monte e S. Gens, remonta aos primeiros tempos do cristianismo na Península Ibérica. Segundo um folheto escrito em 1860, este “sítio que denominavam de S. Gens, [...] era [antigamente] muito respeitado pelo povo que o considerava sagrado, por ser ali que, segundo a tradição, o Santo prelado [S. Gens], sentado na sua cadeira nos primeiros tempos do christianismo, tanto tinha pregado a lei do Crucificado [...]” onde, ainda antes da construção da capela, já existia o culto da “cadeira daquele bispo” mártir instalada “sob um alpendre” (Leal, 1860, p. 5).

A primeira ermida que aqui se construiu, em 1148, localizava-se a meia encosta, como anexo à habitação da alguns frades Agostinhos. Na época, a capela estava sempre aberta e nela se podia adorar uma imagem de Nossa Senhora do Monte e a cadeira do Santo, muito procurada pelos devotos, “para que os livrasse de suas enfermidades e dores.” (Leal, 1860, p. 6).

No início do século XIII, D. Suzana, uma devota de São Gens, oferece os terrenos que constituíam o cabeço do Monte aos Frades Agostinhos, para que aqui construíssem uma nova casa e ermida, edificada no ano de 1243. Eles aqui abitam 28 anos, até que, em 1271, se mudam para monte vizinho, para os terrenos onde hoje encontramos o Convento de Nossa Senhora da Graça dedicada à Ordem de Santo Agostinho.

Tanto a capela como a cadeira ficaram a cargo da Irmandade de São Gens, constituída na época para esse efeito. Um século mais tarde, por volta de 1306, os Agostinhos recuperam para si a posse da ermida ficando esta a ser governada por um capelão nativo do convento da Graça.

Com o terramoto de 1755 o edifício ficou completamente arruinado. A atual ermida é uma reconstrução de 1796 segundo projeto de Honorato José Teixeira. O novo edifício, que pouco retém da sua traça original, é constituído por uma nave única de tipologia barroca, precedido por galilé simples, de planta quadrangular decorada com 9 pilares. No seu interior, encontramos um retábulo joanino em talha dourada, com a imagem de Nossa Senhora do Monte ladeada por Santo Agostinho e São Gens, quatro painéis de azulejo de estilo rococó com cenas da vida de Maria, um Cristo em marfim indo-português e um fabuloso presépio com peças datadas do século XVIII  e XIX – além da célebre cadeira de São Gens, talhada na rocha e revestida com mármore, ainda hoje muito procurada por mulheres grávidas por existir a crença que se aqui se sentarem terão uma "boa e curta hora", ou seja um parto facilitado.

A primeira referência a um espaço ajardinado no largo do monte, onde se situa a capela e o miradouro, data de 1815 quando os religiosos Agostinhos “plantaram no largo o arvoredo que ali se vê, para deleite dos habitantes, e commodo dos devotos [...]” (Leal, 1860, p. 8). Atualmente, o elenco florístico inclui exemplares de cipreste, oliveira e pinheiro-manso, que proporcionam belas sombras a todos aqueles que veem ao miradouro disfrutar da paisagem e se sentam num dos muitos bancos e podem daí aproveitar a vista para as colinas poente de Lisboa.

A vista do miradouro é particularmente famosa ao pôr do Sol, quando a luz dourada se reflete nos edifícios antigos do centro histórico de Lisboa. Daqui avista-se desde o miradouro da Graça com o Castelo de São Jorge e o Rio Tejo logo atrás, passando pela Baixa de Lisboa, a colina de São Roque com as ruínas do Convento Carmo e as zonas antigas e intimistas da Colina do Castelo e da Mouraria, até à Lisboa contemporânea, para Norte, constituída por pela silhueta dos grandes prédios de construção mais recente. Para orientação dos visitantes foi colocado no início dos anos sessenta do século XX, um painel de azulejos indicativo dos principais pontos turísticos que dali se conseguem avistar e “serve de guia a quem disfruta da paisagem urbana em que a história se funde com o pulsar de uma cidade contemporânea.”(jf-saovicente.pt).

No espaço do miradouro encontra-se ainda uma imagem de Nossa Senhora de Fátima datada dos anos oitenta do século XX, e, numa parede velha ao lado da capela, uns azulejos azuis e brancos que evocam a história dos descobrimentos com os seguintes dizeres “Boa viagem. Lisboa espera por ti”.

O miradouro, bem como grande parte da encosta encontra-se incluído na área de proteção da capela de Nossa Senhora do Monte, considerada Imóvel de Interesse Público, desde 1933, segundo o Decreto n.º 23 421, DG, 1.ª série, n.º 296, de 28 dezembro. A Zona Especial de Proteção na qual se inclui o miradouro, foi decretada em 1960, segundo a Portaria da Direção Geral, 2.ª série, n.º 4, de 06 janeiro.

Texto de Inventário: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.