Jardim Boto Machado / Jardim de Santa Clara

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Jardim Boto Machado / Jardim de Santa Clara

O Jardim de Santa Clara, entretanto batizado de Jardim Botto Machado, em homenagem ao diplomata e político republicano (1865-1924), é um parque público com localização privilegiada no cimo de uma das colinas da cidade de Lisboa. Insere-se no campo de Santa Clara, na Freguesia de São Vicente de Fora, perto do Panteão Nacional, também conhecido como Igreja de Santa Engrácia, e do Mosteiro de São Vicente de Fora, dois ícones monumentais da história de Portugal. Encontra-se no velho coração da cidade, isto é, perto da Baixa Pombalina, da Mouraria e de Alfama.

A história do Campo de Santa Clara, da qual o jardim faz parte, remonta à conquista da cidade de Lisboa aos Mouros por D. Afonso Henriques (1139-1185), em 1147, pois por ser uma área plana no topo da colina, foi este o local onde o monarca e as suas tropas acamparam antes da grande vitória. Nesse mesmo ano é lançada a primeira pedra do Mosteiro de São Vicente de Fora, em cumprimento da promessa de D. Afonso Henriques ao Mártir São Vicente (Vicente de Saragoça, Século IV) que lhe dedicaria uma igreja caso conseguisse conquistar Lisboa aos infiéis. Por esta altura o Campo de Santa Clara era, como o próprio nome indica, um campo aberto fora dos limites da cidade de Lisboa. 

Devido à sua condição de ermo pouco povoado, veio a tornar-se, o Campo, num local de sentenciamento e execução de penas tornando-se conhecido pelo nome de “Campo da Forca”. Em 1288, já sob o domínio de D. Dinis (1279-1325), acolheu, o Campo, na sua parte oriental o Mosteiro de Santa Clara, do qual provém o seu atual nome. Este convento surgiu por esforço de várias senhoras viúvas, que por serem cultas senhoras da nobreza, passaram a estudar e a ensinar literatura, línguas, música, arte decorativas, desenho, pintura e até mesmo culinária e bordados às noviças que e irmãs que viviam no convento.

Por volta do séc. XVI as atividades artísticas desenvolvidas no Convento de Santa Clara por parte das religiosas atraíram aos seus domínios a Infanta D. Maria (1521-1577), filha de D. Manuel I (1485-1521), que passou a frequentar assiduamente o espaço. Com as visitas frequentes ao local, D. Maria acabou por eleger este local para a construção dos seus Paços e para a edificação da Igreja Paroquial de Santa Engrácia em 1577. 

Em 1677, o Campo da Santa Clara recebe também a construção do Colégio de São Francisco Xavier pela Companhia de Jesus, por um legado de Jorge Fernandes de Villa Nova, que se mantém em funções até à expulsão dos religiosos de Portugal, e em 1797 acolhe nas suas instalações o Hospital da Real Armada.  

A partir do séc. XVII e durante o séc. XVIII o campo de Santa Clara ganha popularidade entre a nobreza Portuguesa e instalam-se aqui várias edificações com características palacianas, ainda presentes nas imediações do jardim. Destaca-se o Palácio dos Condes de Barcarena (1740), atual Messe dos Oficiais do Exército, o Palácio dos Marqueses do Lavradio (1748), sob tutela do Ministério da Defesa Nacional, o Palácio dos Condes de Resende (c. 1754), atual casão militar e o Palácio dos Condes de Sinel de Cordes (c. 1760’s), atual edifício da trienal de Lisboa.

Através de cartografia histórica é sabido que em 1780 nenhum jardim tinha ainda sido construído no local do atual Jardim Botto Machado, sendo o espaço ocupado por um terreiro aberto sustentado por um muro.  A primeira referência a um jardim nesta localização surge na cartografia de Filipe Folque, c. 1856-58, materializado numa sucessão de canteiros paralelos de traçado retilíneo com direção sudoeste. Pensa-se que este terá sido o primeiro ajardinamento do local, impulsionado pela grande afluência de famílias nobres a habitar o Campo de Santa Clara.  

Em 1862 é inaugurado um jardim de influência romântica à semelhança do Passeio Público (reaberto c. 1852 - atual avenida da Liberdade) onde o Rei D. Fernando e a Família Real costumavam passear ao ar livre, iniciando uma nova moda de fruição de espaços públicos ajardinados.

Em 1877 é inaugurado o Mercado de Santa Clara logo acima do jardim, obra do Engenheiro Emiliano Augusto de Bettencourt, destinado à venda de frutas e legumes e produtos frescos, considerado hoje em dia o único e o último dos exemplares da época de ouro da Arquitetura do Ferro em Lisboa.

Ao longo dos anos o jardim foi sofrendo várias modificações, incluindo pequenas restruturações, tendo passado para posse municipal em 1927. Em 2009, após vários anos deixado ao abandono, o jardim foi alvo de obras de reabilitação, na qual foram reparados os pavimentos, o mobiliário urbano e substituídos alguns candeeiros.  

Em 2016, o seu muro de suporte recebeu um mural de azulejos pintados à mão pelo artista luso-francês Monsieur André. O extenso mural propõe uma “reinterpretação” da cidade de Lisboa, onde o passado e o presente se misturam sob o pano de fundo em tons de branco e azul, representativos do céu e do rio Tejo.

Atualmente o jardim é composto por sete canteiros ajardinados de inspiração romântica, onde predomina a vegetação arbórea, com vários exemplares de Celtis australis, Jacarandás, e várias palmeiras. Dispõe ainda de um parque infantil e um quiosque com esplanada, aberto todos os dias com um menu variado de refeições ligeiras. No Verão, o quiosque oferece regularmente uma programação de concertos e ciclos de cinema ao ar livre o que atrai uma grande população ao jardim.

Desde 2016 que se realiza todos os sábados um mercado de legumes e fruta biológica organizado pela cooperativa Agrobio.

O jardim é ainda conhecido por ser vizinho da feira da ladra que se transferiu definitivamente para o Campo de Santa Clara no século XIX, um mercado de velharias que acontece todas as terças e sábados e que se tornou já um ponto turístico obrigatório da cidade de Lisboa.

 

Texto: Nídia Fernandes – 2015; Sandra Neto – 2015; Sónia Santos – 2015.

Adaptação: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.

Jardim Boto Machado / Jardim de Santa Clara

(Consultada em Marco de 2020)
ALMEIDA, Abel F. – Campo de Santa Clara: sua envolvente. Albergaria dos Doze: Quilaté gráfica, 2009.
ALMEIDA, D. Fernando de. – Monumentos e Edíficios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa: Junta distrital, 1975.
SEROL, Maria Elisabete Gromicho. – O campo de Santa Clara, em Lisboa: cidade, história e memória: um roteiro cultural. Lisboa: Universidade Aberta, 2012. Dissertação de Mestrado.
SOUSA, António Ribeiro da Silva. – O Campo de Santa Clara. Lisboa: Amigos de Lisboa, 1940.
http://www.jf-saovicente.pt/frontoffice/pages/591?poi_id=70

Campo de Santa Clara