Claustro do Convento do Bom Sucesso
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Claustro do Convento do Bom Sucesso
A quinta de Pedrouços, mesmo junto da praia do Bom Sucesso em Belém, pertencia à condessa da Atalaia, D. Iria de Brito, que, em 1628, a doa a um convento. Sendo necessária autorização régia, D. Iria de Brito pede a interferência do dominicano irlandês Daniel O’Daly (Dominic of the Rosary) junto do rei Filipe III de Portugal, que autoriza a construção do convento em 1639 em troca do apoio das tropas irlandesas para reforçar o exército espanhol contra a Flandres.
Foi, então, ali edificado, entre 1639 e 1670, o Convento do Bom Sucesso (colegiobomsucesso.pt), rodeado pela quinta composta por latadas, formando quadrados, onde se cultivava a horta e o pomar, ao fundo das quais se situavam fontes. Os esteios das latadas ainda se encontram no convento, bem como as fontes e cruzeiros a rematar os eixos do recreio do atual Colégio do Bom Sucesso.
O Convento do Bom Sucesso foi erigido com o objetivo de acolher religiosas refugiadas da Irlanda em Portugal, por motivo de perseguição das forças protestantes, tornando-se no primeiro convento feminino de dominicanas irlandesas no mundo (colegiobomsucesso.pt). Em 1834, com a expulsão das ordens religiosas, as irmãs foram obrigadas a deixar o convento, conseguindo, no entanto, retomar as suas atividades religiosas, após algumas semanas, através da intercessão do rei, pela função educativa para as alunas internas que o convento acolhia (colegiobomsucesso.pt).
Em 1910, com a implantação da República, as irmãs voltaram a ter de abandonar o convento, altura em que muitos documentos (monumentos.pt) do tombo foram queimados pela madre prioresa e outros desapareceram, mas, mais uma vez, sob o pretexto de se tratar de uma instituição de ensino, regressaram e reabriram o convento. Em 1955, o Colégio do Bom Sucesso, nas instalações do convento, deixa de ser exclusivamente interno para passar a externo, assim se mantendo até aos dias de hoje.
Ao entrar no claustro destacam-se, em simultâneo, a fonte e o pináculo da torre da igreja, ambos recobertos por azulejos azuis e brancos em ziguezague. A bacia da fonte central é revestida por estes azulejos, criando uma unidade de materiais que se reflete no padrão azulejar (branco e de faixa simples azul) das arcarias do claustro.
Em 2010 o Claustro do Convento do Bom Sucesso integra o projeto de «Recuperação de Estruturas Hidráulicas, Muros e Pavimentos em Jardins» desenvolvido no âmbito do EEA Grants, sob a coordenação da Associação Portuguesa dos Jardins e Sítios Históricos (atual APJH) e foram recuperados os pavimentos do claustro, a drenagem, os canteiros, os repuxos e o antigo sistema hidráulico do lago.
A partir dos documentos fornecidos pelas irmãs do convento, verificou-se que a água originalmente provinha de uma mina alimentada por duas nascentes situada em Vila Correia, atualmente uma área de viveiros da Câmara Municipal de Lisboa, e visitou-se o local, a 200 metros do convento. A mina encontra-se adossada a um muro de suporte, à qual se acede através de degraus que levam a um poço redondo construído em tijolo. O nível da água é baixo, mas a humidade no poço e a presença da água foi confirmada, permitindo perceber a facilidade com que se podia, a partir daquele ponto, fazer chegar a água por gravidade ao convento. Pode ser esta ou outra a mina referida nos documentos do convento, certo é que há nascentes naturais nesta encosta basáltica de Monsanto e que a quinta da condessa da Atalaia era alimentada por água, vinda desta encosta.
Para o lago convergiam o repuxo central e oito laterais nos vértices que se encontravam inativos e desaparecidos. Dispostos entre cada uma das pedras de bordadura do lago e a chacota dos azulejos, alimentados por um anel de tubos de chumbo que foi identificado na prospecção, estes repuxos são semelhantes aos que existem no Pátio das Acequias, no Alhambra, em Granada, relação que faz algum sentido pois Portugal era nessa altura uma província de Espanha.
O repuxo central, de traço renascentista, em alabastro, sai da taça de mármore trabalhado que assenta num pé alto. Ao centro existe uma peça de tubagem em cobre, muito peculiar que, com a pressão da água se move em círculos, espalhando-a por todo o lago.
O efeito após o restauro foi surpreendente, pois a água e os azulejos criam brilhos e cores em movimento que animam o espaço. A luminosidade introduzida pela pedra branca, a frescura e o barulho da água a sair dos repuxos deram nova vida ao claustro que mantendo a sua traça antiga e as suas trepadeiras de buganvílias ganhou vida e beleza.
Em 1997 o convento foi classificado como Imóvel de Interesse Público (Decreto-Lei n.º 67/97 de 31 de Dezembro), destacando-se do conjunto a igreja de planta octogonal e o claustro.
Texto de Inventário: Inês Fontes – 2010.
Adaptação: Margarida Pais – 2020.
Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.
Claustro do Convento do Bom Sucesso
(Consultada em 2010 e Maio de 2020)
CARITA, Hélder; CARDOSO, António Homem – Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal : ou da originalidade e desaires desta Arte. [S. l.] : Edição dos Autores, 1987. pp. 284.
FAIZ, Mohamed El – Jardin du Maroc: Jardin du Maroc, d’Espagne et du Portugal. Paris: Actes Sud, 2003.
http://www.acbpaisagem.com/projectos/jardins-historicos/claustro-do-convento-do-bom-sucesso.htm http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/convento-de-nossa-senhora-do-bom-sucesso
https://www.colegiobomsucesso.pt/historia-do-colegio/
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J71&qid=sdx_q18
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5851
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74577/