Palácio Burnay

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Palácio Burnay

O Jardim do Palácio Burnay, sobre a estrada que leva de Alcântara a Belém, tinha uma vista privilegiada sobre o rio Tejo e marca como residência monumental a freguesia de Alcântara.

As denominações porque foi conhecido – Palácio da Junqueira, Palácio dos Patriarcas e Palácio Burnay – revelam as várias vivências deste espaço ao longo da história desde o clero, a nobreza e a burguesia (Vairo, 2003). A rua da Junqueira, onde se localiza, é um local que muito seduzia as famílias fidalgas, principalmente a partir de meados do século XVIII, pela sua proximidade privilegiada ao Tejo na época. A construção do aterro no século XIX diminuiu a beleza do lugar. A construção do caminho de ferro, vias de circulação e a construção de edifícios de ambos os lados da rua da Junqueira, ofuscaram a amplitude e a beleza das vistas possíveis de contemplar e usufruir, à data da construção do palácio e seus jardins.

No início do século XVIII, José João Bernardo Lourenço César de Meneses, principal da Igreja Patriarcal de Lisboa, filho de Luís César de Meneses (1653-1720) alcaide-mor de Alenquer e governador do Brasil entre 1705 e 1710, fez erguer o palácio, em terrenos que comprou a D. João de Saldanha e Albuquerque, na rua da Junqueira (Queiroz, 2013).  Em 1727, este palácio encontrava-se representado numa gravura com uma vista sobre a Junqueira, exibindo um corpo central e quatro torreões nos ângulos, com coruchéus a rematar (Figueiredo, 2007) e, em 1734, o seu proprietário deu ordem para a construção dos jardins.

Após a sua morte e após o terramoto de 1755, os seus descendentes venderam esta propriedade à Mitra Patriarcal de Lisboa, para residência de verão do terceiro Patriarca de Lisboa, Francisco de Saldanha da Gama (1713 - 1776), assumindo a partir desse momento a denominação de Palácio dos Patriarcas, até à data de 1818 em que se instalou o Seminário de São João Batista (Queiroz, 2013).

O proprietário seguinte foi Manuel António da Fonseca Costa (1803-1890), um abastado burguês brasileiro, que terá encomendado a construção dos quatro torreões ainda existentes, que conferiu ao edifício características de palacete burguês oitocentista (Vairo, 2003).

Em 1880 o palácio é vendido a Henrique Burnay, um banqueiro que desempenhou um relevante papel na economia da sociedade portuguesa, mais tarde agraciado com o título de Conde de Burnay, conhecido na imprensa da época por "O Senhor Milhão". A escolha do palácio da Junqueira justifica-se pelo desejo de ostentar o seu prestígio social e económico, alcançado pelas suas inúmeras atividades financeiras que permitiu realizar luxuosas modificações ao edifício (Vairo, 2003), devendo-se ao Conde de Burnay a configuração atual, depois das imponentes obras de restauro e ampliação conduzidas de acordo com o projeto do arquiteto Nicola Bigaglia (1841-1908), com uma imponente decoração interior e a exibição de uma assinalável coleção de obras de arte e mobiliário, tornando-se o palácio Burnay num espaço ímpar para a época (Queiroz, 2013).

Após o falecimento da sua esposa D. Amelia Krus, condessa de Burnay, em 1936, o interior do imóvel foi vendido em leilão, e o palácio foi posteriormente adquirido pelo governo português, em 1940, para receber o Ministério das Colónias (Queiroz, 2013). Em 1944, recebe também o Conselho Superior do Império Colonial, o Conselho Técnico de Fomento Colonial, a Junta das Missões Geográficas e a Inspeção Superior de Administração Colonial.

Em 1974 neste palácio instala-se o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e o Instituto de Investigação Científica Tropical. Durante este período o edifício foi adaptado pelo arquiteto José Luís Amorim (1924-1999) perdendo-se os pátios ajardinados que passaram a dois pátios funcionais no piso inferior, em 1979. (Figueiredo,2007; Gomes & Vale, 1994). A partir de 2005 o Palácio Burnay, acolheu os Serviços de Ação Social da Universidade Técnica de Lisboa e posteriormente da Universidade de Lisboa. Atualmente está sob a tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Hoje em dia o palácio caracteriza-se por uma arquitetura eclética, mas harmoniosa devido à simetria dos diversos elementos. O palácio apresenta uma planta retangular, com um corpo central de dois pisos, duas alas divididas por dois pátios com acesso para o jardim pelas traseiras e um original mirante oitavado. Nos jardins, duas estufas de ferro e vidro exibem o melhor gosto romântico e a prática da época que privilegia as mais notáveis coleções de plantas exóticas (Figueiredo, 2007; Gomes & Vale, 1994).

O jardim tem uma área de cerca de um hectare, mas infelizmente desconhece-se a sua autoria, no entanto através de cartografia histórica, identificam-se duas épocas diferenciadas, com traçados representativos da estética barroca e posteriormente do jardim paisagista inglês. Atualmente, possui caminhos sinuosos, que delimitam áreas relvadas por onde se distribuem plantas exóticas, que se articulam com um elemento de água central, um grotto, vários elementos de estatuária mitológica e outros três elementos de água.

Segundo o levantamento arbóreo do jardim do Palácio Burnay, realizado em 2014 no âmbito do projeto LX Gardens (CEABN-inBio/ISA/ULisboa), foram inventariadas 171 árvores correspondentes a uma diversidade de 50 espécies e 32 famílias diferentes.

No que diz respeito à origem, 88 % são espécies introduzidas (155 árvores), 8 % são espécies espontâneas de Portugal continental (12 árvores) e 4 % são espécies invasoras. Escolhemos destacar neste jardim as espécies que se encontram contempladas na lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN. Com o estatuto de espécie “em perigo” temos o Chrysophyllum imperial (Linden ex K.Koch & Fintelm.) Benth. & Hook.f. e a Ginkgo biloba L. Com o estatuto de espécie “vulnerável” temos: Howea forsteriana (F.Muell.) Becc., Encephalartos altensteinii Lehm., Jacaranda mimosifolia D.Don, e a Dracaena draco (L.) L. subsp. caboverdeana Marrero Rodr. & R.Almeida. E por fim as espécies com o estatuto de “quase ameaçada” temos: Apollonias barbujana (Cav.) Bornm., Washingtonia filifera (Linden ex André) H.Wendl. ex de Bary, Cupressus lusitanica Mill. var. lusitanica, e o Platycladus orientalis (L.) Franco.

O jardim do palácio Burnay é assim um mostruário do colecionismo de plantas exóticas que se verificou com muito sucesso em Portugal durante o séc. XIX e cujos exemplares se podem ainda admirar.

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 28/82, DR, 1.ª série, n.º 47 de 26 fevereiro 1982 / ZEP, Portaria n.º 39/96, DR, 1.ª série-B, n.º 37 de 13 fevereiro 1996 *1.

Texto de Inventário: Ana Luísa Soares – 2020; Maria José Cachaço – 2020; Ana Raquel Cunha – 2020.

Adaptação: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.

Palácio Burnay

CML (2010). Relatório síntese de Caracterização Biofísica de Lisboa no âmbito da Revisão do Plano Diretor Municipal de Lisboa [em linha]. In CML – Câmara Municipal de Lisboa. Lisboa: CML [Consult. 2014]. Disponível na WWW: http://www.cm-lisboa.pt/fileadmin/VIVER/Urbanismo/urbanismo/planeamento/pdm/docs/revisao/estudos/Relatorio_sintese_Caracterizacao_Biofisica.pdf>.
CML (2016). Palácio Burnay (em linha). In Câmara Municipal de Lisboa – Equipamentos. Disponível na WWW: http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/palacio-burnay
ESTADÃO, L. (2005). Jardim do Palácio Burnay (em linha). In Sistema de Informação para o Património Arquitetónico – Forte de Sacavém. Disponível na WWW: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=23930
QUEIROZ, M. R. M. R. – O Arquiteto Mateus Vicente de Oliveira (1706-1785). Uma Práxis original na Arquitetura Portuguesa Setecentista. Lisboa: Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, 2013. Tese de Doutoramento em Belas Artes na especialidade de Ciências da Arte (não publicada).
RELATÓRIO SÍNTESE de Caracterização Biofísica de Lisboa no âmbito da Revisão do Plano Diretor Municipal de Lisboa [em linha]. Lisboa: CML – Câmara Municipal de Lisboa, 2010 [Consult. 2014]. Disponível em WWW: http://www.cm-lisboa.pt/fileadmin/VIVER/Urbanismo/urbanismo/planeamento/pdm/docs/revisao/estudos/Relatorio_sintese_Caracterizacao_Biofisica.pdf>.
SOCIEDADE dos Arquitetos Portugueses – Anuário da Sociedade dos Arquitetos Portugueses, 1907-1908. Lisboa: Sociedade dos Arquitetos Portugueses, 1905-1910.
FIGUEIREDO, P. (2007); Gomes, C. & Vale, T. (1994). Palácio Burnay / Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa (em linha). In Sistema de Informação para o Património Arquitetónico – Forte de Sacavém. Disponível na WWW: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6535
VAIRO, G. R. – Origem e formação da Coleção Burnay, In Catálogo – Henri Burnay - de banqueiro a colecionador. Lisboa: C.M.D.A.G, 2003.
[FONTES] Arquivo Fotográfico de Lisboa, Biblioteca de Arte da Gulbenkian, Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Rua da Junqueira 86