Jardim das Damas

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Jardim das Damas

O jardim das Damas localiza-se junto à fachada Norte do Palácio da Ajuda, em Lisboa, e é por isso um espaço inacessível do exterior, murado e reservado à família real, o qual se distingue por ter um mirante. O jardim, de conceção barroca, ocupa uma área de c. 0,7ha distribuída em duas plataformas, solucionando assim o acentuado desnível do terreno.  O jardim foi construído antes do palácio e por isso a vista para o Tejo perdeu-se parcialmente, tapada pelo próprio Palácio da Ajuda. Uma bonita vista pode ser disfrutada a partir do mirante localizado no seu extremo poente, de onde se pode observar a cidade e o rio Tejo, desde a encosta do Jardim botânico da Ajuda até Belém.

O núcleo populacional da Ajuda, onde o palácio e o jardim se localizam, terá surgido durante o século XV com o aparecimento de romarias à Senhora Aparecida que passou a ser conhecida por Nossa Senhora da Ajuda, criando assim o topónimo. Em 1726, D. João V agrada-se do local e adquire as quintas do Conde de Óbidos, dos condes de Aveiras e dos condes da Calheta, e, no ano seguinte, a Quinta da Praia dos Condes de São Lourenço.

Com o terramoto de 1755, a família Real muda-se para Belém e D. José “protesta nunca mais habitar casas de pedra e cal”. No alto da Ajuda, a Nascente do palácio que fora dos Condes de Óbidos, ergue-se então o real abarracamento que fica concluído em 1761.  O paço tinha um pavimento térreo e um sobrado (primeiro andar), e era um vasto barracão sem qualquer decoração. Do lado Norte encontrava-se a Portaria das Damas, que ligava ao jardim das Damas construído de seguida: uma varanda para o Tejo em socalcos e murado em pedra e cal. Foi neste aglomerado de construções provisórias que a corte viveu durante vinte e dois anos e nele se construíram os dois jardins: o Botânico para o estudo dos príncipes e o das Damas.

A Real Barraca, como muitos chamavam ao Paço de Madeira sofre um grande incêndio em 1794 do qual só sobraria a Biblioteca e a Igreja. O jardim das Damas fica assim ao abandono após o incêndio, quando se decide edificar um novo palácio régio que desse continuidade à Real Barraca. Em Julho de 1795, D. João VI, ainda como Príncipe Real de Portugal, Brasil e Algarves, assiste ao lançamento da primeira pedra. No segundo terço do século já se lamentava o abandono do palácio tão custosamente edificado e seria D. Luís a voltar a escolher a Ajuda para residência definitiva.

O palácio da Ajuda que D. Luís escolhera para sua residência e que D. Maria Pia, sua esposa, deu uma “reverbação” particular, centrou neste período de 1862 a 1888, toda a vida cortesã, aquando não faltaram festas que as ocasiões solenes tornavam obrigatórias. É então que o palácio atinge a dimensão do passo Real. O jardim das Damas, que segundo o projeto do palácio da Ajuda devia ser demolido para dar lugar a uma monumental praça de entrada, não chegou a ser derrubado por falta de verbas para acabar as obras e foi adaptado a horta e pomar ao qual se acedia por um passadiço que partia da ala Oeste do palácio. Este jardim não estava englobado nos planos do Palácio, e é por isso uma memória que ficou da Real Barraca.

Com o falecimento de D. Luís, a 19 de Outubro de 1888, o palácio da Ajuda volta a ser preterido pelos outros palácios, esvaziando-se definitivamente como habitação real, em 1910, quando D. Maria Pia é obrigada a abandonar Portugal no seguimento da declaração da República. Na época, o jardim é novamente abandonado e ocupado por hortas arrendadas, oficinas e estaleiros, como testemunham diversas fotografias de época, e chega à década de 80 como depósito de cantarias e estaleiro das obras do Palácio Nacional da Ajuda, sob tutela do IPPC, IGESPAR, agora Direção Geral do Património Cultural.

A recuperação do jardim inicia-se em 1987 com a elaboração de um projeto de restauro sob a direção de uma equipa multidisciplinar composta pelos historiadores Graça Mendes Pinto e Francisco Louro, pelos arqueólogos Carlos Jorge Ferreira e Ana Nunes, pelos arquitetos paisagistas Mário Fortes e Rita Gonçalves e pela arquiteta Elsa Duarte, que vieram dar-lhe nova vida.

O jardim, de planta irregular, apresenta um desenho formal estruturado ao longo de duas plataformas, com canteiros de traçado geométrico organizados em eixos perpendiculares.  Na plataforma superior encontra-se um lago de planta circular com uma fonte ao centro, em torno do qual se desenvolvem canteiros delimitados por sebes de buxo. No canto Noroeste encontra-se o mirante de onde se pode ver o bairro da Ajuda para Sul e o Tejo. No canto Este, encontra-se umas escadas em pedra calcária que dão acesso à plataforma inferior, em frente das quais se destaca uma pequena cascata revestida a rocaille.

A plataforma inferior é confinada por um muro que se abre no limite Sul com uma balaustrada em pedra calcária. Destacam-se neste tabuleiro, um tanque de forma oval no limite Este, o jardim de buxo formal de desenho geométrico, e dois alinhamentos de magnólias e plátanos que acompanham os caminhos periféricos. Junto à balaustrada destaca-se a cascata em pedra irregular, ladeada por duas escadarias em pedra calcária que dão acesso à base do muro que suporta o jardim.

A ligação entre as várias plataformas e o mirante é feita através “de caminhos de degraus rampeados em tijolo com canteiros rebaixados, que se desenvolvem adjacentemente aos muros limítrofes” (monumentos.pt). Apesar de o jardim se desenvolver à cota do andar nobre do palácio, os dois encontram-se fisicamente separados por um fosso que dificulta o acesso a partir do paço. Quatro outras entradas permitem a entrada a partir da Calçada do Mirante e Calçada da Ajuda.

Não é demais realçar que o que define bem este jardim e lhe confere grande valor patrimonial é a grande qualidade e quantidade de elementos construídos que ele contém, que incluem escadarias, jaulas, um conjunto de peças de água, três cascatas e diversos elementos escultóricos de interesse, dos quais se destaca a fonte do piso intermédio decorada com delfins e carrancas que evocam monstros e animais imaginários e a cascata trabalhada com desenhos em tijolo e basalto.

Classificado em conjunto com o palácio atualmente considerado Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 33 587, DG, 1.ª série, n.º 63 de 27 março 1944 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 253 de 29 outubro 1959.

Texto de inventário: João Henrique Silva – 1994; Sofia Castelo – 1994.

Adaptação: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.

Jardim das Damas

(Consulta em 1994 e Abril de 2020)

CANCIO, Francisco – O paço da Ajuda. Coimbra: Instituto de Coimbra e do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, 1955.

CARVALHO, Ayres de – Os três Arquitectos da Ajuda. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1979.

FORTES, Mário – Estudo Prévio do Jardim das Damas: Programa de recuperação de jardins históricos. Lisboa: IPPC-APAP, 1988.

SEQUEIRA, Gustavo de M. – O Palácio Nacional da Ajuda: resenha histórica. Lisboa: ed. Ramos Afonso de Moita Lda, 1961.

http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5963

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/en/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72758

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/itinerarios/jardins-da-cultura/palacio-nacional-da-ajuda-o-jardim-das-damas

Calçada da Ajuda / Calçada do Mirante