Cerca do Convento da Penha Longa
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Cerca do Convento da Penha Longa
Com os seus cerca de 220 hectares, a Quinta da Penha da Longa, localizada no sopé sudeste da Serra de Sintra, faz parte da área administrativa do Parque Natural de Sintra-Cascais. É considerada um dos mais velhos mosteiros de Portugal, tendo sido fundado em 1355 pela Ordem de São Jerónimo. No século XVI a sua ala esquerda serviu de Hospedaria ao Rei Manuel I. Hoje em dia é um dos maiores Resort da Europa e inclui um hotel de cinco estrelas, vários restaurantes, dois campos de golfe e um SPA. Para além disto, a Penha Longa conserva ainda uma grande riqueza patrimonial, cultural e paisagística materializada no mosteiro histórico cujo edifício renascentista remonta ao século XVI, um Palácio e vários jardins históricos únicos. Da construção anterior, de estilo Manuelino, conserva ainda um claustro e um pequeno pórtico de dois arcos, que datam de 1540.
A sua história inicia-se durante o reinado de D. Afonso IV, quando Frei Vasco Martins e os seus seguidores chegam a Portugal e fixam-se no vale da Penha Longa na Serra de Sintra. Aproveitando a existência de uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Piedade, Frei Vasco Martins manda construir ali as primeiras celas e começa uma vida de retiro e devoção, que iria resultar na fundação do primeiro espaço da Ordem de São Jerónimo na Península Ibérica, em 1373.
Em 1390 é efetuada a escritura de compra dos terrenos, onde viria a ser construído o Mosteiro de São Jerónimo da Penha Longa. As obras, dirigidas pelo arquiteto régio mestre Gil de Sousa, foram patrocinadas por D. João I e estenderam-se até 1400.
Em 1439, D. Pedro, regente do reino durante a menoridade do rei D. Afonso V, dá indicações para que se fizesse a demarcação do couto de caça conventual, confirmado mais tarde pelos posteriores monarcas. No século XV, a propriedade era chamada de ‘terras de pão’ e era composta por grandes campos cerealíferos e vinhas. A rega, tão necessária ao cultivo dos frescos, era assegurada por um sistema hidráulico que captava água na serra de Sintra e a distribuía pela Quinta e Mosteiro.
Já século XVI, durante o reinado de D. Manuel I (1469 –1521), é construído um pequeno palácio junto ao mosteiro, conhecido como as hospedarias, preparado para acolher a família Real e a corte. D. João III (1502–1557), seu sucessor, dá seguimento às obras e manda construir o claustro e o jardim de Núncio. Em 1576 o Cardeal D. Henrique (1512 – 1580), irmão mais novo de D. João III, fez deste convento residência real mais uma vez, remodelando o refeitório e criando o denominado "Jardim do Cardeal".
Em 1620, os monges do Mosteiro da Penha Longa escrevem ao rei, na época Felipe II de Portugal, a pedir os meios necessários para recuperar as obras impulsionadas pelos seus antecessores (as casas, hospedarias e fontes), que por essa altura já apresentavam graves sinais de degradação. O pedido é apenas atendido no último quartel do século XVII, por D. Pedro II que manda reedificar as hospedarias e constrói novos edifícios, como as cavalariças e edifícios de suporte à caça. Após o terramoto de 1755 são feitas novas reparações.
Em 1834, dá-se a extinção das ordens religiosas em Portugal e a Quinta da Penha Longa é então posta em praça pública e adquirida pelo Marquês de Saldanha. Em 1842 é vendida e passa a pertencer à firma C.D. & A.H. Lindenberg, sendo o seu proprietário Alfredo Lindenberg. Em 1850 a quinta é penhorada e posta novamente em praça pública, sendo então adquirida pela firma Bessone&Barbosas. O proprietário Tomás Maria Bessone mandou então reconstruir a igreja e recuperar o jardim de Núncio, o palácio e as hospedarias, utilizando estas últimas para albergar os convidados das festas que dava na quinta que utilizava como lugar de repouso e recreio. Em 1987, a empresa japonesa AOKI Corporation investe na compra da Quinta da Penha Longa à família Correia de Campos e manda cortar o eucaliptal que cobria grande parte dos 67 hectares da quinta. Em seu lugar, manda construir dois campos de golfe, um primeiro em 1992 e um segundo em 1995. Em 2013, a quinta é adquirida pelo Deutshe Bank, que ainda hoje é seu proprietário.
Hoje em dia, a par de um Hotel de luxo, ainda podemos encontrar um mosteiro, um palácio e um conjunto de jardins históricos únicos. O Jardim de Adens, situado à frente do palácio, desenvolve-se à volta de um grande tanque central de pedra. Na sua origem está a palavra Adens significa pato-real, e refere-se ao ancestral dos patos domésticos, tidos por simbolizar a felicidade e as almas bem-aventuradas. Patos esses que nadavam no grande tanque central do jardim já no tempo do Cardeal D. Henrique, o último monarca a viver nas Hospedarias da Penha Longa (Azambuja, 2009, p. 337).
São poucos os vestígios que restam do traçado original deste jardim oriundo do Séc. XVI, destacando-se o relógio de sol composto por um painel de azulejo. A descrição mais antiga do jardim remonta a Frei Bautista de Castro que o descreve como um “Páteo lajeado em forma quadrangular, cujos muros conferiam a este espaço "um prolongamento do universo interior do mosteiro" (Silva, 1999, p.50). Onde através das descrições encontradas se pode imaginar o quão magnifico seria este claustro.
Frei Bautista de Castro continua “Tem no meyo hum grande tanque em que andão as adens de 72 palmos de comprimento e 80 de largo" (Castro, 1746, fl. 395) o que pressupõe que o tanque seria maior do que o atual. Junto ao tanque ainda hoje atravessa um afluente encanado proveniente da Ribeira do Linhó.
O pavimento era constituído por lajes e junto a cada parede encontravam-se "26 alegretes três por cada parte, e hum em cada angulo, com seus assentos de pedra" (Castro, 1746, fl. 395). Composto por uma grande diversidade de flores que brotam todo ano. No cimo de cada alegrete as paredes eram forradas com painéis de azulejados onde estavam representadas diversas cenas populares na altura: "Santa Paula correndo as estaçõens de Jerusalem [...] paizes e fontes [...] história do filho prodigo [...] entrada de Christo em Jerusalem [...] pintura antigua [...] historia da Samaritana [...] Sallamão julgando as duas molheres contendentes outro de David com Saul, outro de David triumphando do gigante Golias; e dois mais hum de cassas [...] tem estes payneis a aaltura de vinte azulejos com molduras de grotesco de obra moderna" (Castro, 1746, fl. 396).
Toda esta riqueza das peças azulejadas características do Jardim das Adens invadia e marcava a profundidade e perspetiva ditada por estas obras de arte.
Os acessos ao jardim eram feitos a partir do interior do palácio e através de dois portões gradeados. O primeiro portão foi mandado construir no Séc. XVI pelo Cardeal Rei D. Henrique e dava acesso ao seu jardim onde ainda hoje sobrevivem duas das suas três fontes originais, nomeadamente a fonte das Lágrimas "dentro de um templete de típica feição renascentista" (Silva, 1999, p. 50) e a fonte de Moisés. O segundo portão permitia o acesso à célebre fonte da Porca “a qual a agoa he admirável principalmente, para o achequador de pedra. Tem um hum tanque em que corre, muyto bem lavrado, e hum passeio cuberto de parveyral e lajado em xadres de pedras brancas e negras” (Castro, 1746, fl. 395).
Acompanhando os caminhos naturalizados que constituem a quinta, surge em direção ao sul, o Jardim de Núncio, caracterizado pelas suas linhas puras e simplicidade de desenho. Este jardim é constituído por um pátio retangular de pedra com um tanque retangular central, rodeado de muros altos coroados por ameias.
As linhas retas ditadas pelos grandes muros que Frei Manoel Baptista de Castro designa de "claustro descoberto em quadrangulo com muros em redor de altura de 15 palmos" (Castro, 1746, fl. 398), limitam e dão lugar a uma planta quadrangular murada. No cimo dos muros o autor descreve " 80 ameyas na circunferencia" em cima das quais era possível vislumbrar a mesma quantidade de globos pintados (Castro, 1746, fl, 398).
Na parede interior virada a Sul, confinante com o grande tanque é ainda hoje visível um pequeno templo em memória a S. Jerónimo, (Silva, 1999) cujo interior era ricamente decorado com uma fonte em forma de carranca de leão, "animal que tradicionalmente acompanha a representação iconográfica do Santo" (Silva, 1999, p.50). Essa água escorria para "sua taça ovada de 6 palmos mayor do que as dos lados que tem desaugadouro no tanque" (Castro, 1746, fl. 399).
Nos limites virados a oriente e ocidente, é possível visualizar nas grandes paredes, oito fontes, quatro em cada parede dispostas simetricamente entre si, somando à que está no templo de S. Jerónimo totaliza "nove fontes - número sagrado, símbolo de perfeição e da eternidade" (Silva, 1999, p.55). Cada uma devidamente decorada com embrechados em pedra e conchas pintadas. A água escoava para uma taça que se encontrava a três palmos do chão, e em seguida era conduzida para o tanque central através de canos em pedra ocultos. Em toda a periferia, alegretos junto ao muro com bancos pelas ilhargas, permitiam gozar a forma do espaço todo revestido a azulejos.
Este jardim fica afastado da zona do mosteiro e está instalado ao longo de uma linha de água que alimenta o seu lago. Ladeado por dois montes e inserido na topografia existente, o mesmo foi construído por ordem do Arcebispo Núncio Pompeu Zambiccario em 1552, durante a regência do rei D. João III. Com um carácter próprio dotado de simbolismos, o Jardim do Núncio foi propositadamente implantado numa zona onde as paredes altas que o limitam permitem grande intimidade, separando-o da paisagem envolvente.
Neste jardim está presente o gosto pela água comum ao jardim português e à sua arte, expressam-se “entrelaçando a herança árabe, a influência italiana e a celebração da Índia. Os giochi, moda do Sul de Itália, produto da sabedoria árabe e da arte de se recrear em Nápoles7, surge já no Jardim do Cardeal D. Henrique (Jardim do Núncio) na Quinta da Penha Longa, em Sintra, para onde o cardeal convidou os jovens embaixadores do Japão trazidos pelo padre jesuíta Diogo de Mesquita, em Agosto de 1584, e da qual o padre Luís de Froes dá uma detalhada descrição: «(...) Ficarão estes Senhores admirados de verem aquellas pinturas, e antiguidades, especialmente quando os levarão a hua caza d’água cheio de esgichos, que por todas as partes brotam tezos, a onde se lhe fechão as grades necessariamente se molha quem entra dentro, e não menos era para ver o Mosteiro de Perolonga, assim pela obra, e sitio, como pela frescura da horta e artificio dagua que alli tem (...)».” (Castel-Branco, 2010, p.14).
Seguindo para sul da ribeira da Penha Longa, num eixo vertical, situa-se o Jardim de São Gonçalo, inserido a meia encosta. Caracteriza-se pelo seu estilo barroco do século XVIII. O mesmo foi desenhado como espaço de repouso, oração e miradouro. A sua localização em terraço na encosta dificulta a simetria dos seus eixos. Ao centro encontra-se o tanque principal rodeado por três imponentes paredes pintadas que recolhiam as águas para regar o pomar de citrinos na sua envolvente.
Na fachada principal, virada a nordeste, existe uma capela de invocação a São Gonçalo, revestida de azulejos azuis e brancos do século XVIII, com bancos laterais e um altar com a figura de São Gonçalo em madeira. À esquerda do tanque, subindo uns degraus, encontra-se um terraço para o antigo alpendre. Os muros eram pintados com a técnica trompe l’oeil, a carmim e branco, setecentista.
Classificado como MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG, 1.ª série, n.º 136 de 23 junho 1910 (igreja) / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. PT031111050264)
Texto de Inventário: Bernardo Ávila – 2012; Débora Guerra – 2012; Patrícia Martins – 2012; Rita Lopes – 2012
Adaptação: Guida Carvalho, 2020
Revisão: Cristina Castel-Branco, 2020
Cerca do Convento da Penha Longa
(Consultada em 2012 e março de 2020)
ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa: Centro de Estudos de Urbanismo, 1962. p. 55-60, 76-77.
CARITA, Hélder; CARDOSO, António Homem – Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal: ou da originalidade e desaires desta Arte. [S. l.]: Edição dos Autores, 1987. p. 57.
CASTEL-BRANCO, Cristina. - O jardim português e a história da água nos jardins. In A água nos jardins portugueses. Lisboa, Scribe, 2010.
CASTRO, Frei Manuel Bautista. – Crónica do Máximo Doutor e Príncipe dos Patriarcas de São Jerónimo no reino de Portugal. 1746. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo nº 729.
GUIA de Portugal: Generalidades Lisboa e Arredeores I - Lisboa [S.l.] : Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. Vol. 1. p. 563-564.
JUROMENHA, Visconde de. – Cintra Pinturesca. Sintra: C.M. Sintra, 1989, pp. 115-127.
LEITE, Andreia Filipa Oliveira. - Convento da Penha Longa em Sintra: Análise e Requalificação dos Jardins. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2013. Dissertação de Mestrado.
PEREIRA, Artur D.; CARDOSO, Felipa Espírito Santo; CORREIA, Fernando Calado. – Sintra e suas Quinta. Sintra: Edição dos Autores, 1983, pp. 52-53.
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http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J87&qid=sdx_q66
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J87&qid=sdx_q66
http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/sipa.aspx?id=3054