Quinta do Ramalhão
Lisboa | Sintra
Quinta do Ramalhão
A Quinta do Ramalhão, onde funciona o colégio de São José do Ramalhão, localiza-se em São Pedro de Penaferrim, em Sintra, e foi em tempos uma antiga quinta de veraneio pertencente à família Real Portuguesa, conhecido na época como Paço Real ou Palácio do Ramalhão.
Segundo Anne Stoop, a história do Ramalhão é primeiramente registada “num documento real de 17 de dezembro de 1470, em que o rei D. Afonso V outorga a Diogo Gomes, fidalgo da sua casa e almoxarife de Sintra, «um pedaço de terra em monte maninho e bravio», pertencente à Coroa do reino. Esta doação perpétua foi feita sob a expressa condição de que tanto o donatário como os seus descendentes a desbravassem para fazer dela uma terra de pão e vinho e fornecessem «um par de bons frângãos» como pagamento de foro.” (Stoop, 1999, p. 331).
A partir de 1512, a quinta tinha vai mudando de proprietários várias vezes, primeiro o Hospital de Santo Espírito e Gafaria de Sintra, passando por várias mãos até ser adquirida por Luís Garcia Bivar, rico fidalgo e negociante, que em 1709 investe na Quinta do Ramalhão, procedendo a vários melhoramentos. O seu filho, Luís Garcia Bivar, expande a propriedade, comprando várias das terras confinantes entre 1712 e 1740. Em 1744 pede autorização ao rei D. João V para fazer um aqueduto que viria a regar as terras da quinta e alimentar as peças de água do seu jardim.
Em 1748, faz as primeiras grandes obras de enobrecimento da casa, investindo nas suas dependências no rés-do-chão, salões nobres no primeiro andar e capela, sendo da sua responsabilidade a feição longitudinal que hoje a casa nobre apresenta. Segundo Anne Stoop, será também desta época o famoso Arco do Ramalhão, com aparelho de pedra idêntica à de alguns arcos do Aqueduto das Águas Livres, construído para atravessar a então recém construída estrada de Mafra, que D. João V manda construir por ocasião da construção do Palácio-Convento de Mafra.
A viúva de Luís Bivar vende a propriedade em hasta pública, em 1768, a Mª da Encarnação Correia, riquíssima viúva de José Dias da Cunha, que valoriza a propriedade adquirindo mais terrenos vizinhos, e manda colocar um painel de azulejos com Nossa Senhora Conceição e São Brás no exterior da capela. Segundo Anne Stoop, terá sido provavelmente ela a mandar construir “a bela colunata de pedra que suporta a enorme varanda que borda os salões, onde William Beckford virá, alguns anos mais tarde, a admirar a vista até ao mar” (Stoop, 1999).
Em 1784, a Quinta é herdada pela sua filha, Ana Joaquina Inácia, casada com José Street Arriaga, que em 1788 empresta o Ramalhão a William Beckford, que vem a Lisboa “acompanhado de um numeroso séquito, com um médico, um jardineiro e um cozinheiro [...] o seu diário [...] relata-nos com minúcia a inconstância do tempo, os seus passeios no parque e no horto, bem como a sua principesca instalação nesta mansão, que os Street Arriaga lhe emprestaram.” (Stoop, 1999).
Ana Joaquina deixa degradar a propriedade e vende-a em 1802 ao príncipe-regente, D. João, Duque de Beja, futuro D. João VI, que a oferece à sua esposa, D. Carlota Joaquina, que encontrou a propriedade em muito mau estado, e empreende grandes obras de conservação e enobrecimento, devendo-se a ela o restauro do palácio e a construção, a noroeste, de uma ala paralela ligada a este por três pequenos arcos que formam uma espécie de túnel. Para este novo pátio que se forma, dá a sudoeste o portal nobre, encimado pelas armas reais. Datam também desta época várias pinturas a fresco que decoram as várias salas com finas grinaldas de flores e, mais tardios, galões com frutos e flores exóticos de tons vivos, bem como a capela, onde também se encontram as armas e ainda o monograma da rainha C.J.R.
Após a morte da rainha em 1830, o Ramalhão passa para o seu filho D. Miguel, que em 1851 a vende a José Isidoro Guedes, primeiro visconde de Valmor. Por sua morte, a quinta é herdada por Dr. Albano Guedes Moura Coutinho, que acaba por vender o Ramalhão, em 1941, à Congregação de Santa Catarina de Sena, da Ordem de São Domingos, que depois de ter de o restaurar, abrem um colégio dedicado à instituição de raparigas o qual ainda hoje está ativo na sua função docente.
O jardim que hoje encontramos na propriedade estende-se em frente à ala nordeste, mandada construir pela rainha, e organiza-se em vários patamares que descem a encosta para as hortas e pomares. Num primeiro patamar, junto ao edifício, encontramos um longo pátio coroado por um tanque/canal de água de c. 80 metros de comprimento, que acompanha e reflete a fachada do palácio em quase toda a sua extensão. Saindo pela porta principal e atravessando o canal por uma pitoresca ponte, chega-se a uma cénica escadaria, coroado por arcos de pedra a imitar ruínas que emolduram a paisagem. No jardim, que lembra um parque romântico, destaca-se a vegetação exótica com várias araucárias centenárias de grandes dimensões.
Classificado como Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 2/96, DR, 1.ª série-B, n.º 56 de 06 março 1996.
Texto: Guida Carvalho – 2020.
Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.
Quinta do Ramalhão
(Consultada em maio de 2020)
JUROMENHA, Visconde de. – Cintra Pinturesca. Sintra: C.M. Sintra, 1989, pp. 113.
PEREIRA, Artur D.; CARDOSO, Felipa Espírito Santo; CORREIA, Fernando Calado. – Sintra e suas Quinta. Sintra: Edição dos Autores, 1983, p. 34.
SEQUEIRA, Matos. - Enciclopédia pela imagem - Palácios e Solares Portugueses. Porto: Livraria Chardron Lello & Irmão, 1980.
STOOP, Anne de – Quintas e Palácios nos arredores de Lisboa. Livraria Civilização Editora, 1999.
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3056
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72945