Quinta de Molha-Pão

Lisboa | Sintra

Quinta de Molha-Pão

A Quinta do Molha-Pão perto da aldeia da Tala, Sintra, destaca-se pelo seu rico património arquitetónico, inserido numa área murada e 37 hectares, estende-se por uma paisagem de grande beleza, numa zona pouco declivosa isolada por um muro. Segundo Anne Stoop o seu nome pitoresco deve-se a uma sopa popular oferecida em tempos todas as semanas aos pobres (Stoop, 1999). A área atual é um terço dos 90ha originais onde um belo solar, amplos jardins, campos agrícolas, pomares e pinhal produzem produtos hortícolas que hoje ainda alimentam os mercados de Lisboa.

As primeiras referências conhecidas da Quinta do Molha-Pão remetem para um documento pelo qual Antão Gonçalves se comprometia a pagar o foro relativo à Quinta ao Senhor de Belas, datado de 1633 (STOOP, 1999).

Em 1682 Bartolomeu Quifel Barberino (1631-1719), fidalgo italiano conselheiro dos reis D. Pedro II e D. João V, compra a Quinta do Molha-Pão a Antão Gonçalves, à qual confere o estatuto de morgadio. Após a aquisição, Barberino investe na reconstrução do solar, dando especial atenção à sua decoração interior, mandando instalar painéis de azulejo por todo o solar, datados do início do Séc. XVIII e assinados com as iniciais P. M. P.

A Quinta do Molha Pão vai sendo então herdada de geração em geração mantendo-se sempre na posse de descendentes de Barberino. Segundo Anne Stoop “a personagem mais colorida desta casa é, sem dúvida alguma, o 4.° conde de Anadia (1839-1870). Riquíssimo aristocrata, possui além de Molha-Pão inúmeras propriedades, entre as quais se conta a sumptuosa casa Anadia em Mangualde. O seu temperamento folgazão faz dele uma das principais figuras da boémia lisboeta. Mais um amante de festas e corridas que propriamente um cortesão, morre ainda jovem em Molha-Pão, no quarto que tem o seu nome.” (Stoop, 1999). Em 1946, o bisneto do quarto conde de Anadia, instala-se na quinta, procedendo a grandes obras de restauro.

O acesso à casa principal é feito por um portão junto à estrada municipal, ladeado por dois volutões encimados por frontão triangular brasonado, seguido de uma alameda de plátanos que termina no longo cruzamento entre o assento de lavoura, o grande terreiro do solar e o muro do jardim .

A casa da Quinta que se ergue à nossa frente pauta-se pela linearidade, depuração e uma certa simplicidade que caracterizou a arquitetura civil do século XVII, e que contrasta vivamente com a rica decoração azulejar barroca que decora o interior das salas do andar nobre, datada do início do século XVIII.

A fachada Este abre-se sobre o jardim através de duas «loggias» ao gosto italiano, formadas por três arcos sustentados por robustos pilares. O seu interior é revestido a painéis de azulejos azuis e brancos que ilustram cenas galantes (monumentos.pt).

O jardim que se desenvolve em terraços para lá das loggias é um jardim de buxos formal organizado em quatro canteiros divididos com um lago em forma de losango ao centro. No jardim encontram-se bancos forrados de azulejos com pequenos painéis ilustrando as Quatro Estações, datados igualmente de princípios do século XVIII. A fachada, parcialmente revestida a vinha virgem, amplia o jardim até à casa, animando todo o espaço no outono com as suas folhas escarlates.

Destacam-se nesta quinta três elementos de excepcional qualidade: o primeiro é o terreiro de entrada quadrangular muito grande onde uma árvore secular marca o centro, e uma fonte encaixada no mesmo deita água todo o ano.

Os muros e um aqueduto na quinta distribuem a água cuja origem e nascentes e noras ainda hoje é perceptível. Destacados do jardim e do solar existem ainda vestígios de um lago de escadarias laterais segundo a tipologia do grande tanque do Palácio Fronteira que teram sido alimentados por uma enorme nora no extremo da propriedade. A estrutura da nora ainda existe e o traçado do aqueduto vem até ao terreiro a partir dela.

A Quinta do Molha-Pão foi classificada como Monumento de Interesse Público, incluindo respetiva Zona Especial de Proteção, pela Portaria n.º 740-DE/2012, DR, 2.ª série, n.º 248 de 24 dezembro 2012.

Autor: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.

Quinta de Molha-Pão

(Consultada em Maio de 2019)

STOOP, Anne. – Quintas e palácios nos arredores de Lisboa. Barcelos: Livraria civilização, 1986.

http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6098

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/71247

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