Quinta do Álamo

Lisboa | Almada

Quinta do Álamo

A cerca de quinze minutos de Lisboa, localizada no concelho do Seixal, freguesia da Arrentela, encontra-se a Quinta do Álamo, com aproximadamente 18 hectares. Faz fronteira a Este com a Quinta do Bom Pastor, a Nordeste com a Quinta dos Paulistas (centro de estágios do Benfica) e a Norte com a Quinta da Trindade. Pertence atualmente à diocese de Setúbal e é uma quinta de recreio rica em biodiversidade vegetal, com alamedas, canteiros de buxo, mata, hortas e um pomar, um elaborado sistema hídrico e um acesso direto ao estuário do Tejo.

Não se conhece atualmente a origem da Quinta do Álamo salvo a existência de uma placa calcária, afixada numa parede exterior da casa senhorial, onde se pode ler: «Mandou fazer G. A. G. M. no anno de 1833», que indica a data provável da sua construção. Um registo de batismo, realizado três anos depois, a 1 de fevereiro de 1836, de Matilde, “filha legítima de José da Silva e de Felícia Maria moradores na quinta do Álamo desta freguesia [de Arrentela],” diz-nos que “foi Padrinho Gaspar Ângelo da Costa Madeira dono da mesma quinta […]”.

Mais tarde, a Quinta do Álamo terá passado para a posse da família D’Orey, servindo de quinta de veraneio. Em 1971 foi cedida o patriarcado de Setúbal pelo casal Guilherme (Willy) Perestrelo d’Orey e Celeste Rodrigues de Oliveira d’Orey, que não tiveram descendentes.

Segundo a história oficial da Quinta “Existe documentação dos anos 40 do século XX, os quais incluem recibos, listas dos lucros, notas dos caseiros e correspondência trocada entre os primos Willy e Zé [Zé de Mattos], enquanto o primeiro estava no Brasil, para tratar dos negócios da família […] Os negócios de Willy, no Brasil, tiveram pouco sucesso, bem como as tentativas de Zé na gestão e administração da Quinta do Álamo. Este último queixava-se, principalmente, da falta de profissionalismo dos trabalhadores [… que] preferiam trabalhar numa fábrica, onde tinham um horário mais reduzido e pagamento certo, em vez de trabalharem numa quinta, em que o horário era dependente do número de horas de sol e o pagamento dependia muito do sucesso da produção e da venda dos produtos” (quintadoalamo.org/).

Não obstante, em meados dos anos 40 do século XX, e em resposta a apelos do governo preocupado com a II Guerra Mundial (1939 - 1945), é reforçado o pomar da Quinta do Álamo, plantando-se muitos citrinos, que apesar da baixa qualidade devido ao solo pouco apropriado, continuaram a ser vendidos e produzidos na quinta.

Segundo fotografia aérea de 1958, a Quinta apresentava um sistema completo e ordenado, coma presença de pomar e olival em malha regular e um pinhal denso. Os jardins de buxo talhado encontram-se bem desenhados e as hortas parceladas.

Em 1975 foi criada a diocese de Setúbal que herdou a Quinta. Nesta altura vivia-se um clima de grande tensão, marcado pela revolta popular e pelo retorno de mais de 600mil pessoas das antigas colónias portuguesas. Com a reforma agrária, a quinta corria o risco de ser retirada à diocese. A fim de evitar este feito Pe. Manuel Augusto, e outros, transformaram a casa senhorial num infantário (Pica-Pau) para receber as crianças das famílias que tinham retornado e que não tinham onde ficar. Estes padres pediram, também, a grupos de escuteiros e outros jovens para usarem a quinta, que começaram a frequentá-la aos fins-de-semana, para realizarem retiros espirituais e acampamentos. Esta atitude permitiu que a quinta chegasse aos dias de hoje e que se criasse uma forte identidade – a quinta dos jovens que seguem a fé cristã. Como exemplificam as atividades anuais que aqui ocorrem: A3 Jovem e Colónia de férias do Bairro Fonte da Prata, nos meses de Verão.

A quinta do Álamo é rica em água subterrânea como testemunham as noras, poços, tanques e caleiras. Atualmente, apenas um dos tanques é utilizado pelos escuteiros e colónias de férias. O sistema de distribuição de água que funciona atualmente (aspersão e sistema gota-a-gota), foi instalado nos anos 90, do século XX, em PVC e serve os canteiros de buxo, o jardim de coleção de espécies tropicais em torno da casa e as hortas.

Entrando pelo portão principal, somos guiados até à casa senhorial por uma grande alameda de buxo, pinheiros e ciprestes. Apesar do aspeto degradado da envolvente, a casa apresenta-se em boas condições, tendo sofrido intervenções recentemente. Em frente à casa desenvolve-se um jardim de buxo talhado, antecedido por sete esculturas de porcelana branca, de figuras femininas clássicas.

Em torno da casa há um jardim rico em espécies exóticas centenárias, seguindo a moda no século XIX. Sendo de notar duas centenárias Washingtonia robusta H. Wendl, no largo em frente à casa senhorial. Pode encontra-se ainda dois jardins de buxo, uma zona de estadia com mesa, uma peça de Jogos de água e uma pérgula precedida de bancos com azulejos a nascente da casa senhorial.

Discretamente localizado no fim da alameda principal, do lado direito, encontra-se a pérgula do lago dos patos em ferro pintado de verde que suporta três exemplares de Wisteria sinensis (Sims) Sweet. A estrutura desenvolve-se sobre pavimento de pedra calcária irregular e localiza-se perpendicularmente ao lago dos patos. A pérgula tem boa visibilidade para o lago e, simetricamente, apresenta uma reentrância onde se encontra uma zona de estadia com um banco. Atualmente a pérgula é usada ocasionalmente como palco de missas campais.

Junto à casa, encontra-se o Tanque da Bica que servia para regar os jardins de plantas tropicais e sebes podadas de buxo, situados entre a casa e o laranjal. Este tanque encontra-se directamente ligado a um outro tanque menor, em forma de meio-círculo, através de uma gárgula, que jorrava a água para uma bacia de pedra, e que por sua vez, fazia cair a água para o segundo tanque. Esta água seguia para outros dois pequenos tanques circulares decorativos, situados numa cota ligeiramente inferior nas traseiras da casa senhorial.

 A nora mais próxima à casa é a mais imponente das 3, com 4 pilares com aproximadamente 5 m de altura, que suportavam a estrutura hidráulica. Dois dos pilares estão construídos muito próximos um do outro, sobre o muro do poço, onde estava colocada a engrenagem elevatória da nora. A nora era acionada por tração animal, por isso os outros dois pilares que suportam a estrutura hidráulica encontram-se mais afastados entre si. Resta ainda parte de um muro circular entre os pilares e no centro um cilindro de madeira, de onde deveria partir o eixo motriz da engrenagem. A engrenagem que fazia subir a água conduzia-a para uma calha que seguia para o Tanque da Bica.

Uma vez que a quinta não gera dinheiro e não tem recursos, a manutenção é feita por voluntários, vizinhos da quinta que em troca do cultivo de umas parcelas com hortas e pomar, aparam os buxos, regam e conservam os jardins. Também este facto contribuiu para a construção de uma identidade de bairro e uma solidariedade social em que a quinta, jardim e horta funcionam como espaço partilhado e agregador.

Texto de Inventário: Joana Ferreira Fournier Costa – 2012; Maria Inês Martins Adagói – 2012; Maria Teresa Macedo – 2012; Paulo Bruno Canha Lopes da Silva – 2012.

Adaptação: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.

Quinta do Álamo

(Consulta Março 2012 e 2020)

http://quintadoalamo.org/

Rua Quinta do Álamo