Quinta dos Jardins do Imperador / Quinta do Monte
Madeira | Funchal
Quinta dos Jardins do Imperador / Quinta do Monte
A Quinta dos Jardins do Imperador / Quinta do Monte, situa-se no Sítio do Pico, na freguesia do Monte, a 4 Km do centro do Funchal, com uma área de 4,5 ha, com exposição dominante a sul e sudoeste, e uma altitude que vai dos 580 m aos 555 m.
Em 1784 os terrenos da futura Quinta do Monte, com cerca de 6 ha estavam registados em nome de José Crisóstomo Costa e Silva, comerciante madeirense. José Crisóstomo Costa e Silva perdeu a sua fortuna devido a dívidas e a propriedade passou para a posse do padre Simão Lúcio Nóbrega, que depois a vendeu ao comerciante inglês Charles Alder. Em 1802 tiveram início as obras iniciais da futura Quinta do Monte, também conhecida por Quinta do Pico, encomendadas pela família escocesa Gordon que foi viver para a ilha da Madeira. James David Gordon, era o filho mais novo de Thomas Gordon (1737-1804), jurista e deputado escocês. James David Webster Gordon foi cónsul britânico na Madeira e sócio desde 1802 da relevante firma exportadora de vinho da Madeira Cossart, Gordon & e C ª que, nessa altura, contribuiu para cerca de metade do desenvolvimento económico da ilha. Existe o relato que foi plantada uma árvore na quinta no verão de 1815 para assinalar a passagem para o exílio de Napoleão Bonaparte pelos mares da Madeira, acompanhado por um esquadrão de navios ingleses. James Gordon casou-se em 1826 com Theodosia Arabella Pollock, sobrinha do general George Pollock (1786-1872) da Companhia das Índias Orientais, datando a construção da casa principal da Quinta do Monte dessa altura. A autoria do projeto da residência em estilo inglês (regency) é atribuída a um arquiteto inglês. A partir da data do casamento, a quinta passou a ser a residência de James David Gordon e Theodosia Pollock Gordon. O príncipe Adalberto da Prússia (1811-1873) visitou a Quinta do Monte em 1842 e descreveu os jardins como paradisíacos, com uma grande variedade de flores esplêndidas, a maioria exóticas e árvores provenientes de todo o mundo. Russel Gordon, filho de James David Gordon e Theodosia Pollock Gordon, casou-se em 1857 em Inglaterra com Filomena Gabriela Correia Brandão Henriques de Noronha (1829-1925), filha de João Correia Brandão de Bettencourt Henriques de Noronha (1794-1875), 2.º visconde de Torre Bela, tendo este casal regressado à Madeira para viver na Quinta do Monte. Theodosia Gordon morreu em1859, tendo a quinta sido herdada pelo seu filho mais velho, o major Webster Thomas Gordon que, no ano seguinte, a legou ao seu irmão Russell Manners Gordon (1829-1906). Russel Gordon realizou vários melhoramentos na quinta, mandando-a murar e criando o Jardim Malakoff, em comemoração dos heróis das tropas anglo-francesas da Batalha de Malakoff, batalha da Guerra da Crimeia, travada entre o Império Russo e o Segundo Império Francês, em 1855, em Sebastopol, Crimeia. O Jardim Malakoff tinha um miradouro e uma grande torre, que foi posteriormente adaptada a mirante/casinha de prazer, seguindo a tradição das quintas madeirenses. Segundo Maria Lamas, a Quinta do Monte no século XIX tornou-se numa das quintas madeirenses mais relevantes para a sociedade da época. Nesse período foram construídos poços, riachos e tanques de irrigação da quinta. Ao longo do século XIX, esta quinta foi tendo várias famílias proprietárias: Gordon, Cossart e em 1899 a família de Rocha Machado. Luís Rocha Machado (1848-1912), açoriano, foi grande proprietário na ilha da Madeira e dono do Banco Rocha Machado no Funchal. Em 1901 realizou-se nesta quinta, nessa altura conhecida por Quinta do Pico, uma garden party oferecida por Luís Rocha Machado aos reis de Portugal, rei D. Carlos I e rainha D. Amélia. Enquanto na posse da família Rocha Machado, a Quinta do Monte foi emprestada aos ex-Imperadores da Áustria, Imperador Carlos I de Áustria (1887-1922) e Zita de Bourbon-Parma (1892-1989), descendente da Casa de Bragança, que aí viveram em exílio entre 1921 até 1922, ano da morte do imperador. Carlos I de Áustria foi o último Imperador da Áustria de 1916 até 1918, tendo sido beatificado em 2004 pela Igreja Católica. Em 1922 a quinta teve a visita dos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, no regresso da sua histórica viagem de avião até ao Brasil. Luís da Rocha Machado mandou construir por volta de 1930-1940 uma capela na casa principal da quinta dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, em memória do Imperador Carlos I de Áustria, a quem se atribui o estímulo da veneração do Sagrado Coração de Jesus na ilha da Madeira. O último membro da família Rocha Machado a habitar a quinta foi Helena Rocha Machado e Couto, casada com Fernando José Martins de Almeida Couto (1924-2006), que viveu na quinta entre 1956 e 1975. Entre 1977 e 1980 a quinta foi cedida aos artistas plásticos Lurdes Castro (n. 1930) e Manuel Zimbro (1944-2003). Lurdes Castro, inspirada pela Natureza da sua terra natal, tinha criado em 1972 o Grande Herbário de Sombras, com base em cem espécies de flora da ilha da Madeira. Esta quinta foi adquirida pelo Governo Regional da Madeira na década de 80 do século XX com o projeto de aí instalar o campus universitário da Universidade da Madeira, o que nunca se veio a concretizar. Através de concurso público foi atribuída a concessão em 2002 à empresa Madeiquintas, por um período de 25 anos, para recuperação do património edificado e paisagístico. Por volta de 2002-2004, o engenheiro Rui Vieira orientou os trabalhos de recuperação da vegetação da quinta com a eliminação da flora iinvasora, privilegiando a plantação de espécies da flora madeirense e introdução de diversas espécies exóticas ornamentais.
Segundo a obra 'Árvores Monumentais e Emblemáticas da Madeira' as nove árvores com porte monumental da Quinta dos Jardins do Imperador são o pinheiro-bravo (Pinus pinaster), a sequóia-sempre-verde (Sequoia sempervirens), a bela-sembra (Phytolacca dioica), a faia-vermelha (Fagus sylvatica var. purpurea), o castanheiro (Castanea sativa), a araucária-de-Norfolk (Araucaria heterophylla), o pinheiro-das-Canárias (Pinus canariensis), o carvalho-comum (Quercus robur), e a pseudotsuga (Pseudotsuga menziesii).
No topo do Caminho do Pico acede-se à Quinta dos Jardins do Imperador através de um portão de ferro, que se encontra na extremidade este da propriedade. Passando o portão temos a portaria do lado direito, dando acesso uma rede de caminhos de traçado orgânico, que ligam as principais áreas da quinta. No topo norte localiza-se a mata onde predominam espécies invasoras como a árvore-do-incenso (Pittosporum undulatum) e as acácias (Acacia sp.), mas aonde também são frequentes os castanheiros (Castanea sativa) e os loureiros endémicos do arquipélago da Madeira (Laurus novocanariensis). De acordo com o ‘Estudo Fitogeográfico da Quinta Jardins do Imperador’, conduzido pelo investigador Raimundo Quintal, a Riqueza Florística desta quinta é Excecional, destacando ainda este autor que aqui podemos encontra um valiosíssimo núcleo de mocanos (Pittosporum coriaceum), espécie endémica da madeira e que é atualmente extremamente rara na floresta de Laurissilva. A casa principal da quinta localiza-se na zona de cota mais baixa, a sul, enquadrada por um vasto relvado, com um riacho artificial que alimenta uma lagoa. A vegetação Em torno da casa principal, encontram-se criptomérias-elegantes (Cryptomeria japonica ‘Elegans’), sequóias (Sequoia sempervirens), carvalhos (Quercus robur e Quercus rubra), faias-europeias (Fagus sylvatica e Fagus sylvatica var. purpurea) e tulipeiros-arbóreos (Liriodendron tulipifera). A partir da casa principal desenvolve-se um caminho que nos conduz ao patamar do Jardim Malakoff, com canteiros de buxo e flores, e que ao centro do jardim tem um pequeno tanque com repuxo e a torre Malakoff, uma torre cilíndrica que funciona como mirante/casinha de prazer. A enquadrar o patamar do Jardim Malakoff destacam-se duas magnólias (Magnolia x soulangiana) e dois frondosos dragoeiros (Dracaena draco ssp. draco). A partir da torre Malakoff pode apreciar-se uma extraordinária vista panorâmica sobre a cidade e baía do Funchal.
Valor Regional - Resolução n.º 16161/96 de 18 de novembro
Inventário: Sónia Talhé Azambuja (março de 2020).
Quinta dos Jardins do Imperador / Quinta do Monte
(consultada em março de 2020)
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