Quinta da Palmeira

Madeira | Funchal

Quinta da Palmeira

A Quinta da Palmeira, situada na freguesia de Santa Luzia, a 2 Km do centro do Funchal, com uma área de 42,5 ha, é uma das quintas madeirenses com maior área, está implantada numa encosta com vista panorâmica sobre a baía do Funchal.

Os terrenos da quinta pertenciam a uma antiga capela da freguesia do Monte. No final do século XVIII foi erigida a casa da quinta. Esta quinta teve vários proprietários ao longo do tempo, tendo chegado a fazer parte dos bens da coroa. Em 1908 foi adquirida pelo industrial inglês Harry Hinton (1857-1948) que reformulou a casa e jardins, mandando abrir uma estrada de acesso até à Levada de Santa Luzia, que se localiza a pouca distância. Harry Hinton, filho do industrial inglês William Hinton (1817-1904),  fixou-se na ilha desde 1838, em busca do clima ameno da Madeira, tal como muitos outros ingleses dessa época. A família Hinton teve desde o século XIX um papel de relevo na ilha da Madeira no comércio e na indústria, da cultura da bananeira e, em especial, na indústria açucareira, tendo em 1856 criado a unidade industrial a vapor conhecida por engenho do Hinton. No período da família Hinton a quinta alcançou o seu apogeu. Harry Hinton teve dois casamentos, o primeiro com Wilhelmina Montgomery, e o segundo em 1918 com Isabel Vasconcelos do Couto Cardoso (1872-1945), filha do Morgado do Jardim do Mar (instituído no século XVI), Luís de Vasconcelos e Couto Cardoso de Bettencourt (?-1892), proprietário da Quinta da Piedade na Calheta. Para Isabel Vasconcelos do Couto Cardoso também foi um segundo casamento, pois tinha sido casada em primeiras núpcias com John Frosthemgham Welsh (ou John Frosthingham Welsh) em 1893, tendo-se divorciado em 1917. No ano seguinte, casou em Paris com Henry Calverley Hinton. Deve-se a Isabel Vasconcelos do Couto Cardoso Hinton o desenvolvimento dos jardins por volta de 1929. Por herança de Harry Hinton esta quinta passou em 1948 para a propriedade do seu enteado George Welsh falecido em 1981, casado com Theo Florence Beswick (1901-1995), natural da Nova Zelândia. Theo Florence viveu na quinta até à sua morte em 1995 e foi a responsável pela introdução de inúmeras espécies exóticas na quinta. Atualmente a quinta continua na posse da família Welsh.

No livro 'A sketch of Madeira: containing information for the traveller, or invalid visitor’ da autoria de Edward Vernon Harcourt e publicado em 1851, encontra-se uma listagem das plantas cultivadas da Quinta da Palmeira, que inclui  espécies características da flora nativa da Madeira como o barbusano (Apollonias barbujana), o til (Ocotea foetens), o vinhático (Persea indica), o loureiro (Laurus novocanariensis), o cedro-da-Madeira (Juniperus cedrus subsp. maderensis), o dragoeiro (Dracaena draco ssp. draco). Para além da flora nativa eram aqui cultivadas espécies de variadas origens biogeográficas como a magnólia, o tulipeiro, a canforeira, o eucalipto, a camélia, a cyca, a laranjeira, o buxo, a tamargueira, a rosa, o lírio, a açucena, a glicínia, a eritrina, a olaia, o castanheiro, o carvalho, a azinheira, o sobreiro, o zambujeiro, o pinheiro, o cipreste, o cedro, a amoreira, o plátano, o loureiro, a lantana, a cevadilha, a azálea, o medronheiro, a sálvia, a yucca, o aloé, a cana-de-açúcar, o jasmim, a aurocária-do-Brasil, o coqueiro, a tamareira, etc.

A coleção de palmeiras da Quinta da Palmeira inclui espécies como palmeira-das-Canárias (Phoenix canariensis), a tamareira-do-Senegal (Phoenix reclinata), a tamareiras (Phoenix dactylifera) e a palmeira-de-leque (Washingtonia filifera). De acordo com a obra 'Árvores Monumentais e Emblemáticas da Madeira' as três árvores com porte monumental na Quinta da Palmeira são a canforeira (Cinnamum camphora), o til (Ocotea foetens) e o plátano (Platanus x hybrida). São ainda de destacar pelo porte os barbusanos (Apollonias barbujana), os dragoeiros (Dracaena draco ssp. draco), as azinheiras (Quercus ilex). Segundo Raimundo Quintal a Quinta da Palmeira tem mais de quatrocentas espécies integrando-se na Classe Excecional do Índice de Riqueza Florística, mencionando as plantas mais raras são os Koelreuteria bipinnata, a árvore-do-seboda-China (Sapium sebiferum) e taxódio (Taxodium distichum). Refere ainda Raimundo Quintal que uma das maiores curiosidades botânicas desta quinta é a presença de dois marmulanos (Sideroxylon mirmulans), espécie endémica da Madeira bastante rara na natureza.

Acede-se à quinta através do portão principal no Caminho de Santa Luzia, perto da Levada com o mesmo nome. A quinta desenvolve-se numa encosta, ficando a casa numa pequena plataforma na zona de maior cota da propriedade,  com exposição dominante a sul, e uma altitude que vai dos 172 m aos 235 m, com um desnível de 63 metros. Passando o portão inicia-se um caminho ascendente na direção da casa principal. Esta é enquadrada por um jardim com uma grande diversidade de árvores e arbustos, nomeadamente bananeiras, camélias, nolina, medronheiro, murta, aloés, estrelícia-gigante, taxódio, til etc. Um banco revestido a azulejos ladeado de alegretes localiza-se junto da casa principal. Os caminhos de seixos rolados conduzem-nos a uma série de patamares relvados com uma vista panorâmica sobre a baía do Funchal, enquadrados por palmeiras, ciprestes e outras árvores de grande porte . Num dos patamares encontra-se a célebre "Janela de Colombo", uma janela manuelina que se localizava na casa de João Esmeraldo (demolida em 1876), onde se pensa que terá vivido Cristóvão Colombo. A "Janela de Colombo" foi oferecida em 1949 pelo conselheiro Ayres de Ornelas de Vasconcelos, a Harry Hinton, que a colocou nos jardins desta quinta. O jardim com nicho e fonte criado em 1929 (data inscrita em azulejo), por Isabel Vasconcelos do Couto Cardoso Hinton, a segunda mulher de Harry Hinton, revela influências do Movimento 'Arts and Crafts' (Artes e Ofícios) pela forma como se inspiraram nas Artes Plásticas com traçado canteiros de traçado geométrico envoltos numa área de jardim com aparência mais naturalista. Neste jardim são privilegiados os materiais de construção tradicionais como os pavimentos e muros em tijolo burro, tanques, embrechados e azulejos. Isabel Vasconcelos do Hinton fez uma encomenda de azulejos à Fábrica Constância, de Lisboa, para decorar os muros e bancos do jardim da quinta. Os embrechados do jardim são feitos com louça branca e azul do Reid’s Hotel e fragmentos de lapilli (originários de piroclastos). Na parte mais baixa do jardim existe um miradouro com vista panorâmica para o anfiteatro do Funchal, enquadrada por uma pérgula com glicínia. A rega da quinta é feita com água proveniente da Levada das Cales e de nascentes próprias. Na quinta é possível observar aves, nomadamente aves de rapina como a manta (Buteo buteo harterti), que nidifica nas copas das árvores de maior porte.

Inventário: Sónia Talhé Azambuja (março de 2020).

Quinta da Palmeira

(consultada em março de 2020)

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