Fábrica da Vista Alegre / Quinta da Vista Alegre
Centro | Estarreja
Fábrica da Vista Alegre / Quinta da Vista Alegre
A Fábrica da Vista Alegre / Quinta da Vista Alegre, no lugar da Vista Alegre, situa-se apenas a 3 km do centro de Ílhavo e a 9 km de Aveiro, na margem do Rio Boco. Desde o século XIX que alberga a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre, que desde então tem vindo a marcar a história local e nacional.
O local onde se encontra a atual Fábrica da Vista Alegre / Quinta da Vista Alegre teve origem na segunda metade do século XVII, aquando da compra de alguns terrenos, por parte de Manuel Furtado Botelho (?-1733), criando assim uma única grande propriedade. Este e o Bispo de Miranda, D. Manuel de Moura Manuel (1632-1699), criaram amizade durante as temporadas que passaram na Quinta do Paço da Ermida, pertença de Ruy de Moura Manuel, irmão do Bispo. Devido a esta amizade e a uma promessa feita pelo Bispo, este mandou erguer no lugar da Vista Alegre em cerca de 1693, a Capela da Nossa Senhora da Penha de França, onde se realizam anualmente as festas em honra da padroeira no último domingo de junho, e a Fonte do Carrapichel. Esta última vem dar, séculos mais tarde, nome à Quinta e Fábrica da Vista Alegre, devido a uma inscrição na fonte que referia que a água era tão prazerosa e útil quanto a vista alegre da paisagem que se podia observar. Antes do falecimento do Bispo, foi criada a feira dos treze, realizada todos os dias 13 de cada mês e um mercado anual no dia 13 de setembro, que se realizam até hoje e foi ainda construída uma habitação para D. Teodora Moura Manuel, filha ilegítima do Bispo e herdeira da quinta. Após a morte desta, a coroa adquiriu a quinta e ofereceu posteriormente a D. Ana Teresa Luísa de Sousa. Em 1812 José Ferreira Pinto Basto (1774-1839), Cavaleiro da Ordem de Cristo, adquiriu a Quinta do Paço da Ermida e em 1816 adquiriu em hasta pública a Quinta da Ermida de Nossa Senhora da Penha de França. Após 8 anos, em 1824, foi estabelecida a Fábrica da Vista Alegre, com alvará cedido por D. João VI, e administrada por Augusto Ferreira Pinto Basto (1807-1902). Este era um local estratégico devido à proximidade do rio Boco, que permitia o transporte de bens e produtos, a existência prévia de moinhos para produção de energia e devido à existência de um pinhal que fornecia matéria-prima para os fornos. Como a matéria-prima da porcelana, o caulino, foi descoberta anos mais tarde, a fábrica começou por produzir vidros de elevada qualidade com a participação de vidreiros e ceramistas de diversos pontos do país, nomeadamente da Fábrica de vidros da Marinha Grande. Assim, foi necessário criar um bairro que pudesse albergar os operários, que era algo que não existia no local até então. Em 1834 é descoberto caulino, na freguesia de Outil, e a então Real Fábrica de Porcelana, Vidro e Processos Chimicos começa a produzir porcelana dura, produção essa que ainda é realizada atualmente. José Ferreira Pinto Basto, revolucionário para a época, criou um bairro operário junto à fábrica, que não só providenciava habitação, como também serviços, educação e área agrícola para os trabalhadores, o que permitiu aumentar as condições de vida e higiene da população. A partir de 1826, foram construídas várias habitações, o palacete de habitação da família Pinto Basto na praça junto à capela, um teatro, uma escola, uma creche, um campo desportivo, um barbeiro, dormitórios para albergar trabalhadores temporários e um refeitório.
A Quinta da Vista Alegre está organizada segundo ruas arborizadas e jardins, no entanto, o coração da mesma é a praça central, ou seja, o largo da capela, local de início da história da quinta. Esta tem dois eixos, perpendiculares entre si, em que um se inicia na fachada da capela seiscentista e outro que se inicia na entrada primitiva da fábrica. A fachada da capela enquadra-se no estilo barroco e possui duas torres sineiras que foram construídas posteriormente, que é contrastante com o estilo simples da fachada do palacete e da entrada da fábrica. Do lado direito da fachada, existe um jardim formal de buxo denominado Jardim da empresa. Neste largo, atualmente, é onde se tem acesso às lojas de venda dos produtos Vista Alegre, ao interior do museu e também ao hotel aqui implementado. É no interior deste último, que se situa a Fonte do Carrapichel, num pequeno pátio interior. Ao seguir para sul do largo da capela, em direção à Rua dos Álamos, observam-se várias casas de dois andares do lado direito, que correspondem à primeira fase de construção do bairro (entre 1826 e 1924). Esta era a entrada da antiga quinta que existia no lugar da Vista Alegre e continuou a ser umas principais estradas de acesso ao bairro e fábrica, onde é possível observar uma alameda de álamos (Populus alba) e outra paralela a esta, de buxo (Buxus sempervirens). Ao percorrer esta rua encontra-se do lado esquerdo a rua Gustavo, onde se situa o refeitório, ainda hoje utilizado como tal, e o seu jardim associado; a casa do diretor, utilizada como alojamento temporário para estudantes ERASMUS; a rua Alberto ou rua das tílias; a Sede do Sporting Clube da Vista Alegre, no seguimento das casas do lado direito e a Fonte dos Amores, no cruzamento desta rua com a rua Duarte, do lado esquerdo, também designada rua das casas novas (que pertencem à segunda fase de construção do bairro, entre 1924 e 1971). Ao seguir pela rua Duarte observa-se em toda a sua extensão casas térreas com pátios, também para os operários da fábrica; no centro do lado esquerdo a rua das Nogueiras, e no fim, a rua João Teodoro. Ao percorrer esta última, observam-se casas operárias de maiores dimensões e uma bela-sombra (Phytolacca dioica) centenária classificada como Árvore de Interesse Público, plantada em 1828. No seu seguimento, esta converge com a rua Augusto, que é marcada por uma alameda de nogueiras. Ao seguir para norte, encontra-se no lado esquerdo a rua alberto, que liga esta à rua dos Álamos; a creche e o campo de oliveiras e do lado direito um grande terreno baldio. No encontro desta rua com a rua Gustavo, existe o jardim do teatro e de onde é possível observar, com clareza, o eixo que leva de novo o olhar à Capela da Nossa Senhora da Penha de França.
Monumento Nacional / Decreto de 16-06-1910, DG, I Série, n.º 136, de 23-06-1910 (Capela da Nossa Senhora da Penha de França)
Árvore de Interesse Público
Bela-sombra (Phytolacca dioica L.)
Nº Processo: AIP01100856I
Classificação: DD.R. 2.ª série - N.º 12 - 17/01/201
Inventário: Filipa Santos e Sónia Talhé Azambuja (março de 2020)
Fábrica da Vista Alegre / Quinta da Vista Alegre
(consultada em março de 2020)
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