Quinta do Loureiro

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Quinta do Loureiro

A Quinta do Loureiro, encontra-se na freguesia de Silgueiros, na margem direita do rio Dão e a cerca de 12 km da cidade de Viseu. Chegando a Silgueiros, acede-se à quinta lateralmente à estrada, pelo campo da feira.

A referência mais remota a esta quinta data de 1186, primeiro ano do reinado de D. Sancho I. Daganel e Dona Sancha Gonçalves, Senhores da Honra e Quintã do Loureiro instituem o padroado de Santa Maria de Silgueiros, dotando-o com terras e vinhas, com a obrigação do abade ser sempre da sua geração, cuja administração ficaria para sempre nos seus descendentes. Mais tarde em 1290, nas inquirições de D. Dinis, são identificadas duas Honras e Quintãs do Loureiro, cada uma com a sua Torre, que pertencem a Dona Gontia e Egas Lourenço que pela cronologia se crê poderem ser bisnetos dos instituidores do padroado.

Cerca de 1343 nasce João Anes do Loureiro, o primeiro a usar este apelido. Com sua mulher Catarina Dias de Figueiredo e suas irmãs Catarina Anes e Aldonça Anes refundam e dotam a Igreja de Santa Maria de Silgueiros de que eram padroeiros. Desta Catarina Anes, casada com Álvaro Gil Cabral, alcaide-mór da Guarda e 1º Senhor de Juro e Herdade de Azurara da Beira será descendente Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil. De uma outra irmã, Maria Anes “a Escassa” será filho, do seu casamento com Nuno Gonçalves Homem, D. Luís do Amaral, Bispo de Lamego e Viseu e embaixador de D. João I no Concílio de Basileia, tendo sido elevado ao cardinalato pelo Papa Félix V em 1444.

Em 1534 Pero Rodrigues Cardoso, o Surdo, institui na parte da Quinta do Loureiro que pertencia a sua mulher Catarina de Figueiredo do Loureiro, o morgadio dos Cardosos ou de Santa Luzia do Loureiro, vinculado à Capela de Santa Luzia na mesma Quinta. Esta capela, ligada à casa apresenta uma fachada do séc. XVIII com o brasão deste ramo dos Loureiro Cardoso. Luís do Loureiro, o Grande, dono da outra parte da Quinta do Loureiro, iria instituir em 1551 o morgadio do Loureiro, vinculado à Capela de Nossa Senhora da Encarnação, também da mesma Quinta. Foi Cavaleiro Fidalgo da Casa Real, o 1º Adaíl-mór do Reino, Fidalgo do Conselho de D. João III, Governador e Capitão-general de Tânger, Arzila, Safim e Mazagão e os seus feitos nas praças do norte de África ficaram memoráveis. D. João III deu-lhe armas novas que se podem ver na fachada da Capela de Nossa Senhora da Encarnação, desligada da casa, com traços manuelinos com uma cruz no fecho da abóboda. Ambos os morgadios continuaram na Quinta do Loureiro, com grandes rivalidades entre os dois ramos, tendo o solar sido dividido com grossas pedras de granito.

Em 1782 a Quinta do Loureiro viria a ser reunificada com o casamento do XI morgado do Loureiro Manuel do Loureiro Castelo Branco de Nápoles e Queiroz com a X Morgada dos Cardosos, Maria Joana Cardoso do Loureiro de Melo Sampaio. Após a extinção dos morgadios em 1863, e não havendo descendência dos últimos morgados, foi a Quinta do Loureiro vendida a Joaquim Santos Lima, natural de Casal Sancho, da freguesia vizinha de Santar, que fez grandes obras de recuperação do solar, instalações agrícolas e vinhas. Seu filho Álvaro sucedeu-lhe na gestão da Quinta e doou à Freguesia de Silgueiros o Largo da Feira com a condição de não poderem ser abatidas as grandes árvores que aí havia nem proceder a qualquer construção para além de uma escola. Ofereceu ainda o terreno para o novo cemitério uma vez que o antigo, construído onde outrora tinham estado parte das vinhas doadas por Daganel e D. Sancha no séc. XII, se encontrava cheio.

Sucedeu-lhe, na Quinta do Loureiro, o seu filho Rodrigo Santos Lima que aumentou a área das vinhas, comprando propriedades que outrora tinham pertencido aos morgados do Loureiro e ofereceu à Freguesia os terrenos para a construção da Igreja e Casa Paroquial e ainda para a construção da sede da Junta de Freguesia e Centro de Saúde. Iniciou um programa de renovação e replantação das vinhas, continuado por sua mulher Maria Virgínia de Castro Corrêa Santos Lima. Recuperaram a Casa e as duas Capelas que aqui subsistem juntamente com a Torre medieval, sendo sede de uma vasta área de vinhas da região do Dão. A adega de Silgueiros foi também construída em terrenos que lhe pertenceram.

A Quinta do Loureiro e propriedades anexas (130 ha), desenvolve a sua actividade ao longo de quase 100 ha de vinha e matas e desde sempre esteve a ela ligada, até ao fim do século passado, a Quinta da Póvoa Dão, com cerca de 120 ha, banhada pelo Rio Dão e atravessada por uma estrada romana, com a sua aldeia medieval e capela dedicada a Santo Amaro, onde viviam mais de 30 caseiros que exploravam os terrenos agrícolas e vinhas. É constituída ainda por uma vasta área de matas e agora, esta aldeia privada, tendo sido recuperadas as suas casas, é uma atração turística com inúmeros visitantes.

Também aqui se encontra, desde tempos imemoriais, o “Lusitano”, ídolo pré-romano celta, e no vizinho “Pinhal da Moura” são visíveis os túmulos antropomórficos datáveis das últimas centúrias do primeiro milénio (d.C.) sendo também referências patrimoniais da Quinta do Loureiro. A sua Torre já existente no séc. XII, como elemento essencial de uma Honra, sofreu ao longo dos séculos diversas intervenções, de melhoramento e reconstrução nomeadamente no séc. XVI e XVIII, quando foi colocado o brasão que se vê e sob o qual sem encontra a seguinte inscrição “Torre e solar da antiga e nobre casa do Loureiro e tronco deste apelido reedificada por seu décimo 5º Senhor e legítimo Morgado Joam de Almeida do Loureiro Cardoso Vasclos”. As lagaretas romanas perto da Quinta do Loureiro, em terrenos que pertenceram em tempos idos aos senhores do Loureiro, permitem concluir que a cultura da vinha tem aqui presença desde a época da ocupação romana que se iniciou antes de Cristo e que desde o séc. XII, há cerca de 850 anos, comprovadamente a vinha aqui se cultiva quando em 1186 os senhores da Honra e Quintã do Loureiro doam vinhas para sustento do Padroado que instituem.

Entra-se na quinta por um portal que dá para um imenso terreiro onde até há pouco pontuavam enormes tílias entretanto abatidas ou bastante danificadas pelo ciclone “Leslie”, distinguindo-se ainda um enorme Teixo, classificado como Árvore Monumental de Portugal, que se crê anterior à nacionalidade. Ao lado vêm-se duas grandes pedras graníticas, que são os restos de uma Anta.

A casa, de planta em U, encontra-se à esquerda e, à direita e em frente, encontra-se o imenso conjunto de instalações agrícolas como a adega, os lagares, os celeiros, a abegoaria e casa de caseiros. A área agrícola desenvolve-se em torno da casa, estando hoje na sua grande maioria ocupados por vinha.

À esquerda da casa, encontram-se a abegoaria e um espaçoso pátio outrora totalmente fechado. Subsiste a parede norte encimada por um corredor-varanda, coberto por pérgula, que liga diretamente ao primeiro andar da casa, com vista sobre o Caramulo. Deste pátio acede-se à parte de trás da casa. Ao longo da fachada norte corre um largo caminho que se estende para poente, bem além do comprimento da casa, rematado por muro com conversadeiras que já foi coberto por ramada de vinha, e que conduz aos campos de vinha. À esquerda um caminho conduz a um pombal e outro à direita, depois de passada uma pequena ruína de um antigo beiral, leva a um outro pequeno edifício em plena vinha e mais abaixo encontra-se um grande Eucalipto (Árvore Monumental de Portugal). Neste cruzamento existe uma outra bifurcação de caminhos, seguindo o da direita encontra-se uma pequena fonte, seguindo o da esquerda, ao longo de uma alameda de tílias (das quais uma, também classificada, foi fortemente danificada em 2018 pelo referido ciclone) chega-se a uma enorme fonte com tanque quadrado afundado, enquadrado por muros com bancos e ao qual se acede por uma escada. Continuando no caminho, ao longo das vinhas, chega-se a um pequeno bosquete e encontra-se um portão no muro da propriedade. Aqui encontra-se a Sequóia (Árvore Monumental de Portugal).

O jardim desenvolve-se a norte da casa, em quota inferior ao caminho ao longo da casa, com acesso por escada. É todo murado, organizado em diferentes canteiros com jardins de buxo e pomares e tendo duas fontes com nascentes de água em quota inferior. A escada tem à direita uma das fontes e à esquerda desenvolve-se num patamar um pequeno e distinto jardim com alegretes, bancos, canteiros e tanques em pedra e canteiros de buxo com plantas anuais e camélias. A partir da segunda fonte segue-se uma alameda de buxos de grandes dimensões, paralela ao caminho que prolonga a escada, e que dá acesso aos diferentes canteiros onde estão instalados os pomares.

A Quinta com os seus 20 ha delimitados por muros de granito seiscentistas, a casa, a torre medieval, capelas, jardim e tanque renascentistas foram classificados, pela Câmara Municipal de Viseu e por recomendação do IGESPAR, como Imóvel de Interesse Municipal em 2004. Tem no seu parque quatro árvores classificadas pela ex-DGF como Árvores Monumentais de Portugal.

Imóvel de Interesse Municipal, 2004

Inventário: José Castro Canelas / Teresa Andresen – junho de 2018

inserido na ROTA DO DÃO

Quinta do Loureiro

AMARAL, Augusto Ferreira do, Mazagão – A Epopeia Portuguesa em Marrocos, Lisboa 2007

COELHO, José, Memórias de Viseu, Viseu 1941

Fundo dos Morgados do Loureiro, Arquivo Distrital de Viseu

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Página Editora

SOVERAL, Manuel Abranches de, Ascendências Visienses, Porto 2004

SAMPAYO, Luiz de Mello Vaz de, Subsídios para uma Biografia de Pedro Álvares Cabral, Coimbra 1971

Largo da Feira de Silgueiros