Parque Florestal de Monsanto
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Parque Florestal de Monsanto
Localizado na zona Oeste da cidade de Lisboa, o Parque Florestal de Monsanto (PFM) ocupa a maior parte da Serra de Monsanto. Abrange as freguesias de Campolide, S. Francisco Xavier, Stª Maria de Belém, Stº Condestável, Alcântara e Ajuda. Tem como limites a linha de comboios de Sintra da CP a Norte, a Avenida de Ceuta a Este, a Estrada Nacional n. º 6 a Poente. O PFM encontra-se rodeado pelos bairros: Bairro da Boavista; Bairro do Calhau; Bairro do Alto da Serafina; Bairro da Liberdade; Bairro do Alvito; Bairro do Caramão, Bairro da Ajuda; Bairro da Guarda Nacional Republicana; e o Bairro de Caselas. (Camara, 2012; Jácome, 2013).
Em 1868 nasce a primeira intenção de criar um parque florestal na descarnada serra de Monsanto, em Lisboa, mas só em 1934 surge por Decreto-Lei do ministro das Obras Públicas, engenheiro Duarte Pacheco (1899-1943), a criação do Parque Florestal de Monsanto ainda hoje o maior parque da cidade de Lisboa, ocupando uma área de cerca de 900 hectares.
Em 1946 foram executadas as primeiras plantações e criaram-se áreas de lazer e recreio para a população. Também nesse ano e da autoria do arquiteto Keil do Amaral (1910-1975) inauguraram-se os primeiros acessos, o Parque Infantil do Alvito, o clube de ténis e o restaurante-miradouro de Montes Claros.
Foram vários, desde 1939, os planos de arborização propostos com o intuito de plantar as espécies ideais e que melhor se adaptassem às condições de clima, solos e geologia da Serra de Monsanto, de referir como projetos piloto o contributo de estudos como a evolução das cartas de arborização do engenheiro silvicultor Joaquim Rodrigo (1912-1997), do arquiteto paisagista Viana Barreto (1924 – 2012), do engenheiro silvicultor Souto Cruz e do engenheiro silvicultor Fernando Louro Alves, entre outras importantes colaborações. Em 2010, o Parque Florestal de Monsanto (PFM) é considerado Floresta Modelo (CML, 2010).
Desde 2012 que integra um corredor verde, que é uma das realizações mais notáveis do arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles. O conceito implementado é uma peça fundamental da estrutura ecológica da cidade, interligando espaços verdes e criando uma estrutura natural continua em Lisboa, que apresenta 5km de extensão e 51ha de área. A criação do parque na Serra de Monsanto na periferia da cidade revela uma abordagem marcante aos espaços verdes urbanos integrados na escala mais vasta da área metropolitana e da expansão da cidade. Considerado como o seu “pulmão verde”, representa um parque de referência cumprindo um papel vital na cidade de Lisboa.
Do ponto de vista histórico a serra de Monsanto encerra em si um legado riquíssimo desde o período pré-histórico quando os povos descobriram na serra um potencial inigualável para ali se fixarem. A proximidade da ribeira do Jamor e de Alcântara e do rio Tejo, a existência de pedreiras de sílex, e a proteção oferecida pela densa floresta faziam de Monsanto um lugar ideal para viver. Testemunhos deste passado são as descobertas arqueológicas do período Paleolítico nas Estações do Casal de Monte e do Moinho das Cruzes e do período Neolítico na estação de Vila Pouca. Durante o Império Romano, pelas necessidades de abastecer Lisboa aumentou a área agrícola bem como houve necessidade de “destruição” de floresta, dando lugar à cultura do trigo e pastoreio. (Barreto, 1952).
No século XVI a Mata de S. Domingos de Benfica, no século XVII a Mata do Palácio dos Marqueses de Fronteira e a do Paço Real de Alcântara (hoje a Tapada da Ajuda) ocupavam a meia encosta da serra de Monsanto como coutos de caça e matas onde se recriava a nobreza de Lisboa. No século XVIII o rei D. João V faz passar por esta serra a construção do aqueduto das águas livres e a primeira ideia de rearborizar a descarnada serra de Monsanto nasce em 1868. No entanto só quase 60 anos depois em 1926/27 os irmãos médicos MacBride e o urbanista francês Forrestier apresentaram as primeiras propostas para a serra. O projeto dos irmãos MacBride tinha como principal objetivo dar um “pulmão verde” à cidade Lisboa, criar zonas de lazer para população, desenvolver as vias de comunicação, transportes e melhorar ou implementar infraestruturas, como esgotos, gás, água, telefone e eletricidade. Tinha também preocupações de arborização, higiene, saúde pública e planeamento de arruamentos no desenvolvimento de novos bairros da cidade. (Matoso, 2002/2003) A sugestão apresentada pelos MacBride procurava enriquecer a cidade com um bosque em anel desde o Campo Grande a Monsanto à semelhança de outras cidades modernas estrangeiras. O urbanista Forrestier propunha uma solução mais centralizada de um grande bosque com jardins e campos de jogos. (Tostões,1992).
Estas propostas acabaram por ser rejeitadas pela CML, mas a sua divulgação poderá ter ajudado a uma rápida concretização do Parque pois em 1934 surge o decreto-Lei de Duarte Pacheco criando o Parque Nacional de Monsanto, e em 1936 já como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa põe em ação o projeto. Em 1938 a necessidade de criar uma saída ocidental de Lisboa e um acesso para a Costa do Sol, de acordo com o Plano Diretor de Gröer, obrigou a uma revisão do projeto, e para tal são convidados o engenheiro silvicultor Joaquim Rodrigo (1912-1997), e o arquiteto Keil do Amaral (1910-1975). É também este o ano das expropriações inéditas do país, para o serviço de utilidade pública, de terrenos contíguos ao parque (Tostões, 1992) Todo este processo demorou cinco anos e em 1943 finalmente estava definida toda a extensão do Parque Florestal de Monsanto, com uma área de cerca de 1000 hectares. (Rodrigo, 1943).
Para se inspirar para o projeto do parque o arquiteto Keil do Amaral fez uma visita aos parques de França, Inglaterra, Alemanha e Holanda. A floresta Fontainebleau, o bosque de Vérrièrres nos arredores de Paris e o bosque de Amesterdão foram os que Keil achou que melhor se adaptavam a Monsanto. Ficando assim definido que o parque seria um bosque natural, com diversos equipamentos de desporto, lazer e miradouros. (CML, 1998).
Em 1946 realizaram-se as primeiras plantações e muitas áreas foram preparadas para o público. Do projeto do arquiteto Keil do Amaral estabeleceram-se os primeiros acessos, o Parque Infantil do Alvito, o clube de ténis e o restaurante-miradouro de Montes Claros. Este último é um projeto que data de 1939, da autoria de Keil do Amaral. É considerado como símbolo de Monsanto, enquanto zona de estadia. “Apresenta uma composição clássica, com uma estrutura rígida segundo um eixo de simetria que determina a pérgula circular, onde ocorre um jogo de sombra e luz de um lado e a Casa de Chá no outro. É centralizado por um espelho de água envolvido por relva e adaptado ao terreno do antigo forte.” (Grilo, 2014) Os materiais mais utilizados, são o tijolo, o ferro forjado e a pedra bojardada, com uma marca de robustez e simplicidade que se insere já nos primórdios do modernismo.
Existem ainda outros miradouros, dos finais dos Anos 30 do século XX, que tinham como conceito o aproveitamento dos moinhos e plataformas dos fortes (Grilo, 2014) nomeadamente: Miradouro dos Moinhos do Mocho, Miradouro da Luneta dos Quartéis, o Miradouro do Moinho dos Alferes e o Miradouro da Pedreira do Penedo.
O Parque Infantil do Alvito, também desenhado por de Keil do Amaral, tem cerca de 3 hectares. No projeto inicial constava apenas um parque infantil, no entanto recebeu mais tarde uma inovação para a época, uma piscina infantil (Tostões, 1992). Entre 2003 e 2005 foi remodelado, de forma a melhor corresponder às necessidades de quem o frequentava. Atualmente trata-se de uma área polivalente, dividido em vários patamares, com os equipamentos infantis dispostos segundo as faixas etárias. A acrescentar a estes equipamentos, possui ainda um Centro Cultural Infantil Adolfo Simões, um polidesportivo e uma zona de merendas. (Grilo, 2014).
Existem ainda outras estruturas e espaços que compõem e enriquecem o parque tais como: a Casa de Chá de Montes Claros, o Clube de Ténis, o Restaurante Panorâmico. Em 1970, face à forte pressão urbana de que o PFM estava a ser alvo, é publicado um decreto de lei que reforça o conceito de “utilização pública” do parque, para a instalação de infraestruturas de índole formativa, informativa e outras de utilidade pública (Alves, 1983; Alves, 1990). e em maio de 1979 definiu-se a delimitação rigorosa do Parque, que foi aprovada pela CML, e pela Direção Geral das Florestas que veio a impedir definitivamente o avanço da malha urbana sobre a área do parque. (Cruz et. Al, 1988).
Cerca de cinquenta anos mais tarde são inauguradas novas áreas recreativas como o novo parque do Alto da Serafina e Calhau (1992); o Parque Recreativo dos Moinhos de Santana (1997), a Alameda Keil do Amaral para circuito de manutenção (2003); diversos parques de merendas (Mata de São Domingos, Parque Recreativo do Calhau, Parque de Merendas do Alvito, Parque da Pedra, Parque de Merendas do moinho do Penedo, Vila Guiné); zonas desportivas; restaurantes e parque de campismo; o espaço Monsanto (1996), o centro de interpretação de Monsanto e espaço de biodiversidade (1997) e o Corredor Verde de Monsanto (2012). Este último projeto encontra-se inserido na estrutura ecológica da área metropolitana de Lisboa e estabelece a ligação entre o Parque Eduardo VII e o PFM.
O Parque Florestal de Monsanto proporciona condições de abrigo e de recursos alimentares muito atrativas. Assim podemos encontrar exemplares de 60 espécies diferentes de aves, repteis, borboletas, pequenos mamíferos que encontram no parque e na sua vegetação (plantada na década de 40 do seculo XX ) habitat adequado para o crescimento de diversas espécies da fauna. Quanto à vegetação os povoamentos mais significativos são à base de: Pinus pinea (pinheiro manso); Pinus halepensis (pinheiro do Alepo); C. lusitanica, C. sempervirens e C. Macrocarpa (cupressus spp); Quercus suber (sobreiros); Quercus rotundifolia (azinheira); Quercus faginea (carvalho cerquinho); Quercus robur (carvalho alvarinho); E. globulus, E. camaldulensis, E. rostrata, E. saligna. E. sideroxylon, E, viminalis, (eucalyptus spp.); Acacia melanoxylon, A. longifolia. A karoo, A. dealbata, A. decurrens etc. (acacia spp.); Pinus canariensis (pinheiro das canárias); Platycladus orientalis (tuia da China); Olea europaea (oliveiras e zambujeiros), Ulmus minor (ulmeiros), Fraxinus angustifolia e Fraxinus ornus (freixos).
O Parque Florestal de Monsanto é um local muito atrativo do ponto de vista paisagístico, com contraste de mata densa e aberturas pontuais sobre o rio e a cidade, que conferem grandes amplitudes de vistas. Oferece um vasto conjunto de atividades, disseminadas pelos vários espaços que o constituem e é reconhecido pelo seu valor ecológico, estético, social, recreativo e um relevante hotspot da biodiversidade urbana. (Cruz, et.al., 2012; Semenzato, et.al, 2010; Soares, A.L.; Castel-Branco, 2007).
Inclui EFIP - Espécies Florestais Classificadas de Interesse Público, Parque Florestal de Monsanto - manchas 1, 2 e 3 - bosquetes de montado misto de sobreiro/azinheira, Aviso nº 8952/2005, DR, 2ª série, nº 198 de 14 outubro 2005 / Parque Florestal de Monsanto - manchas 4 e 5 - bosquetes de zambujeiro, Aviso nº 8952/2005, DR, 2ª série, nº 198 de 14 outubro 2005 / Parque Florestal de Monsanto - manchas 6, 7 e 8 - bosquetes mistos de sobreiro/azinheira, Aviso nº 5/2007, 2 janeiro 2007 / Parque Florestal de Monsanto - mancha 9 - maciço de sobreiro, Aviso nº 5/2007, 2 janeiro 2007 / Parque Florestal de Monsanto - mancha 10 - maciço de pinheiro-das-canárias, Aviso nº 896/2000, DR, 2ª série, nº 15 de 19 janeiro 2000 / Parque Florestal de Monsanto - mancha 11 - maciço de carvalho-cerquinho, Aviso nº13/2009, 9 novembro 2009. Inclui Aqueduto das Águas Livres / Quinta dos Marqueses de Fronteira / Forte do Alto do Duque.
Texto de Inventário: Ana Luísa Soares – 2020; Teresa Grilo e Ana Raquel Cunha – 2020.
Adaptação: Cristina Castel-Branco – 2020.
Parque Florestal de Monsanto
(Consulta em 2020)
ALVES, F. L. – Aspectos de fitodinâmica no Parque Florestal de Monsanto. Lisboa: Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, 1983. Relatório Final de curso de Engenheiro Sivicultor (Não publicado).
ALVES, F.L. – Plano de Ordenamento e Revitalização do Parque Florestal de Monsanto. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, Departamento de Ambiente, 1990.
CAMARA, T. (2012); JÁCOME, M. (2013). PARQUE FLORESTAL DE MONSANTO (EM LINHA). IN SISTEMA DE INFORMAÇÃO PARA O PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO – FORTE DE SACAVÉM. Disponível na www: http://www.monumentos.pt/site/app_pagesuser/sipa .aspx?id=34085
CML (2010). PLANO DE GESTÃO FLORESTAL DO PARQUE FLORESTAL DE MONSANTO. CML, Lisboa. DISPONÍVEL EM WWW: http://www.icnf.pt/portal/florestas/gf/pgf/resource/ doc/2011/monsanto/PGF-PFM-Monsanto-v2011MAR.pdf
CML – Keil do Amaral: O Arquitecto e o Humanista. Lisboa: CML, 1998. CRUZ, C.S., Alves, F.L., Metelo, I.,Bogalho,V.,Santos,M.,Henriques,D., Almeida, J., SOUSA, M.; PEREIRA, H.M.; MATHIAS; M.L.; CARDOSO, M.C. – Biodiversidade na cidade de Lisboa: Uma estratégia para 2020. Lisboa: CML, 2012.
GRILO, T. C. O. – O Parque Florestal de Monsanto: Evolução Histórica e Contributo para a Sua Gestão. Lisboa: Instituto Superior Agronomia da Universidade de Lisboa, 2014. Dissertação de Mestrado em Arquitetura Paisagista (não publicada).
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SEMENZATO, P.; SIEVÄNEN, T.; OLIVEIRA, E. S.; SOARES, A.L.; SPAETH, R. – Natural Elements and Physical Activity in Urban Green Space Planning and Design. In: NILSSON, K.; SANGSTER, M.; GALLIS, C.; HARTIG, T.; VRIES, S.; SEELAND, K.; SCHIPPERIJN, J. (Eds) – Forests, Trees and Human Heath. New York: Springer, 2010, pp. 245-282.
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MATOSO, I. – O PROJECTO “BOSQUE DE LISBOA”. LISBOA: ESPÓLIO MAC-BRIDE, GABINETE DE ESTUDOS OLISIPONENSES, CML, 2002/2003.