Quinta dos Azulejos
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Quinta dos Azulejos
Integrada no conjunto de palácios, jardins e pracetas do património paisagístico do Paço do Lumiar, a quinta dos azulejos é uma joia do núcleo do antigo do Paço do Lumiar. Hoje servindo como Colégio Manuel Bernardes, foi em tempos uma importante quinta de recreio e produção dos arredores e Lisboa.
A Quinta dos azulejos foi encomendada por António Colaço Torres, filho de um ourives, e teve início em 1745, estendendo-se a sua construção por cerca de 10 anos. Em 1753 a família Real visitou a quinta pela primeira vez, um episódio que ficou registado num painel evocativo colocado entre as duas janelas centrais do andar nobre (movido para o alçado posterior em 1920-1921). Ao longo dos séculos XVIII e XIX a quinta foi sendo propriedade de várias famílias, tendo sido abandonada, maltratada e recuperada por diversas vezes. Finalmente em 1935, o padre Augusto Gomes Pinheiro (1893 - 1976) funda e instala o Colégio Manuel Bernardes na propriedade, dando-lhe um uso que permitiu salvaguardar a preciosa coleção de azulejos que revestem todos os elementos do patamar principal de um jardim que outrora foi muito maior.
O jardim, de planta quadrangular, desenvolve-se ao longo de um eixo longitudinal a partir da casa, de onde partem vários percursos, numa malha quase ortogonal, alinhados com os muros que o cercam. O jardim é pequeno mas está intensamente revestido a azulejos, produzidos na sua maioria na Real Fábrica de Faianças do Rato que se pode integrar numa fase inicial do rococó (1745-1755).
A entrada no jardim faz-se através de um portão de ferro ladeado por uma pérgula de glicínia em túnel e por uma série de colunas. As colunas, completamente revestidas a azulejos de cima a baixo, são oitavadas e encimadas por vasos de flores. Sobre o muro alto, que aumenta o efeito de estreiteza deste primeiro caminho, estão representadas cenas bíblicas e cenas galantes de jardim. Um pavimento estreito encaminha o visitante para o eixo nascente, onde painéis representam figuras mitológicas como Perseo, Andromeda, seguidos das Pleiades e Icaro, Eco, Narcizo, Alfeu, Aretusa, Liandro e Ero. Nos espaldares recortados dos canapés que rematam o outro lado do caminho, os azulejos representam cenas campestres e de jardim.
No eixo nascente encontram-se dispostos, em redor de um pequeno lago de pedra, um banco corrido curvo com costas de espaldar alto. A cada centímetro das elaboradas curvas do rococó foram minuciosamente colocados azulejos de forma a recobrir cada centímetro deste banco. Ao seu redor desenvolve-se uma estrutura de suporte formada por colunas oitavadas de capitéis novamente azulejadas. Sobre ela desenvolve-se uma segunda pérgula de glicínias. Quem se senta nestes “sofás” de cerâmica tem o conforto da sombra da pérgula, a frescura da água do lago e ainda, a beleza de uma fonte de espaldar de embrechados em frente, inserida também ela, em colunas e arcos azulejados.
O eixo central, truncado por uma construção que serve o atual colégio Manuel Bernardes, foi na sua origem um importante elemento. É um caminho ladeado por dois canteiros de buxo com rosas, strelitzias, hibiscos, e brincos de princesa. Se do portão de entrada passarmos para o eixo poente, voltamos novamente às colunas azulejadas de um lado e do outro, com painéis bíblicos que contracenam com estátuas das estações do ano. A maior surpresa temática surge neste eixo poente onde se sucedem painéis de azulejos que representam animais pintados com precisão apresentados pela sua classe de mamíferos, aves, etc. Aqui podemos encontrar inclusive animais exóticos de outros continentes, chegando até a ter um dôdô, ave que entretanto se extinguiu na Austrália. O conjunto da Quinta dos Azulejos é por tudo isto muito peculiar e digno de visita.
Classificado como IIP - Imóvel de Interesse Público: Decreto n.º 44 675, DG, I Série, n.º 258, de 9-11-1962
Texto de Inventário: Cristina Castel-Branco – 2013.
Adaptação: Guida Carvalho – 2019.
Revisão: Cristina Castel-Branco – 2019.
Quinta dos Azulejos
(Consultada em Novembro de 2019)
ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa: Centro de Estudos de Urbanismo, 1962. p. 156.
CARITA, Hélder; CARDOSO, António Homem – Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal: ou da originalidade e desaires desta Arte. [S. l.]: Edição dos Autores, 1987. pp. 216-224.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins com História: Poesia atrás de muros. [S.l.]: Edições Inapa, 2002. pp. 116-119.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins de Portugal. Lisboa: CTT Correios de Portugal, 2014. pp. 144-147.
GUIA de Portugal: Generalidades Lisboa e Arredeores I - Lisboa [S.l.] : Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. Vol. 1. p. 450.
http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/palacete-da-quinta-dos-azulejos
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J43&qid=sdx_q51
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3145
http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/323336/