Quinta da Francelha

Lisboa | Loures

Quinta da Francelha

O núcleo primitivo da Quinta da Francelha, originalmente com cerca de 70 hectares, foi construído no século XVII e nos finais do século XVIII, por Félix Martins da Costa, antepassado dos atuais proprietários, que decide aumentar e adornar a casa construindo a ala principal, a capela e revestindo integralmente a frescos a casa e a capela.

Num local de boa terra de cultivo, a Quinta está situada na freguesia de Sacavém, no concelho de Loures e encontra-se atualmente muito cerceada pela expansão urbana de Prior Velho e da zona envolvente ao Aeroporto da Portela em Lisboa.

Em redor da casa foram plantadas vinhas, árvores de fruto, horta e o jardim com sebes de buxo, que limitavam canteiros, sombreando os caminhos pelos parreirais, e ornamentando-os com murtas e cupressus (Patrício, 1935, pp. 173-174). Na mesma altura, Félix Martins da Costa, construi um sistema hidráulico para assegurar a rega das culturas e jardins para o regalo e o encanto dos seus olhos (Patrício, 1935, p. 174) e o garante de boas colheitas.

O vinho “Charneco”, premiado por várias vezes internacionalmente, deixou de ser produzido quando as vinhas da Quinta da Francelha foram integralmente destruídas pela filoxera (monumentos.pt). Atualmente, a área da Quinta está reduzida, devido à pressão urbanística que se faz sentir nos seus arredores, mantendo-se apenas o núcleo habitacional, os jardins e hortas adjacentes à casa.

O referido sistema hidráulico da Quinta da Francelha foi originalmente composto por um poço de onde era elevada a água através de uma nora movida por um boi com “alcatruzes” (Patrício, 1935, p. 174). A nora esteve ativa até ao início do século XX altura em que foi substituída por um moinho mais moderno de armação americano (Dias e Galhano, 1953, p. 44) o qual ainda se encontra sobre o poço, mas também desativado desde finais do século XX. Ao ser elevada, a água, entrava nos canais suportados por pilares – o aqueduto – junto do poço, entrando posteriormente na estrutura da casa seguindo até ao chafariz da Castelhana onde se encontra uma cisterna que além de alimentar o chafariz contíguo, pensa-se que também poderia servir o lagar, edifício adjacente à mesma.

O aqueduto encaminhava a água para os campos secos, o lago com uma pequena cascata de embrechados (Patrício, 1935, p. 168) e uma bica, junto do mesmo lago, de onde era retirada água para diversos fins.

A horta, a cota inferior, era regada pela água do poço que se armazenava no tanque grande (Patrício, 1935, p. 174), hoje transformado em piscina. Atualmente está instalada uma bomba elétrica no poço que eleva a água e, por tubagens subterrâneas, a distribui pelas áreas a regar.

Em 2010, no âmbito do projeto EEAgrant coordenado pela Associação Portuguesa de Jardins e Sítios Históricos (atual AJH), os proprietários da Quinta da Francelha optaram pela melhoria da drenagem das águas pluviais do pátio de entrada, e do jardim principal a Sul da casa e novo limite Oeste da Quinta, melhorando, consequentemente, a drenagem do pomar. Também foi feito o restauro do jardim de buxo a Norte da casa, onde uma fonte de embrechados, revestida a conchas e ostras se encontrava parada há décadas.

Os proprietários também manifestaram interesse no restauro da pequena cascata de embrechados de finais do século XVIII, a qual deixou de receber água no momento em que foi desativado o aqueduto. O restauro da fonte de embrechados dá já vida ao pequeno jardim de características peculiares onde se conjugam os espaços de lazer, os bancos e buxos e os pequenos pavilhões do alambique/ adega e pombal. Este restauro foi executado de acordo com as Cartas e Convenções Internacionais dirigidos a Jardins e Sítios Históricos, como a Carta de Florença.

O seu valor patrimonial foi reconhecido com a classificação de Imóvel de Interesse Público em 1983 (D.L. nº. 31/1983, DR, I Série, nº. 106, de 9 de Maio).

Texto de Inventário: Inês Fontes – 2010

Adaptação: Margarida Pais – 2020

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020

Quinta da Francelha

(Consulta em 2010 e Maio de 2020)
PATRÍCIO, M.M.M. – Rosário da Vida: Quando eu era pequenina… (Dezenas de Alegrias). Lisboa: Escola Tipográfica Oficinas de São José de Lisboa, 1935.
DIAS, J.; GALHANO, F. – Aparelhos de Elevar a Água de Rega: Contribuição Para o Estudo do Regadio em Portugal. Porto: Edição da Junta da Província do Douro Litoral, 1953.
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6306
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72951/
https://heraldicagenealogia.blogspot.com/2014/10/casa-da-francelha-loures-sacavem-prior.html

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