Jardins do Palácio de Seteais
Lisboa | Sintra
Jardins do Palácio de Seteais
A Quinta e Palácio de Seteais de estilo neoclássico, foi mandada construir em 1760 pelo rico comerciante e Cônsul da Holanda em Portugal, Daniel Gildemeester. Está localizada em Sintra e ergue-se no meio de um terreno acidentado, de onde se pode avistar o oceano Atlântico, o Palácio da Pena e o castelo dos Mouros. Funciona atualmente como Hotel do grupo Tivoli Hotels & Resorts.
No fim do século XVIII, uma parte do terreno é comprada por Daniel Gildemeester, cônsul da Holanda e um dos grandes negociantes estrangeiros atraídos a Portugal pelo Marquês de Pombal. Obtendo o monopólio da exportação de diamantes, torna-se muito depressa o homem mais rico do país. Inquilino do grande estadista em Lisboa, nas Janelas Verdes, manda construir esta mansão em Sintra por volta de 1787, procurando rivalizar um pouco com o palácio de Monserrate, que tinha acabado de construir o seu amigo íntimo, o Inglês Devisme.
O palácio comportava então um único corpo de edifícios. A fachada é sóbria, ornada de elementos ao gosto neoclássico posto em voga pelos irmãos Adam, em Inglaterra. De cada lado da porta, dotada de um frontão triangular, alinham-se as janelas que, tal como as do primeiro andar, são pontuadas por ombreiras muito simples. O conjunto é encimado por um andar ático enfeitado com grinaldas, vasos e bustos, como nos palácios de Queluz e Oeiras. Quando Gildemeester inaugura o seu palácio, entre os convidados para a festa do seu aniversário, no dia 25 de julho de 1787, conta-se William Beckford.
Este descreve no seu diário quão esplêndido foi o repasto, quão soberbos os pratos e quão magnífica a imensa mesa de 15 a 18 metros de comprimento, ornada de estátuas douradas e de vasos de prata enfeitados com flores. Acrescenta, todavia, que “o espaço diante do novo edifício se encontra ainda numa triste desordem [...] a casa tem todas as paredes nuas e em certas divisões só existe uma vela”. O grande negociante morre alguns anos mais tarde, em 1793. A sua fortuna, mal gerida, encontra-se já bastante diminuída; provavelmente um pouco antes de 1800 o seu filho Daniel, também cônsul da Holanda, vende o palácio pela soma de 14 contos de réis a D. Diogo José Vito de Menezes Noronha Coutinho, quinto marquês de Marialva.
Com este perfeito fidalgo, estribeiro-mor da rainha, membro de uma das mais opulentas famílias do reino, começa então uma época benéfica para a casa. D. Diogo manda construir um segundo corpo simétrico, menos profundo, cuja função é sobretudo cénica. Faustoso, edifica em 1802 um arco de triunfo comemorativo, após uma visita do príncipe-regente, o futuro rei D. João VI, e da princesa D. Carlota Joaquina e aí ainda o arquiteto que utiliza um vocabulário neoclássico. No topo, um enorme troféu enquadra a efígie dos soberanos, encimada pela coroa real. No centro, uma inscrição que não economiza os superlativos perpetua a memorável receção e testemunha o seu reconhecimento ao príncipe-regente “pela paz que desejamos nestes tempos difíceis [...] conseguida não pela força das armas, mas pela sabedoria e prudência e justiça do seu espírito”; homenagem bem atual nessa época perturbada pelas conquistas francesas, em que a paz imposta à Europa é bem frágil.
O marquês de Marialva instala-se luxuosamente. Remodela o interior, reveste as paredes de sedas e mobila a casa com cuidado. Em 1803, um ano após se ter erguido o arco de triunfo, o marquês de Marialva morre.
O terreiro que a precede o palácio e que funciona como um excelente ponto de vista para a Serra Sintra é vasto e tem uma história prévia ao palácio. Foi logradouro público destinado ao exercício das tropas e ao passeio dos habitantes. A Câmara de Sintra defendeu sempre este espaço como publico garantido por um documento de base de 1801 onde, que decreta entre outras obrigações, o proprietário “deve deixar pelo menos duas portas francas e públicas, para que toda a gente' possa entrar e sair livremente, sem algum impedimento, e em qualquer altura”. As duas portas existem ainda e de cada lado uma estrada ladeada de plátanos leva à rua fronteira ao palácio em pavimento de basalto irregular e sem intenções ou dimensões monumentais.
A partir das janelas da fachada traseira se goza e se entra no jardim de buxo geométrico, donde se estende a vista sobre a serra, e o mar e se vê o palácio de Sintra, confirmando a acertada escolha paisagística feita pelo do cônsul holandês.
Ao longo do século XIX o palácio perde progressivamente o seu esplendor e em 1919 é vendido a José Rodrigues de Sucena cujo filho, o conde de Sucena, é o último proprietário antes da compra pelo estado em 1946.
Em 1954 foi ali inaugurado um hotel de luxo que preservou o edifício então existente e que se conserva como hotel até aos dias de hoje.
O Palácio de Seteais, incluindo o conjunto de construções e terreiro vedado, jardins, terraços e quinta, foi classificado como Monumento de Interesse Público em 1947, segundo o Decreto n.º 36 383, DG, 1.ª série, n.º 147 de 28 junho 1947. Está também incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais., e faz parte da Paisagem cultural na Lista do Património Mundial.
Texto: Adaptado de Anne de Stoop – 1999.
Adaptação: Margarida Paes – 2020.
Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.
Jardins do Palácio de Seteais
(Consulta em Maio de 2020)
ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa: Centro de Estudos de Urbanismo, 1962. p. 156.
BINNEY, Marcus – Country Manors of Portugal. Lisboa: Difel, 1987. pp. 52-57.
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PEREIRA, Artur D.; CARDOSO, Felipa Espírito Santo; CORREIA, Fernando Calado. – Sintra e suas Quinta. Sintra: Edição dos Autores, 1983, pp. 54-55.
STOOP, Anne de; ABREU, Maurício (fot.). – Quintas e Palácios nos arredores de Lisboa. Porto: Civilização, 1999.
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6094
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72840