Quinta de Na. Sra da Conceição
Lisboa | Almada
Quinta de Na. Sra da Conceição
A Quinta de Nossa Senhora da Conceição, com uma área de 60ha, fica localizada a Sudoeste de Murfacém, freguesia da Trafaria, concelho de Almada e distrito de Setúbal. Faz parte de uma tipologia de quintas instaladas na margem Sul do Tejo, nos séculos XVI e XVII, que se foram desenvolvendo à medida das necessidades de Lisboa em frescos e produtos agrícolas.
Segundo estudos arqueológicos realizados na freguesia da Caparica (Ferreira e Silva, 2006, p. 3), a ocupação humana é, nesta zona, permanente desde a pré-história. A época Romana deixou vestígios sob a forma de tanques de salga de peixe e os Árabes deixaram os poços e noras cujo saber chegou aos dias de hoje.
A meados do século XIX ocorreram mudanças estruturais que deram início ao declínio agrícola, com o aparecimento de doenças na vinha, a construção do caminho-de-ferro, a extinção das ordens religiosas e o fim dos morgadios. No século XX, uma nova classe económica estabelece-se na região e vem desenvolver a indústria e transformar as quintas agrícolas em quintas também de recreio (Silva, 2018, p. 71). As populações vindas de todo o território para trabalhar nas indústrias da península de Setúbal ditaram o crescimento urbano que descaracterizou toda a região da margem sul.
A Quinta Nossa Senhora da Conceição, que chegou aos nossos dias preservando a maioria dos seus 60ha, tem uma importância cultural como testemunho vivo da ocupação daquela paisagem nos últimos 500 anos.
Historicamente, em 1550, o primeiro registo referente à quinta, alude à construção de uma Capela, por Lourenço de Sousa e Silva (Pereira, 2015, p. 39), dedicada a Nossa Senhora da Conceição, ainda hoje em bom estado de conservação, e um Ermitério para receber uma comunidade de Frades Franciscanos da Província da Arrábida que aí se acomodam, em casas construídas num dos extremos da propriedade (Gaivão, 2019). Em 1558, por razões de insalubridade, os frades abandonam o local para se estabelecerem, no “Convento dos Capuchos”, mandado construir por Lourenço Pires de Távora.
A família Guedes Pereira, fidalgos da Casa Real, compram a propriedade na primeira metade do século XVII e aumentam consideradamente a sua área ao adquirir diversas courelas e quintas confinantes: a Quinta da Pêra de Cima, o Casal do Zambujal e a Quinta da Bica (Gomes, 2018), e constroem a Casa Nobre e o assento de Lavoura.
Em 1870 a quinta é adquirida por João Theodoro Pinto Basto, filho de José Ferreira Pinto Basto, fundador da Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre em Aveiro, que nela faz grandes melhorias e conserva a capela quinhentista. Presentemente habitam na propriedade os seus herdeiros, que transformaram diversas estruturas do assento de lavoura em habitações as quais se encontram em bom estado de conservação, tendo perdido boa parte da sua função agrícola.
A Capela de 1550, de estilo Manuelino, é ladeada de um pequeno Jardim longitudinal murado com um tanque central e quatro conjuntos de canteiros simétricos. No muro Norte e Oeste existem conversadeiras com alegretes entremeados. Este jardim encontra-se entre a Capela e o Ermitério, edifício com a fachada virada a Nascente, e é rematado por muretes encimados por colunas de pedra formando pérgula até ao edifício contíguo. Todo o conjunto – Capela, Jardim e Ermitério – formam uma estrutura una e em diálogo permanente com o pomar logo abaixo que se encontra sem árvores e tem no centro um grande poço com colunas onde assenta o mecanismo para levantar água.
A disponibilidade em água na quinta era garantida por dois poços e uma mina. O Poço da Nora e o Poço do Pomar abasteciam três tanques: Tanque de “Cima”, do “Meio” e de “Baixo” e ainda o pequeno lago que se encontra no jardim do ermitério. A distribuição de água entre os diversos poços e tanques é garantida por uma rede de caleiras que ainda se encontram no terreno.
A Mina de Água encontra-se no limite Sul da propriedade, junto ao núcleo habitacional de Pêra e os muros limítrofes existentes correspondem à Cerca Conventual que existiu e ao Assento de Lavoura. Os Caminhos que saem da Assento de Lavoura dividem-se em duas Alamedas principais arborizadas que marcavam o espaço total da quinta. Um facto curioso sobre a vegetação é a abundância de Crataegus monogyna que se prende com um gosto especial da família.
Inventário: Anabela Marcos Pereira – 2020.
Revisão: Cristina Castel-Branco, 2020.
Quinta de Na. Sra da Conceição
(Consultada em Maio de 2020)
MATOS, Maria Vitalina Leal de – Lírica de Camões, Antologia. Alfragide: Caminho 2012.
GAIVÃO, L. M. A. – Quinta de Nossa Senhora da Conceição: A Protecção da Memória da Caparica. Requerimento para a Classificação como Imóvel de Interesse Municipal. Évora: inédito, 2019.
PEREIRA, João Maria de Almeida Frescata Correia – O Uso da Tecnologia BIM em Património Histórico, Um Caso de Estudo: O Convento dos Capuchos da Caparica (Almada). Lisboa: IST, 2015. Dissertação de Mestrado em Arquitetura.
SOUSA, AC. – História Genealógica da Casa Real Portugueza, Tomo X. Lisboa: Oficina Sylviana, 1743.
SILVA, Ana Sofia Farinha da – As Quinta da “Outra Banda”: de um passado rural a um futuro cultural. Volume I. Évora: Universidade de Évora, 2018. Dissertação de Tese de Mestrado em Arquitetura Paisagista (não publicada).
ANTT – ADLisboa – Paróquia S. Mamede, Livro de Assentos de Batismos – 1751/1766, fl.98 (m1173).
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