Quinta da Nossa Senhora das Dores
Centro | Aveiro
Quinta da Nossa Senhora das Dores
A Quinta de Nossa Senhora das Dores está localizada na aldeia de Verdemilho, Aradas, concelho de Aveiro. Esta quinta, situada a cerca de 3 Km de Aveiro, está inserida na vertente sudoeste de uma colina, que desce até um vale com uma pequena ribeira que está ligada à Ria de Aveiro.
Os terrenos da Quinta de Nossa Senhora das Dores têm origem medieval, como documentado em 1450, com referência a Álvaro Borges, senhor de Verdemilho. As construções mais antigas da quinta que ainda permanecem remontam ao século XVIII, existindo uma inscrição na sua entrada com o ano de 1747, que marca a data em que o Bispo do Grão-Pará, D. Frei Miguel de Bulhões de Sousa (1706-1778) e o Bispo de Coimbra, D. Miguel da Anunciação (1703-1779) visitaram a quinta. A primeira proprietária a que se tem referência é D. Inês José de Sousa da Silveira Magalhães (1759-1801), herdeira da quinta, casada com Sebastião José de Quevedo de Sousa Pizarro (1762-1828). Com a morte de ambos, a Quinta da Nossa Senhora das Dores foi herdada por D. Maria Benedita de Sousa Quevedo de Magalhães (1794-1861), primeira baronesa de Almeidinha por ter contraído casamento com José Osório do Amaral Sarmento e Vasconcelos (1784-1837), primeiro Barão de Almeidinha. Deixou em testamento a quinta ao seu filho mais velho, João Carlos do Amaral Osório de Sousa Pizarro (1822-1890), 1º Visconde de Almeidinha e 2º Barão de Almeidinha, em sucessão ao seu pai. Esta foi uma importante personagem para a quinta, pois era aqui que organizava vários encontros sociais e religiosos, de importância para a comunidade de Verdemilho. Após o falecimento do visconde, a quinta foi herdada pela sua filha D. Laura Catalá do Amaral Osório (1867-?), descendente do seu segundo casamento com D. Vitória Catalá de Ascencio y Domeneck. A herdeira não teve descendência sua e, segundo a atual proprietária da quinta, esta foi adquirida por Basílio Tavares Lebre por volta da mesma data que foi deixada a D. Laura, ou seja, cerca de 1890. A quinta pertenceu a vários elementos desta família, como José Tavares Lebre e posteriormente seu filho, António Tavares Lebre (1882-1966). Este foi muito importante para Verdemilho e Aradas, pelas contribuições que teve na comunidade, como a construção da primeira escola no concelho, e também pela dinamização da própria quinta, através da Romaria de Nossa Senhora das Dores, que se realizava anualmente, no primeiro domingo após dia 8 de setembro. Era um acontecimento que durava três dias, com missa na capela da quinta, participação de romeiros, bailes, jogos tradicionais, jantares e fogo de artifício. Após o falecimento do major António Tavares Lebre, esta deixou de ser realizada, e desde então a quinta tem vindo a pertencer à mesma família, através de heranças e partilhas.
A quinta, de perímetro retangular, está organizada em nove talhões divididos entre si por um caminho, estruturado segundo dois eixos longitudinais e dois eixos transversais, é geralmente acompanhado de alamedas de árvores de fruto ou buxo, que percorre toda a extensão da mesma. Possui um portão setecentista ornamentado, com a inscrição de 1747, data que assinala a visita de dois bispos à quinta. Eram estes o Bispo de Coimbra, D. Miguel da Anunciação (1703-1779), e do Bispo do Grão-Pará, D. Frei Miguel de Bulhões de Sousa (1706-1778). Este portão leva ao primeiro talhão, um terreiro onde se situam o solar, a capela e um anexo. Em frente ao portão, encontra-se a capela, à qual se é conduzido por uma alameda de tílias (Tilia tomentosa), que são o elemento estruturante e dominante deste espaço. O solar, construído no final do século XVIII, localiza-se à esquerda da entrada, perpendicularmente ao muro. Possui no centro da fachada uma fonte em cascata de pedra de Ançã, que marca o início de um eixo paralelo à rua, pontuado por tílias até ao muro a noroeste. Seguindo estes alinhamentos, do solar ao muro limitador, encontra-se um anexo à esquerda que possui no seu interior várias carruagens pertencentes a António Lebre. Entre o solar e a capela encontra-se um pequeno portão de ferro que permite a passagem para a restante área da quinta, e de onde é possível observar de forma ampla todo o terreno agrícola até à área de mata, de loureiros e carvalhos, a sudoeste. Este local é um ponto convergente entre dois caminhos, um eixo longitudinal (em frente) e o primeiro transversal, que conduz para o lado esquerdo a um jardim ornamental com vários espécimes de camélias, árvores de fruto, junto ao muro, acompanhadas de namoradeiras em janelas gradeadas para o exterior, e no seu seguimento, as antigas cavalariças. Junto a estas existe uma alameda de buxo centenário em forma de túnel, que corresponde ao segundo eixo longitudinal.
No final de ambos os eixos longitudinais, e do segundo e terceiro eixos transversais (sendo este último caminho atualmente inexistente) existem cinco estruturas em pedra que possuíam figuras no seu interior e que compõem as Estações da Vida de Cristo. Segundo Ilídio de Araújo, seriam seis cubelos a pontuar as extremidades dos caminhos, dois de cada lado junto aos muros e dois no cruzamento dos caminhos, sendo que atualmente existem apenas cinco, faltando um junto ao muro do lado noroeste. No limite a sudoeste, no interior da mata, existe um tanque acompanhado de fonte e latada, que se encontra atualmente em ruínas.
Inventário: Filipa Santos e Sónia Talhé Azambuja (março de 2020)
Quinta da Nossa Senhora das Dores
(consultada em março de 2020)
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