Jardim de São Francisco
Algarve | Tavira
Jardim de São Francisco
O Jardim de São Francisco fica situado na freguesia de Santiago, em Tavira e tem uma área de cerca de 1800 m².
Este jardim situa-se na antiga cerca do convento franciscano da cidade (1272). Frei Jerónimo de Belém, cronista franciscano, atribui a sua fundação aos Templários, e especula-se ter sido doado à Ordem de S. Francisco pelo rei D. Dinis, em 1312. Atualmente apenas sobra uma parcela do conjunto total do convento, sendo a igreja que vemos hoje uma reconstrução do século XVIII, visto que as edificações originais, à exceção das duas capelas do jardim, foram vítima de desastres naturais como terramotos (1722 e 1755), uma derrocada, em 1843, e o incêndio provocado por um raio em 1881. Em 1844, pouco após a extinção das ordens religiosas (1836), o terreno é convertido em cemitério público, o que gerou alguma controvérsia associada ao crescimento da preocupação com a saúde pública e saneamento dos espaços urbanos, disciplinando a localização de cemitérios para locais mais isolados, entre outras preocupações urbanísticas como o arejamento de ruas, etc. Apesar das queixas bem fundamentadas, o espaço apenas é presenteado com outro uso no século seguinte, mais concretamente em 1918, com a inauguração do novo cemitério. Transladados os defuntos, o terreno passa a jardim, tendo as portas abertas ao público apenas na década de 1950.
O Jardim de São Francisco, apresenta um formato quase retangular limitado pela Praça Zacarias Guerreiro, a norte, e a sul, pela Rua Francisco de Sá Carneiro; e a nascente encontra-se a Igreja de São Francisco e a poente outras edificações. Tem duas entradas conectadas por um caminho principal de gravilha no sentido norte-sul. A sul, sobressai de imediato a acácia em flor (Acacia melanoxylon) junto à torre da igreja, e o par de ciprestes de grande porte (Cupressus sempervirens) que assinalam a entrada do jardim. A organização do espaço é feita sob um traçado geométrico composto por vários módulos, onde se encontram as diferentes espécies arbóreas e arbustivas, delimitados por vegetação rasteira e separados por pequenos caminhos de gravilha. A sudeste, com menor destaque, encontra-se uma trombeteira (Brugmansia sp.) e um pequeno cedro (Cedrus sp.), a nascente, encostado ao limite do jardim, a mesma acácia já referida, uma laranjeira-azeda (Citrus aurantium) e junto a ela, um dos elementos mais imponentes do jardim, a árvore-da-borracha (Ficus elastica), existe uma de cada lado do caminho principal e consistem nas duas maiores fontes de sombra do espaço. A nordeste, as duas capelas pertencentes à igreja primitiva que restam de entre as várias que terão existido no convento, abrem-se para o jardim delimitadas à entrada pelo arco gótico, cobertas com abóbadas de cruzaria de ogivas, assentes em capitéis ornamentados com elementos vegetalistas e rematada por um lanternim de iluminação, a esquerda foi nomeada Capela dos Costas, e a da direita a Capela dos Machados, pelas epigrafias contidas nos seus arcos. O jardim apresenta também epigrafias e brasões de famílias ilustres esculpidos em pedra dispostos ao longo do recinto.
Ao centro do jardim, além da sombra provocada, pelo entrelaçar da copa das árvores-da-borracha, destaca-se também pela sua verticalidade a palmeira-do-México (Washingtonia robusta). A nordeste, a aroeira-pimenteira (Schinus terterebinthifolia) dinamiza a mancha de copas pela sua folha pequena e descaída ; junto ao limite, uma planta pata-de-elefante (Beaucarnea recurvata) exibe o seu cariz exótico. Do lado noroeste e poente a flora é menos avultada, tendo uma tamarindo-rosa (Tamarix ramosissima) junto do caminho principal, próximo a um desenho do brasão de Tavira em relvado. Limitando a vertente noroeste do terreno, encontra-se uma edificação sem valor patrimonial, construída no século XX. A vegetação arbustiva, herbácea e até trepadeira, apresenta toda ela uma grande variedade morfológica e cromática, formando tapetes em redor destas árvores. Estas manchas ornamentais são compostas por folha-de-sangue (Iresine herbsti), clorófito (Chlorophytum comosum), goivo (Matthiola incana), roseiras (Rosa sp.), loendro (Nerium oleander), hibisco (Hibiscus rosa-sinensis e Hibiscus syriacus), lúcia-lima(Aloysia citrodora), folhado (Viburnum tinus), buganvília (Bougainvillea spectabilis), hera (Hedera helix) entre outras.
Em Vias de Classificação (com Despacho de Abertura do procedimento de classificação da Igreja e ruínas do antigo Convento de São Francisco, incluindo o cemitério e atual jardim público e o património integrado, na Praça Zacarias Guerreiro e na Rua 9 de Maio, Tavira), Anúncio n.º 282/2020, DR, 2.ª série, n.º 248, de 23-12-2020.
Inventário: Dinis Ançã e Francisco Almeida – maio de 2021.
Revisão: Sónia Talhé Azambuja
Nota: Ficha de inventário elaborada pelos alunos Dinis Ançã e Francisco Almeida, sob orientação da Professora Sónia Talhé Azambuja, no âmbito da unidade curricular de História da Arte dos Jardins II da Licenciatura em Arquitetura Paisagista (1.º Ciclo), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve (FCT/UAlg).
Jardim de São Francisco
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