Solar da Cruz / Casa dos Motas

Norte | Celorico de Basto

Solar da Cruz / Casa dos Motas

Quinta de recreio com cerca de 1,5 ha, localizada na proximidade do centro da freguesia de Gagos, junto à capela românica de Nossa Senhora da Goma ou dos Prazeres. Localiza-se em ambiente rural, em encosta de pendor suave, tendo sido escavada para construir o solar e os vários patamares descendentes onde se desenvolve o jardim. Fronteiro à casa surge um monte onde se situam os antigos armazéns, adega, lagares e espigueiro, rodeados por pomar de citrinos, desenvolvendo-se encosta acima uma mata com sequeiro e eira no topo. Haveria uma outra mata, da qual hoje apenas restam alguns exemplares notáveis de cedros, localizada em frente ao terreiro da casa, que terá sido destruída no passado recente para dar lugar a um pomar de macieiras, atualmente também desaparecido. Toda a quinta desfruta de vistas magníficas para os montes que a rodeiam, a Nossa Senhor da Graça, o Marão e Monte de São Caetano. O solar terá sido construído no primeiro quartel do séc. XVIII, com origens que remontam ao séc. XVI, a João Anes que terá vivido no Casal da Cruz. Terá tido importantes intervenções ao longo do séc. XIX, por iniciativa de Domingos de Barros Teixeira da Mota, bacharel em direito, deputado e último capitão-mor de Celorico de Basto. A opulência desta personalidade, uma das mais ricas e excêntricas da região, terá sido inspiração para uma das personagens de Camilo Castelo Branco no seu romance “A Queda dum Anjo”, que o autor descreve numa viagem a Lisboa acompanhado por 40 mulas que levariam a sua bagagem. A casa, com dois corpos distintos, um de 1726, como atesta a data do portal principal e outro do séc. XIX, encontra-se em quota superior, com o jardim, quintal e terrenos agrícolas, desenvolvidos em quota inferior, acompanhado a orografia do terreno. Lateralmente à casa encontra-se o chamado “Jardim Pequeno” com exemplares notáveis de camélias, as mais antigas do jardim, uma das quais poderá remontar até ao final do séc. XVI, início de XVII, segundo a tradição familiar trazida por Fernão Carvalho da Cunha Coutinho, antepassado da família que possuiu vários cargos no oriente. No jardim maior, de carácter intimista e claramente fruto de um gosto coleccionista encontram-se uma enorme quantidade de exemplares de camélias, muitas de cultivar português e centenárias. Outrora estas camélias seriam topiadas segundo o gosto dos chamados “Jardins de Basto”, atualmente crescem livremente conferindo ao jardim ambiente romântico e bucólico característico da época de construção deste jardim, do último quartel do séc. XIX. Aqui o tempo parou… O primeiro patamar de jardim, o chamado “Jardim Pequeno” é murado e apresenta exemplares de camélias e grande tanque de granito com lavadouros e bicas de água que jorram de uma caleira que percorre o topo do muro. A água segue por condução da gravidade de uma mina da propriedade, que antigamente possuía um aqueduto junto à casa, destruído para dar lugar à estrada. Aliás a presença da água é uma constante em todo o jardim, marcado pelo barulho do seu correr. Seguem-se outros dois patamares inferiores. O intermédio funciona como caminho de circulação, com portão num dos topos e no outro, acesso a horta conhecida como “Campo do Testamento”. No último patamar desenvolve-se o jardim maior, formal, com canteiros, alguns mais geométricos, outros de recorte mais sinuoso, de buxo topiado. Possui exemplares notáveis de camélias japónicas, as mais antigas remontando ao inicio do séc. XIX. O jardim apresenta duas áreas distintas, a primeira com tanque, cuja água é conduzida pela gravidade do grande tanque do “Jardim Pequeno”, e canteiros pontuados por azáleas, roseiras, cica e camélias, uma delas, um exemplar notável de camélia sasanqua, e outra área, outrora com topiárias que formariam rotunda e caramanchões para casas de fresco, com animais fantásticos. Actualmente estas camélias, algumas raras, claramente fruto de um espírito coleccionador de José de Barros Teixeira da Mota, filho da personalidade que inspirou Camilo Castelo Branco. Esta área do jardim, também composta por canteiros de buxo topiado, é formada por caminhos longitudinais, cruzados por outros perpendiculares, convergindo ao centro. No topo, zona de estar com mesa de pedra, outrora coberta por caramanchão formando casa de fresco. Um muro percorrido por alegretes separa o chamado “Quintal”, em quota inferior, com outro grande tanque que recolhe toda a água para rega. Possui pomar de citrinos, diospireiros, macieiras e castanheiros. Os campos são percorridos por latadas de vinha que dariam sombra para os bancos rasgados nos muros de suporte dos socalcos. Junto às antigas cocheiras da casa encontra-se uma interessante fonte de mergulho, conhecida como “Fonte da Cruz” provavelmente ainda do séc. XVII, que seria coberta por latada, formando casa de fresco. Esta fonte pertenceria possivelmente a outra casa bastante antiga chamada “Casa da Cruz de Baixo”, actualmente inexistente.

Em vias de classificação.

Inventário: Joaquim Gonçalves – abril de 2018.

Solar da Cruz / Casa dos Motas

(Consultada em abril de 2018)
CARVALHO, António Alves de – Concelho de Celorico de Basto. [S.l.] : [s.n.], 1989. pp. 100-103.
STOOP, Anne de – Palácios e Casas Senhoriais do Minho. 2ª ed.[S.l.] : Civilização Editora, 2000. pp. 174-177.
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=17687

Rua do Solar da Cruz nº 2 , Gagos, Lugar da Cruz