Quinta da Nossa Senhora da Paz

Lisboa | Lisboa

Quinta da Nossa Senhora da Paz

 

A Quinta de Nossa Senhora da Paz, originalmente chamada de Quinta do Caracol, localiza-se na Estrada do Paço do Lumiar, na freguesia do mesmo nome, e integrando um vasto património histórico/artístico constituído pelas quintas e palácios do Paço do Lumiar, que inclui a Quinta dos Azulejos, a Quinta de S. Cristóvão, a Quinta do Monteiro-Mor e a Capela de São Sebastião, entre outras.

A sua fundação como quinta de lazer permanece em data inserta, embora a sua configuração atual se deva maioritariamente a Herbert Edward Over Guilbert (1878 – 1962), cidadão inglês, proprietário da Fábrica da Louça de Sacavém e da Quinta de São Cristóvão, com a qual a quinta partilha fronteira a Nordeste. As obras de remodelação do palácio e construção do jardim prolongaram-se de 1929 a 1934, com especial ênfase na remodelação do exterior da casa, com o embelezamento do pátio exterior, muros e fachadas da casa com azulejaria proveniente da sua Fábrica da Louça de Sacavém e desenhados por H. C. Sant`Anna e A. Ribeiro.

A obra do jardim foi encomendada a Jacintho de Mattos, um famoso jardineiro paisagista e horticultor do Porto que põem aqui em prática vários dos estilos que marcam a sua obra, materializam-se numa sucessão de espaços diferenciados mas respeitando a estruturação do lugar, nomeadamente o terraceamento pré-existente.

O traçado do jardim de Jacintho de Mattos levantado e registado em 1949 na Planta de Lisboa, compreende três socalcos. Junto à casa, desenvolve-se um jardim formal, em plena articulação com a geometria da habitação, quadripartido e com canteiros de buxo, de traçado simétrico. Para o centro dente conjunto foi executado uma pequena fonte, revestida a azulejos, e os quatro caminhos têm um pavimento em tijoleira que, simultaneamente, envolve a pequena fonte. Esta opção confere ao jardim um carácter meridional de base hispano-mourisca, embora esse carácter não seja aqui tão expressivo como em outras obras do mesmo autor, nomeadamente devido às características arquitetónicas da habitação que o paisagista se esforçou por respeitar, e à presença de elementos clássicos a rematar o jardim, como é o caso da balaustrada. O caráter meridional é reforçado por duas palmeiras, plantadas num canteiro, traçado paralelamente a este jardim quadripartido, e por um dragoeiro, plantado no ângulo formado pelos dois corpos da casa, elementos vegetais esses registados na planta de 1949.

Este jardim é delimitado, do socalco que lhe fica imediatamente inferior, por um muro, interrompido por balaustrada em alvenaria e argamassa de cimento. Este tipo de ornamento, distinto das características mouriscas do jardim quadripartido, contribui para o carácter eclético verificado neste patamar superior do jardim. A balaustrada abre-se em meia laranja formando uma varanda sobre o patamar que lhe é inferior e ao qual se acede por um lanço de escadas de formas elegantes, também em 'cimento armado'. Este segundo patamar é constituído por uma pérgola, igualmente em 'cimento armado', que envolve todo o jardim, formando uma estrutura de grande impacto formal, e reforça o seu carácter regular. Ao fundo, e como é característico da obra de Jacintho de Mattos, a pérgola forma uma zona de estar, a cota ligeiramente mais elevada, rematando a zona formal do jardim.

No centro deste jardim foi executado um tanque de formas clássicas, de inspiração renascentista. A envolver o tanque-espelho de água, uma zona plantada, provavelmente um relvado, rodeado por um pavimento, possivelmente em saibro, como verificado no levantamento efetuado noutros jardins. Em cada uma das extremidades deste espelho de água, posicionados sobre o eixo longitudinal que unifica toda a composição da Quinta, foram plantadas duas cicas, que atingem hoje grande dimensão.

Da pérgola, para sudoeste da propriedade, desenvolve-se a zona de parque, de carácter informal, com caminhos serpenteantes envolvendo um lago, de formas naturalizadas. O caminho principal envolve o campo de ténis, tornando-o parte da composição geral, numa solução idêntica à proposta para o parque da Brejoeira. Nesta área do parque subsistem, hoje, poucos exemplares arbóreos com interesse, sendo, contudo, de destacar algumas coníferas e um enorme eucalipto que terão sido plantados por altura da construção do jardim.

A opção pela decoração com azulejos foi também tomada para as paredes do pátio de entrada na quinta de N. Sra. da Paz e para elementos do jardim da Quinta de S. Cristóvão revelando a adesão de Jacintho de Manos às artes decorativas e ao seu valor para a ornamentação dos jardins. Aqui, ainda hoje, se conservam os bancos com revestimento azulejar, inseridos no muro de suporte do patamar do jardim. Uma pérgola, criada no ângulo formado pela casa e pelo muro da propriedade, forma uma espécie de casa de fresco, com paredes revestidas a painéis de azulejos e uma pequena fonte, também com azulejos, com características muito idênticas à fonte da Quinta de N. Sra. da Paz.

A quinta e o seu jardim fazem parte do património da Câmara Municipal de Lisboa desde 25 de Abril de 1974, e o jardim pode ser visitado, encontrando-se aberto ao público e oferecendo à população um belo espaço de passeio e estadia com bancos para descansar, uma rede de iluminação, um circuito de manutenção e uma mesa de ténis.

Incluído na classificação do Paço do Lumiar.

Autor: Adaptado da tese de doutoramento de Teresa Marques, ‘Dos jardineiros paisagistas e horticultores do Porto de Oitocentos ao modernismo na Arquitectura paisagista em Portugal’, apresentada no Instituto Superior de Agronomia em 2009.

Adaptação: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.

Quinta da Nossa Senhora da Paz

(Consultada em 2009 e Abril de 2020)
INÁCIO, Carlos A. Revez – Paço do Lumiar: Apontamentos de História. Lisboa: [s.n.] 1998.
MARQUES, Teresa Dulce Portela – Dos jardineiros paisagistas e horticultores do Porto de oitocentos ao modernismo na arquitectura paisagista em Portugal. Lisboa: ISA, 2009. Tese de Doutoramento em Arquitectura Paisagista.
RIBEIRO, Luís Paulo. - Quintas do Conselho de Lisboa. Lisboa: Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, 1992. Dissertação de Mestrado (não publicado).
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6464

Estrada do Paço do Lumiar 46