Parque eduardo VII/ Estufa Fria
Lisboa | Lisboa
Parque eduardo VII/ Estufa Fria
Localizado no topo noroeste da Avenida da Liberdade, na atual freguesia das Avenidas Novas, o Parque Eduardo VII, com os seus 25 hectares é um espaço verde de recreio e fruição localizado bem no centro de Lisboa. Continuando a ideia do antigo Passeio Público e deslocando-se mais para Norte, o parque foi originalmente apelidado de parque da Liberdade e pretendia dar a Lisboa um local de recreio e encontro social ao ar livre, um espaço público como tinha sido Passeio Público até à sua reformulação em Avenida da Liberdade em 1882. O nome Parque Eduardo VII surge apenas em 1903, para celebrara a visita do Rei Eduardo VII do Reino Unido, a Lisboa no ano anterior para reafirmar a aliança de cooperação e amizade entre os dois países.
A ideia de criar um cenário ao monumento de Pombal e um prolongamento verde da Avenida da Liberdade surge logo em 1882 com a extinção do Passeio Público, mas só mais tarde, em 1887 Ressano Garcia (1847-1911), engenheiro de ‘ponts et chaussées’ formado no Paris de Haussmann, propõe um concurso público internacional para escolher o projeto que definiria o traçado do parque. Foi assim que, no mesmo ano se abre um concurso ao qual deram resposta 29 projetos concorrentes. A Câmara Municipal de Lisboa deliberou conferir três prémios aos projetos de destaque apresentados, sendo o primeiro dado a M. Henry Lusseau, Arquiteto Paisagista de Paris; o segundo, a M. Henri Duchêne da mesma cidade; e o terceiro a Eugene Denys, também ele paisagista.
O projeto de Lusseau apresentava um conjunto de aguarelas de excelente qualidade e um traçado que sendo romântico apresentava um gosto pitoresco. O seu desenho era constituído por alamedas orgânicas a grandes relvados, lagos, quiosques e um belveder. Apesar do empenho de Lusseau na construção do parque, a obra nunca se viria a realizar. Pesou o volume de escavações e de aterros a fazer, necessários para a adaptação do terreno aos novos arruamentos e vegetação, que se previa agravarem e muito o primeiro orçamento. Embora o projeto de Henri Lusseau não tenha sido construído, a sua influência perdurou em Lisboa nas propostas que desenvolvidas para o Parque da Liberdade por mais de quatro décadas no traçado romântico das alamedas, localização do lago principal e traçado geral do jardim, das quais se destacam os projetos assinados por António Maria Avelar em 1889, Fernando Silva em 1900, Fernando Corte Real em 1910 e Augusto G. Frois Júnior em 1929. Segundo João Gouveia só de 1895 a 1901 foram considerados seis projetos, todos eles abandonados por falta da avultada verba necessária para a sua execução.
Em 1898 a área do parque foi cenário da Feira Franca por ocasião do aniversário da descoberta da Índia, e em 1910 ainda funcionava a Feira de Agosto. Com a revolução de 5 de outubro de 1910 apenas nos anos 20 se volta a falar da reformulação do antigo Parque da Liberdade, em paralelo com as obras para aí se instalar a Estufa-fria. Definitivamente construída nos anos 20, a Estufa-fria teve a sua origem uma década antes, aproveitando a pedreira que tinha deixado de laborar devido à existência de uma nascente de água, pela mão de um jardineiro da câmara de nome Manuel, natural de Braga, que começou a colocar, nessa zona mais abrigada do parque os vasos com as plantas mais delicadas que não resistiam aos ventos fortes e frios vindos do Norte. Durante a década de 20, este espaço é definitivamente adaptado para receber plantas em viveiro de apoio à jardinagem e em 1933 abre as portas ao público como estufa-fria ou seja coberta por um ripado de madeira e preparada para se visitar através de caminhos sinuosos, lagos, cascatas, regatos, estatuária, bancos e apreciar a coleção de centenas de espécies de plantas oriundas de todo o mundo.
Reforçado o interesse no parque com a criação da estufa-fria, as propostas de projeto voltam a nascer. Em 1925, os irmãos MacBride propõem a abertura de uma grande avenida urbanizada, que justificam evocando questões de saúde pública. Em 1927-1928, é chamado a Lisboa Jean-Claude Nicolas Forrestier para concretizar o projeto de prolongação da Avenida que previa a construção de um grande parque com jardins e campos de jogos. As obras iniciam-se apenas em 1942 com a abertura das avenidas laterais e lançando o trainel da faixa central, contudo a obra é duramente criticada pela opinião pública e não é concluída. A atual configuração do parque Eduardo VII foi projetada pelo arquiteto Francisco Keil do Amaral (1910-1975), então arquiteto camarário, segundo iniciativa do presidente tenente-coronel Salvação Barreto que em 1945 determina que é necessária a elaboração de um projeto definitivo de arranjo do Parque.
Hoje em dia o Parque Eduardo VII caracteriza-se pela existência duma enorme alameda central, relvada, onde se desenvolve um jardim formal de buxo topiado em formas geométricas. Esta alameda relvada central é ladeada por passeio em calçada à portuguesa com uma largura de cerca de 100m, onde todos os anos em finais de maio e princípios de Junho se desenvolve a feira do livro de Lisboa. O eixo central que divide o parque apresenta duas zonas laterais de plantação com alamedas corridas de Celtis australis ladeadas de plantações mais densas onde figuram essencialmente árvores de diversas espécies como Carvalhos, Castanheiros da India, Pimenteiras Bastarda, Ameixoeira-de-Jardim, Tílias, Ginkgos, Jacarandás, Salgueiros e Tipuanas tipo.
No sector oriental desenvolve-se uma sequência de zonas de estadias, um Anfiteatro de pequenas dimensões, o Pavilhão Carlos Lopes onde nos últimos anos tem decorrido a moda Lisboa (antigo Pavilhão dos Desportos), um restaurante e um lago no topo nordeste, e entre ambos, uma zona de miradouro marcado por colunas monumentais, onde Francisco Keil do Amaral planeou na época a implantação do Palácio da Cidade que devido a polémicas nunca foi construído. A partir deste miradouro a vista é ampla, oferecendo uma panorâmica sem rivais nem obstáculos até ao rio Tejo: ao centro a rotunda e monumento ao Marquês de Pombal alinhados com a Av. da Liberdade, os Restauradores, o Rossio e a Baixa Pombalina, à esquerda a Mouraria e a colina do Castelo de S. Jorge e à direita a colina do bairro alto com as Ruínas do Convento do Carmo, tendo sempre o Tejo como uma presença constante ao fundo espelhando a cor do céu.
No sector Ocidental encontra-se um pequeno Parque Infantil, os Campos de Ténis e Instalações Desportivas, o Lago Grande e a nas suas imediações a Estufa-fria. A estufa é um jardim por baixo de sombra e goza de uma situação muito especial de sobrevivência de plantas subtropicais ao ar livre, de visita obrigatória. Todo o espaço é coberto a ripas de madeira que servem para proteger as plantas do rigor do Inverno e do calor excessivo no Verão pois condicionam a intensidade da luz, proporcionando uma temperatura adequada ao desenvolvimento de espécies originárias de diversas regiões do mundo: China, Austrália, México, Perú, Brasil, Antilhas, e Sudoeste asiático e é constituída por três áreas: Estufa Fria dedicada ao cultivo de plantas sem aquecimento, a Estufa Quente para plantas tropicais e a Estufa Doce destinada a plantas gordas. A visita à Estufa-fria é ainda importante para a aprendizagem do nome das plantas sendo referência obrigatória o feto arbóreo-da-tasmânia [Dicksonia antarctica], a azálea [Rhododendron spp.] ou os diferentes cultivares de cameleira [Camellia japonica].
“Para além destes equipamentos, o Parque é, ainda, embelezado por um conjunto variado de estatuária: o busto de Eduardo VII de Inglaterra; estátua com Cavalo-marinho dentro do lago, de Euclides Vaz; estátua com Veado, de Stella Albuquerque; "À Arte", "À Ciência", de Raúl Xavier; figura feminina, de Vasco Pereira da Conceição; "Mãe e Filho", de António Duarte; "Evocação ao 25 de Abril de 1974", de João Cutileiro; e duas estátuas no Parque Infantil, criadas por M. de Brito em 1963.” (e-cultura.pt).
Todo o parque e estufa-fria estão incluídos na Zona Especial de Proteção Conjunta dos imóveis classificados da Avenida da Liberdade e área envolvente.
Texto de Inventário: Guida Carvalho – 2020.
Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.
inserido na ROTA DA GRANDE LISBOA
Parque eduardo VII/ Estufa Fria
(Consulta em fevereiro de 2020)
AYRES (filho), Christovam. – Abrigo do parque Eduardo VII (vulgo Estufa Fria). In Guia de Portugal Artístico: Lisboa, jardins parques e tapadas. II vol. Lisboa: M Costa Ramalho, 1935.
BARROS, Mafalda Távora de Magalhães. - Alfredo Keil 1850-1907. Lisboa: Divisão de Património Integrado/Galeria do Rei D. Luís, 2001, pp. 451 – 461.
CAIXINHAS, Maria Lisete. – Flora da Estufa Fria de Lisboa. Lisboa: Verbo, 1994.
GOUVEIA, João. – Parque Eduardo VII. In Guia de Portugal Artístico: Lisboa, jardins parques e tapadas. II vol. Lisboa: M Costa Ramalho, 1935, pp. 57-62.
GUIA de Portugal: Generalidades Lisboa e Arredores I - Lisboa [S.l.]: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. Vol. 1. pp. 339-340.
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J148&qid=sdx_q129
https://www.e-cultura.pt/patrimonio_item/11789
http://estufafria.cm-lisboa.pt/
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5094
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5110