Quinta do Conde de Farrobo / Zoo

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Quinta do Conde de Farrobo / Zoo

O Palácio do Conde de Farrobo, mais conhecido por Palácio das Laranjeiras, pertence à Quinta das Laranjeiras junto a Sete Rios, residência que marca os tempos áureos do Conde de Farrobo, e conserva vários elementos originais, em bom estado de conservação apesar de todas as adaptações à sua função atual como jardim zoológico.

A extensa Quinta das Laranjeiras pertenceu a um dos maiores mecenas das artes do século XIX, Joaquim Pedro Quintela Farrobo (1801-1869), 2.º barão de Quintela e 1.º conde de Farrobo e ficou conhecida pelas faustosas festas e saraus, espetáculos de música e teatro no seu teatro privado, o Thalia, anexo ao seu palácio, onde atuarem os grandes cantores de ópera europeus da época a que assistia a família real, em especial o rei D. Fernando e a sua filha Maria Ana (Queiroz e Soares, 2011, p. 154). Um grande obelisco em mármore, que se eleva na alameda principal da quinta das Laranjeiras, ainda nos nossos dias regista a marca da presença real.

Joaquim Pedro Quintela Farrobo era filho de um grande capitalista português, Joaquim Pedro Quintela, 1.º barão de Quintela, de quem herdou uma grande fortuna, mas a quinta das Laranjeiras herdou-a de seu tio, Luís Rebelo Quintela. Adquirida em 1779 de Francisco Azevedo Coutinho (monumentos.pt), a Quinta e os seus jardins e Palácio sofrem a primeira campanha de melhoramentos segundo a ordem do Padre Bartolomeu Quintela, religioso da Congregação do Oratório, tio do fundador (Araújo, 1946, p. 51). Este jardim do final do séc. XVIII é severamente criticado por Beckford que visita a Quinta das Laranjeiras em 1787, e descreve a falta de dimensão dos elementos inseridos numa estrutura geométrica pertencente ao estilo de Le Nôtre: "O jardim é uma coisa plana, morta e arenosa, tão cheia de urnas imensas e de obeliscos atarracados que parece um cemitério [...]" (Beckford, 1787).

Após a herança da Quinta das Laranjeiras pelo primeiro Conde de Farrobo, o ambiente sereno de quinta de recreio altera-se  e a quinta passa a ser o palco de faustosas festas e celebrações que se tornam “[…] o centro da elegância daquela época, pelo que eram frequentadas pela ‘melhor sociedade’” (Silvestre, 2012, p. 59). O jardim, como importante elemento de função lúdica, centro de jogos, teatro, concertos e bailados é devidamente renovado segundo o projeto do jardineiro-paisagista Jean Baptiste Bonnard (1797-1861) francês especialista em aclimatação ao serviço do Rei D. Fernando desde 1838 e o responsável pelo desenho do jardim das Necessidades entre outros (Azambuja, 2001). O traçado romântico do jardim informal e das estufas da quinta das Laranjeiras terá sido obra da sua colaboração com o francês Pierre Maurier, francês que também trabalhou no desenho deste jardim (Silvestre, 2012, p. 93).

A inauguração do jardim das laranjeiras realiza-se em 1842 e passa então a ser um “Dos mais notáveis no país e o primeiro verdadeiramente romântico em Lisboa […]. Para além das feras e aves exóticas enclausuradas num viveiro, os jardins da Quinta das Laranjeiras possuíam ainda diversas estruturas arquitectónicas e decorativas – umas preexistentes e outras adicionadas ao tempo em que Fortunato terá delineado a sua renovação estética: estátuas, bustos, vasos de mármore, artefactos cerâmicos, um templo grego, pavilhões chineses, “lindas estufas”, um labirinto, lagos de diversos feitios e tamanhos, uma casa ou chalé suíço no meio de uma pequena mata, mirantes e casas de fresco.” (Archivo Pittoresco, 1863 in Queiróz e Soares, 2011, p. 154).

No último quartel do século XIX o Conde de Farrobo perde uma importante demanda comercial e fica à beira da ruína, o que leva à venda dos seus bens em hasta pública. A Quinta das Laranjeiras é então adquirida pelo Duque de Abrantes em 1874, que a manda restaurar só para a vender três anos mais tarde ao Comendador José Pereira Soares, que acrescenta à propriedade a Mata das Águas Boas e a Quinta dos Barnacenas. 

Em 1903 a Quinta é adquirida pelo Conde de Burnay, que cede, em 1905, grande parte da sua mata e jardins ao Jardim Zoológico de Lisboa.

A atual configuração dos jardins data dos anos 1942-1943 quando se deu a reconstrução do jardim segundo o gosto francês, com a plantação de sebes talhadas em frente à fachada Sudoeste do Palácio (Araújo, 1946, p.53).

Este jardim formal encontra-se dividido em dois terraços planos que acompanham a suave inclinação do terreno marcada por um eixo central que os une e termina num obelisco de inscrições latinas. Não obstante, como verifica Carita (1990), este eixo só é perceptível em planta, pois como o jardim está espacialmente fechado sobre si próprio por balaustradas, estátuas e portais, cria-se uma forte descontinuidade que não espelha os grandes traçados europeus seus contemporâneos (Carita, 1990, p.250).

O primeiro patamar tem no centro um lago elíptico em mármore branco com repuxo. Floreiras em mármore pontuam o jardim e dão continuidade à decoração usada na varanda do palácio de onde se tem uma boa vista sobre os terraços de parterre de buxo cuja estrutura quadripartida é complementado por flores. O segundo patamar segue a mesma traça geométrica, com um lago circular menor ao centro.

Ambos os patamares são decorados por esculturas alegóricas vindas da oficina do célebre escultor João José de Aguiar (1769 -1841), aluno de Canova, que participou na decoração do Palácio de Queluz. Do lado direito, três esculturas femininas sem inscrição nem identificação; ao centro quatro estátuas representam as quatro estações e no centro do lago, um rapaz com um peixe e uma coroa de louros; do lado esquerdo, duas estátuas femininas e duas masculinas, também sem identificação no seu conjunto (Silvestre, 2012, p. 59).

A Noroeste do jardim formal existe uma “casa de fresco neoclássica que se inicia numa pérgola suportada por colunas de mármore. Passando o muro com painéis de azulejo surge um tanque quadrangular ladeado por colunata de mármore que se reflete no espelho de água” (monumentos.pt). O tanque é limitado por muro que contém um nicho onde, de uma estátua mitológica em mármore, faz sair água.

Para lá destas duas zonas de jardim formal junto ao palácio desenvolve-se o jardim romântico para Oeste com linhas sinuosas e labirínticas que se estendem por zonas de vegetação mais densa onde o efeito de surpresa é constante,  com latadas, bancos com azulejos oitocentistas, caramanchões, labirintos de “noivar”, “chalets”, pequenos lagos e cascatas, pontes, anfiteatros ao ar livre e alguns pavilhões, bem como gaiolas artisticamente trabalhadas, para receber animais exóticos. (Silvestre, 2012). Destaca-se ao longo deste ‘bosque’ alguns exemplares de árvores exóticas tal como acontecia nas matas do jardim formadas por colecções de que se orgulhavam os proprietários.

Classificado em conjunto com o palácio como Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 735/74, DG, 1.ª série, n.º 297 de 21 dezembro 1974.

Texto de Inventário: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.

Quinta do Conde de Farrobo / Zoo

(Consulta em Maio de 2020)

ARAÚJO, Norberto de – Inventário de Lisboa. Fascículo 4. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1946.

ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa : Centro de Estudos de Urbanismo, 1962.

AZAMBUJA, Sonia – Real Quinta das Necessidades.  In CASTEL-BRANCO (dir.) – A Cerca das Necessidades. Lisboa: Livros Horizonte, 2001.

BARBOSA, L. de Vilhena – Fragmentos de um Roteiro de Lisboa (inédito): Nos arrabaldes de Lisboa. Archivo pittoresco: semanário ilustrado. Lisboa: Castro Irmão e C.ª, vol. VI, nº 11 (1863), p. 82.

BECKFORD, William; SIMÕES, João Gaspar (trad.) – Diário de Beckford em Espanha e Portugal. Lisboa:  Biblioteca Nacional de Portugal, 1983.

CARITA, Hélder; CARDOSO, António Homem – Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal: ou da originalidade e desaires desta Arte. [S. l.]: Edição dos Autores, 1987.

QUEIROZ, J. Francisco Ferreira; SOARES, Catarina Sousa Couto – Os túmulos românticos da família Quintela do Farrobo. CIRA Boletim Cultural. Vol. 11, Do Património à História (2011 - 2013), pp. 147-159.

RIBEIRO, Luís Paulo. -  Quintas do Conselho de Lisboa. Lisboa: Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, 1992. Dissertação de Mestrado (não publicado).

SILVESTRE, Susana Marta Delgado Pinheiro - O Conde do Farrobo a ação e o Mecenato no Século XIX. Vol. I. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2012. Tese de Doutoramento (não publicada).

VALE, Francisco Torre do – Farrobodó: O Conde de Farrobo e o desenvolvimento da sociedade portuguesa. [s.i]: Happygénio - Produção de Filmes, Unipessoal, Lta, [s.d.]. Documentário RTP.

http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=7005

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http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74404

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70417

https://web.archive.org/web/20101126113735/http://mctes.pt/?idc=9

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