Parque dos Duques de Palmela

Lisboa | Cascais

Parque dos Duques de Palmela

O Parque dos Condes de Palmela situa-se no concelho de Cascais, em zona urbana, perto do Monte Estoril, com início junto ao mar. O Parque de estilo inglês foi mandado construir pelos Duques de Palmela para a sua casa de veraneio por volta de 1870, com intervenção direta da própria Duquesa, D. Maria Luísa de Sousa Holstein, uma escultora de talento notável, que fez do jardim um projeto pessoal onde pretendia refletir o seu gosto. Encaixado numa zona de vale a jusante da ribeira da Castelhana, o seu desenvolvimento inicial foi dificultado pela proximidade com o mar, não obstante, apenas 6 anos após a sua plantação já apresentava uma fascinante coleção botânica elogiada pelo botânico alemão Edmond Goeze, jardineiro-chefe do Jardim botânico da Escola Politécnica de Lisboa, que declarou que “O seu aspecto é surpreendente e muito diverso [… com] uma collecção botânica tão interessante, que os críticos […] não poderiam deixar de reconhecer o seu mérito […].” (Goeze, 1876, p. 123).

A história da propriedade inicia-se em 1868, quando D. Maria Luísa de Sousa Holstein, 3ª Duquesa de Palmela, e seu marido, António de Sampaio e Pina de Brederode, adquirem o antigo Forte da Conceição e o terreno envolvente, na ponta leste da Praia da Conceição, e aí, sobre a praia, mandam construir uma casa de veraneio, toda revestida a pedra, conhecida como casa da Conceição Velha ou Casa da Duquesa. Na época, Cascais era a estância de verão da família real e, seguindo a moda lançada por D. Luís I, a corte vai construir aí casas de veraneio junto ao mar.

Para a construção da casa da Conceição Velha foi chamado o arquiteto inglês Thomas Henry Wyatt, presidente do "Royal Institute of British Architects", que se terá deslocado a Cascais para conhecer o local. O projeto ficou pronto em 1873 e obedecia ao estilo Chalet no denominado “gótico vitoriano” em voga na altura. O resultado foi um sublime palacete junto à água, com uma planta assimétrica, quase espontânea, que devia lembrar uma abadia antiga, desenvolvendo-se em volumes diferenciados, com telhados pontiagudos, e utiliza materiais da região. Muito ao gosto dos ingleses, para trás desenvolvia-se o parque.

As plantações do parque iniciaram-se três anos antes, em 1870, com orientação da própria Duquesa, e ocupou o antigo pinhal do povo comprado pelos Duques à Câmara de Cascais (Antiguidades de Cascais, 1904). Sob as ordens imediatas da duquesa trabalhava o jardineiro Jacob Weiss, vindo da escola do Jardin des Plantes de Paris (Silva, 2015, p. 123), um celebrado horticultor que “concorreu a diversas exposições hortícolas onde alcançou prémios, fazendo parte também de alguns dos respectivos juris” (Viterbo, 1906, p.113).

Para garantir o abastecimento de água necessária às plantas e peças de água do jardim, foi mandado construir um aqueduto em 1870 “depois de grandes trabalhos e pesquisa para encontrar água no parque, [que] apareceu; mas não correspondendo aos desejos do proprietário, foi necessário ir buscá-la à distância de quase cinco quilómetros, no sítio chamado Alcabideche” (Barruncho, 1873, p. 149).

Para receber a água do aqueduto, foram construídos na cota mais elevada do parque “[...] três grandes tanques de forma rustica, mas elegante, que parecem servir de deposito a muitos outros e pequenos lagos que se encontram em diversos sítios do parque, tornando-o assim notavelmente agradável pelo munnurio das águas que de todos os lados se ouve” (Barruncho, 1873, p.149).

Numa fase inicial os terrenos do parque foram bastante ingratos ao desenvolvimento da vegetação, um facto relatado por Pedro Barruncho em 1873 que também nos informa que a “sr.ª duqueza, que tem sabido reagir contra a esterilidade do solo, fazendo constantemente substituir as arvores que seccam ou definham; e em resultado d'esta porfiosa lucta já tem obtido o considerável arvoredo que alli se encontra, e que promette tornar-se frondoso por favor de tão cuidadosas diligencias” (Barruncho, 1873, p.149).

Com efeito, apenas 3 anos depois, Goeze (1876) apresenta no seu artigo “Jardins Notáveis de Portugal, Cascaes”, uma descrição detalhada da coleção botânica presente no jardim dos Duques de Palmela e sua aclimatação, elogiando a disposição dos espécimes ajustados à topografia e exposição do terreno, denotando a preocupação em constituir agrupamentos que recriassem os ambientes de onde as plantas provinham, como é exemplo da recriação da paisagem das ilhas das Canárias imortalizada em postais onde figuram plantas como o dragoeiros (Dracaena draco), Euphorbias, Echium e outras plantas típicas da região. 

Segundo Goeze, as espécies que melhor prosperavam eram as de origem Australiana que provinham de um clima semelhante ao de Portugal, como os Myoporum, casuarinas, e a colecções de eucaliptos e acácias, não obstante, esta enorme experiência de horticultura incluía plantas vindas dos cinco continentes, com exemplares desde a Ásia até às Américas (Goeze, 1876, pp. 8-13).

Sobre o desenho do parque como um todo, vamos tendo pistas soltas, Pedro Barruncho (1783) conta-nos que “Toda a área está cortada por differentes caminhos, artisticamente traçados, e a maior parte d'elles por indicação da Sr.ª duqueza, [...]. Sobre a vegetação que ladeava os caminhos, Goeze (1876) acrescenta que “Quando se delineou este jardim, entrava nos planos feitos pelo proprietário que as principais ruas fossem povoadas com Palmeiras;” e apesar dos contratempos na aquisição das plantas e a incerteza de quais se adequariam melhor ao local “Os resultados teém toda a via sido felizes e as plantas teém-se desenvolvido e mostram boa vegetação” (Goeze, 1876, p. 10). O Jardim possuiria um caráter de parque à Inglesa pois “Tanto as grutas como os regatos abundam n’esta propriedade e os Fetos dão-lhe um encanto particular” (Goeze, 1876, p. 10).

Ambos os autores gabam a vista do local que possuía “[...] a vantagem de mostrar, a par do pittorrsco do sitio, um lindissimo ponto de vistta sobre o oceano, em qualquer dos lados que o observador se coloque [...]” (Barruncho, 1873, p. 148). Goeze acrescenta que “As montanhas e os vales abundam n’este logar e há certos sítios, onde mal se imagina, que apenas medeiam alguns minutos de distância do Atlantico. D’outros sítios elevados gosa-se o oceano em toda a sua grandeza e as vagas traiçoeiras que se veem despedaçar d’encontro à praia” (Goeze, 1876, p. 10).

No seu auge o Parque Palmela enchia-se de festas elegantes e animadas, que faziam furor entre a mocidade aristocrata. Algumas delas tinham fins de solidariedade como a festa da em outubro de 1901 em “[...] a duquesa D. Luísa presidiu a uma quermesse realizada no seu parque. [...] Nesta festa do Parque Pa1mela, que rendeu cerca de cinco contos (dos antigos contos) para fins de caridade, houve uma tômbola rica, com bilhetes a dez tostões, e em que só eram sorteados objectos em prata - salvas, serviços de chá, faqueiros, etc. Houve as costumadas barracas de rifas a vintém e os seus costumes prémios e jarras, biscoiteiras, caixas de luvas, floreiras. Como atractivo máximo da festa exibiram-se num écran algumas projecções cinematográficas, grande novidade para a época e chamariz do público - um cinema incipiente, no género da lanterna mágica. O programa comportava três filmes. A assistência estava toda de pé, em massa compacta, em frente do écran. E o pasmo era de se ver e falar […]"

O Parque Palmem apareceu iluminado a eletricidade, coisa maravilhosa e nunca vista, produzida pela sua máquina particular, o público admirava as filas de lâmpadas como um espectáculo raro.

Debalde o teatro das marionettes exibia noutro local a sua bonecagem - a que então chamavam o «teatro electro-mágio». O público o que mais admirava na festa era a iluminação eléctrica e o cinema - chamado o animatógrafo [...]" (Colaço e Archer, 1943).

Quando em 1889 se constrói a linha ferroviária até Cascais o palacete é cortado do parque. Este fim do século XIX vê também muita construção de casas de veraneio na zona do Monte Estoril que terá como consequência a redução da mata dos Condes de Palmela, que cedem uma parcela para a urbanização. Em 1940 dá-se a construção da estrada marginal, reforçando o corte entre a casa Palmela e o seu Parque. Em 1950, a mata é adquirida pela câmara municipal e é transformado num parque público urbano, dando continuidade à sua utilização como local de recreio e lazer.

Em 1965 é construído o Hotel Estoril Sol em terrenos do parque, junto à estrada marginal  e em 2007 o antigo hotel é demolido e substituído pelo “Estoril Sol Residence”, que conta com um jardim contemporâneo da autoria do Atelier de Arquitetura Paisagista GAP. 

Hoje em dia, o Parque de Palmela continua a ser um espaço bastante aprazível e procurado nos dias quentes. Não obstante a diminuição da sua coleção botânica, o parque continua a apresentar vários exemplos notáveis de espécies exóticas, herança do seu traçado inicial, de onde se destacam um maciço de dragoeiros (Dracaena draco L.) com 36 exemplares e um Pinheiro das Canárias (Pinus canariensis C. Sm), ambos classificados como árvores de interesse público, devido ao seu porte e raridade, e  4 exemplares de Euphorbia piscatoria Aiton em vias de classificação (Silva, 2015).

Para além das várias zonas de passeio, o Parque de Palmela possui ainda um serviço de cafetaria com esplanada, um percurso de manutenção e um percurso de arborismo. Em 1997 foi aqui construído o auditório Carlos Lopes reduzindo a área permeável do parque mas mantendo atividades culturais e espetáculos ao ar livre, dando continuidade à sua utilização inicial, com destaque para o Estoril Jazz, por ser o evento que mais visitantes traz ao parque.

 

Texto de Inventário: Inês Justo Pereira da Silva – 2006; Maria Sacramento Monteiro – 2006.

Adaptação: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.

Parque dos Duques de Palmela

(Consultada em 2016 e Abril de 2020)
ANTIGUIDADES de Cascais: o parque da duquesa. O independente, nº 100, 1904.
BARRUNCHO, P. L. S. B. – Apontamentos para a História da Villa e Concelho de Cascaes. Lisboa: Typographia Universal, 1873.
COLAÇO, Branca de Gonta; ARCHER Maria. – Memórias da Linha de Cascais. Cascais: Câmara Municipal de Cascais e Câmara Municipal de Oeiras, 1943. Edição fac-similada de 1999.
GOEZE, Edmund– Jardins notáveis de Portugal, Cascaes. Jornal de Horticultura Prática, nº 7 (1876), pp. 8-13.
GUIA de Portugal: Generalidades Lisboa e Arredeores I - Lisboa [S.l.]: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. Vol. 1. p. 647-648.
SILVA, Vasco Manuel Almeida da – A mata de dragoeiros do Parque Palmela em Cascais (Portugal): contributos para a sua valorização. Bouteloua 21: 123-133 (VI-2015).
VITERBO, Sousa – A jardinagem em Portugal: Apontamentos para a sua história. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 1906, p.113.
https://www.cascais.pt/equipamento/parque-de-palmela
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6042
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70834/

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