Casa da Igreja
Norte | Mondim de Basto
Casa da Igreja
Quinta localizada no centro da vila de Mondim de Basto, com cerca de 1 ha, com uma vista privilegiada para o Monte Farinha, onde se encontra o Santuário de Nossa Senhora da Graça. Ao lado encontra-se a Igreja Matriz de Mondim de Basto, de origem medieval, aliás a casa terá ocupado o local do antigo passal. A casa, construída no último quartel do séc. XVIII, possui fronteiro um jardim formal composto por distintas topiárias de camélia, que se inserem na tipologia dos jardins de Basto, difundidos na região na segunda metade do séc. XIX pelas irmãs Pinto Basto.
A quinta de recreio da Casa da Igreja localiza-se em ambiente urbano, em plena vila de Mondim de Basto que se encontra sobre a margem esquerda do rio Tâmega. Outrora ficava na sua periferia, rodeada de campos de cultivo de milho, com bordaduras de vinhas de enforcado, cujo crescimento urbano fez desaparecer. Desenvolve-se em encosta, tendo na base a casa setecentista com capela interior dedicada a São João Nepomuceno, benzida em 1792. Foi construída a mando de João Manuel de Carvalho Peres, a quem foi passada carta de brasão a 24 de Abril de 1781. Durante as invasões francesas, em 1809, a casa foi pilhada e bastante danificada, facto marcante durante este período conturbado que terá arrastado a construção das atuais estruturas da quinta para a segunda metade do séc. XIX. No último quartel deste século, pertenceu ao Comendador José Augusto Álvares de Carvalho, o chamado Comendador da Igreja, cuja enorme fortuna ganha no Brasil valeu-lhe a fama de ser considerado o homem mais rico de Pernambuco do seu tempo. Também ligado a esta família e a esta casa, por matrimónio, esteve outro Comendador, Alfredo Pinto Coelho, que assumiu a gerência dos negócios em Pernambuco, chegando a adotar o apelido “Álvares de Carvalho”. Ganhou considerável fortuna durante a 1ª Grande Guerra com o negócio do ferro, aplicando grande parte do seu património em ações beneméritas, principalmente na sua terra natal, Mondim de Basto.
Contrariando o habitual na região, a escadaria principal da casa desenvolve-se para o seu interior, em arco aberto encimado pela pedra de armas. A casa é precedida por longo patamar elevado em relação à rua, com jardim formal, composto por canteiros de buxo de simples recorte geométrico pontuados pelas topiárias de camélia.
Por detrás e lateralmente à casa, desenvolvem-se os socalcos da quinta, em sentido ascendente e acompanhado a orografia do terreno, onde se situariam as hortas, o pomar e as ramadas de vinha, que ainda subsistem. Os caminhos da quinta de recreio que a percorreriam, com diversos lanços rectos de escadas, culminam no alto do monte onde se situa um tanque rodeado por bambu e vestígios da antiga mata. A par destas estruturas, onde se incluem caleiras de granito, que conduzem a água desde o alto do monte, distribuindo a água para os campos e para a casa. Ainda é possível observar uma interessante latada com estrutura em arcos de ferro, à direita da casa, atualmente com vinha, mas que anteriormente, poderia ter suportado roseiras de trepar.
Num dos campos, lateralmente à casa, desenvolve-se atualmente uma horta comunitária e pedagógica. As escadas que percorrem a quinta, bastante simples, de lanços retos, assim como em alguns muros, portões da propriedade e nos pavimentos do jardim formal são perfeitamente visíveis as intervenções do séc. XX, que lhe conferiram uma morfologia mais retilínea e organizada.
Em 1962, a pedido do proprietário António Lages, descendente do Comendador da Igreja, a casa foi intervencionada pelo arquiteto Fernando Távora, segundo projeto de 1959. Fronteiro à casa, encontra-se um jardim público conhecido como Zona Verde de Mondim de Basto, plantado nos antigos campos de cultivo da quinta.
Inventário: Joaquim Gonçalves – abril de 2018.
Casa da Igreja
(consultada em maio de 2018)
Araújo, Ilídio–A Arte da Jardinagem nas Terras de Basto, 2008
FERNANDES, M. Francisca O. C. – Camélias ou Japoneiras são o encanto dos Jardins de Basto. Terras de Basto. Ano XIII, nº 248 (30 Mar. 1994), p. 3.
LOPES, Eduardo Teixeira – Mondim de Basto: Memórias Históricas. Mondim de Basto: [s.n.], 2000. pp. 301-302.
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=10174
https://arquivoatom.up.pt/index.php/casa-da-igreja
http://municipio.mondimdebasto.pt/images/stories/destaques/casa-da-igreja/Flyer-Casa-Igreja.pdf