Palácio da Brejoeira

Norte | Monção

Palácio da Brejoeira

Grande quinta com uma área total de 30 ha, sendo 18 de vinha, 8 de mata, 3 de jardim e 1 de elementos construídos, que inclui o palácio, adegas, cavalariças e demais edifícios de apoio.

A chamada Quinta do Vale da Rosa ou Varjoeira, depois Brejoeira, já existiria quando foi mandado construir o palácio em 1806 por Luís Pereira Velho de Moscoso (1767-1837), fidalgo da Casa Real e Comendador da Ordem de Cristo, filho de Marcos Pereira Velho de Moscoso, aristocrata dono da então chamada Quinta do Vale da Rosa, e Teresa de Jesus Rodrigues Vilarinho, irmã de Luís e João Rodrigues Caldas, que haviam feito fortuna no Brasil do séc. XVIII. Luís Pereira de Velho de Moscoso era um dos homens mais ricos do seu tempo, que juntou fortunas pelo casamento e alianças familiares, de tal forma que era considerado o aristocrata mais rico do Minho. As obras prolongaram-se durante vários anos, sofrendo atrasos durante as Invasões Francesas, acabando entre os anos de 1824 e 1834. O herdeiro e filho Simão Pereira Velho de Moscoso (1805-1881) viveu faustosamente e recebeu importantes pessoas da corte no seu palácio. Após a morte de Simão, que morreu cego e solitário, com um irmão que morreu demente, o palácio foi deixado ao abandono e comprado em 1900 / 1901 pelo Conselheiro Pedro Maria da Fonseca Araújo (1862-1922), deputado e par do Reino. São iniciadas grandes obras no palácio e quinta, muito degradados na altura. É desta altura a construção no interior do palácio do teatro e da estufa, no cimo da escadaria, usada como jardim de inverno, o restauro da capela e a alameda de tílias e o projeto do parque da autoria de Jacintho de Mattos. Em 1935, a quinta foi vendida a Francisco de Oliveira Paes e dada em 1963 à sua filha D. Maria Hermínia Silva d’Oliveira Paes (1918-2015), mulher de negócios que tomou a direção da quinta e a transformou profundamente, convertendo a velha vinha, sendo uma das primeiras e maiores produtoras de vinho alvarinho na região.

Implantada à face da estrada nacional 101, com monumental portal e terreiro relvado a enquadrar a fachada principal. Originalmente a entrada era feita por portal a norte, que ainda hoje existe, que ligava a uma alameda que conduzia à casa, conhecida como “Alameda dos Plátanos”, atualmente parcialmente cortada pelos campos de vinha, e culminava no jardim das Camélias. Pensa-se que a faustosa fachada principal enquadra-da pelas torres teria sido voltada para o local onde iria surgir mais tarde a estrada nacional, o que permitiu mudar o acesso e construir o atual enquadramento.

O faustoso palácio neoclássico tardio, com traça atribuída por alguns autores a Carlos Amarante, mas segundo tese de Regina Anacleto poderá ser traça responsável de José da Costa e Silva que trabalhou no Palácio da Ajuda com Francisco Xavier Fabri, pois Luís Velho de Moscoso vivia em Lisboa e era muito próximo da família real. Certo é que o mestre pedreiro foi Domingos Pereira, natural de Vila Nova de Cerveira, que também trabalhou no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego. Pensa-se que por altura da construção o projeto inicial do palácio seria muito maior e teria quatro torres nos cantos, em vez de duas, mas as obras nunca teriam ficado terminadas. A fachada mais faustosa encontra-se virada para a estrada nacional, é precedida por um amplo terreiro que veio mais tarde a ser ajardinado e colocado um portal voltado à estrada, deslocado de perto da mesma fachada.

A norte, junto à casa, encontra-se um patamar elevado com o chamado Jardim das Camélias possuindo cerca de vinte espécies de notáveis camélias, sebes de buxo, fonte de taça central e duas estátuas confrontantes das deusas Flora e Ceres. Para oeste, no seguimento deste jardim, descendo uma escada, encontra-se o Jardim dos Cisnes com tanque circular decorado por cisnes rodeado por bancos de pedra, aliás iconografia patente em vários locais da Brejoeira. No seu seguimento uma estrutura de ferro que servia para colocar iluminação enquadrada por altas sebes de buxo com namoradeiras. Junto a este segue escada que conduz a tanque e zona de pomar onde outrora se situaria um labirinto de buxo mandado retirar por D. Hermínia Silva d’Oliveira Paes. No sentido sul/norte correm duas alamedas paralelas, uma de plátanos, começando no patamar inferir do Jardim das Camélias, onde também existem notáveis magnólias de flor grande e uma de várias espécies de tílias, aliás muito apreciadas por D. Hermínia, que possui lateralmente uma pequena casa, com campo de ténis e culmina num alto pombal com a dupla função também de armazenamento de água. Atrás deste uma mesa e bancos de pedra estabelecem um miradouro sobre a vinha.

A frondosa mata desenvolvida para oeste possui, entre outras espécies, carvalhos, austrálias, sobreiros, eucaliptos, cedros e medronheiros. No meio do bosque encontra-se uma ermida de São Francisco, com a data de 1605, que estaria associada a uma romaria. Aliás a propriedade apresenta algumas curiosidades ligadas a este lado religioso, como é o caso da estrutura da velha adega que faz lembrar uma igreja seiscentista com arcarias, possivelmente uma estrutura, talvez monacal, já pré-existente. Continuando o percurso pela mata deparamos com uma estrutura ao gosto romântico de um grande lago, com uma ilha, em forma de coração, chamada Ilha dos Amores, com grutas artificiais.

Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910.

Inventário: Joaquim Gonçalves - outubro de 2018.

inserido na ROTA DO ALTO MINHO

Palácio da Brejoeira

(Consultada em outubro de 2018)
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http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=2194

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