Casa do Hospital

Norte | Monção

Casa do Hospital

Quinta com cerca de 22 ha implantada à face da EN 202, no vale fértil do rio Minho, com mata murada a sul, separada pela estrada e, a norte, a zona da casa, antigos pomares, hortas e extensos campos agrícolas, atualmente com vinha. A casa e a quinta gozaram, por muitos anos do privilégio de couto da Ordem de Malta. Para sudeste avista-se o Monte da Senhora da Graça, com o seu santuário.

De origem muito antiga a quinta é referida como pertencente já à Ordem dos Hospitalários nas Inquirições de 1258. Situada junto ao caminho de Santiago, o hospital serviria de apoio aos peregrinos. Em 1551, os terrenos foram aforados ao comendador Rui Abade e depois ao genro Pedro de Queirós, passando-se a chamar Casa do Hospital. Em 1604 Filipe II concedeu armas a António de Queirós, brasão que se encontra na fachada principal da casa. No séc. XVII pagava foro à Comenda de Malta de Távora, em Arcos de Valdevez. Em 1744, o visitador da ordem mandou abandonar a sua capela de São João devido ao seu estado de degradação. No entanto, em 1755 foi instituído o vínculo por António Pereira de Queiroz, restaurando-a. Em 1813 recebeu o refugiado Arcebispo de Santiago de Compostela, D. Rafael de Musquiz y Adonat, que aqui procedeu a ordenações sacerdotais na capela. Anos mais tarde, o proprietário Joaquim de Queiroz, perseguido e preso pelas suas ideias liberais foi agraciado Barão do Hospital pelo regente D. Fernando II, em 1855, tornando-se a casa palco de várias reuniões políticas do Alto Minho onde se apoiava a constituição de Costa Cabral. Uma história “hospitaleira” ficou na memória quando o barão acolheu um desconhecido que lhe pediu asilo na sua casa. Um dia mais tarde foi assaltado, mas rapidamente libertado pois o chefe dos bandidos tinha-o reconhecido. Foi o barão que o acolheu na sua Casa do Hospital. Em 1910, a família unida por casamento aos Condes de Azevedo, de Barcelos foi obrigada a refugiar-se em Espanha. Em 1919, o Conde de Azevedo, proprietário do Hospital foi nomeado ministro no governo de Paiva Couceiro, da Monarquia do Norte, acabando na prisão e após a sua libertação em 1921 foi obrigado a vender os seus bens, incluindo a Casa do Hospital, para pagar as suas dívidas. Desde essa altura, a quinta passou por várias mãos até chegar à família dos atuais proprietários, descendentes de Raul Pereira da Rocha, homem de negócios de Lisboa, que restaurou a casa.

O acesso à quinta é feito por alameda de cedros que culmina em portal voltado a grande terreiro murado, onde se implanta a casa, austera, marcada pela grande escadaria, a capela e as cocheiras, com uma fonte barroca. Este terreiro comunica através de um portão com o pátio interior da casa onde se encontram diversos edifícios e dá acesso a norte aos campos da quinta através de um outro portão. Para alem deste espaço murado existem diversos quintais murados. A nascente da casa existe um de apreciável dimensão com duas portas de entrada – uma para o terreiro da casa e outra na parede norte que dá acesso a um olival, e dividido em dois patamares, tendo o patamar junto à casa um pequeno lago oval, ao centro. Por sua vez, a nascente deste existe novo quintal murado, parcialmente ocupado por vinha. A saída norte do terreiro da casa conduz a uma eira e longo espigueiro, memória de uma vasta produção de milho que terá perdurado até ao século passado ocupando os férteis terrenos que se estendem a norte e a poente da casa, hoje ocupados por vinha. Eventualmente poderiam também corresponder a área de olival. Em quota mais baixa e um pouco afastado encontra-se um novo quintal murado com pequena porta no muro e também com dois níveis, um mais elevado com canteiros delineados, bancos, e vários citrinos e outro a quota inferior atualmente de difícil acesso sendo que os dois níveis estão separados por uma fonte.

Fora deste quintal, para nascente e no mesmo alinhamento desta fonte, encontra-se num campo de vinha uma fonte em granito rebaixada, rodeada de bancos e que terá sido coberta. Um caminho une a eira, dá acesso a esta fonte, ao olival e inflete para um pequeno morro onde se encontra um pombal de grandes dimensões sobre rochedo granítico e hoje envolto em pequena mata. Lateralmente à casa pequeno jardim com cedros, buxo e hidrângeas. A sul da casa, do outro lado da estrada encontra-se a mata em espaço murado e onde se encontram alguns edifícios de apoio à atividade agrícola incluindo uma vacaria recente.

Inventário: Joaquim Gonçalves - outubro de 2018.

Casa do Hospital

(Consultada em outubro de 2018)
AZEVEDO, Carlos – Solares Portugueses: Introdução ao Estudo da Casa Nobre. 1ª ed. Lisboa : Livros Horizonte, 1969. p. 148.
SILVA, António Lambert Pereira da – Nobres Casas de Portugal. Porto : Livraria Tava-res Martins, 1958. Vol. IV. p. 245.
STOOP, Anne de; MAYOR, João Paulo Sotto (fotografia) – Arquitetura Senhorial do Minho. [S.l.] : Caminhos Romanos, 2015. pp. 273 - 279.
http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=15345
http://solardohospital.blogspot.com

EN 202, Moncheira, Ceivães