Casa da Ínsua
Centro | Penalva do Castelo
Casa da Ínsua
Quinta com cerca de 40 ha, no centro de Penalva do Castelo, em encosta, composta por solar, construções agrícolas, jardins, pomares, matas e campos de vinha. Separada da casa pela estrada, a sul desta, encontra-se uma extensa mata e campos agrícolas, murados, com acesso por portal ricamente decorado, conhecido como o Portão da Sereia, com uma série de esculturas alusivas à antiguidade Clássica e inscrição latina que diz: “com muita satisfação, saudamos os nossos convidados”.
A propriedade possui mais quatro portais, o Portão da Mata, da Meia-Laranja, do Barato e o Principal, todos diferentes e resultantes da intervenção do arquiteto italiano Nicola Bigaglia (1841-1908), que trabalhou e remodelou várias áreas da quinta, casa e capela, no final do séc. XIX, início do XX.
A entrada faz-se pelo portal principal, voltado ao largo da povoação, que dá acesso à imponente casa torreada e armoriada, disposta em torno de pátio, com capela e construções agrícolas, com fonte central da autoria de N. Bigaglia e exemplares notáveis de plátanos.
A primitiva casa que terá sido construída ainda no séc. XVII por João Albuquerque e Castro (1680-1750), Alcaide-mor de Sabugal, foi reconstruída em 1770/1780 a mando de Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, governador e capitão-general do Mato Grosso, no Brasil. Aliás a influência do Brasil também se terá refletido na construção dos jardins, nomeadamente através da introdução de flora exótica.
Toda a fachada sul da casa é voltada a um grande jardim formal, construído em dois patamares alongados, no primeiro, junto à fachada 4 quadras de buxo de recorte sinuoso, com roseiral, seguido de longo tanque que serve como espelho de água refletindo a elegante fachada. Um caminho separa mais quadras de buxo de recorte ora sinuoso, ora geométrico, com exemplares notáveis de camélias talhadas em guarda-sol e ao centro formando caramanchão em rotunda com fonte de tanque octogonal com flores-de-lótus. Na proximidade encontra-se a rara Magnólia heptapeta, plantada em 1842, e uma das primeiras plantadas em Portugal. Uma escada, sob arco de cedro e sobre outra fonte dá acesso ao patamar inferior, também com canteiros de recorte sinuoso e geométrico, o do centro formando grande leque. Lateralmente, para oeste, encontra-se outra zona formal, sempre com repetição de canteiros de buxo, de morfologia idêntica e recurso em maioria a rosas para o interior do canteiro. O buxo para além de ser talhado em sebe apresenta também topiárias em bola nos ângulos dos canteiros. Camélias e rododendros pontuam os inúmeros canteiros, formando caminhos labirínticos. Neste local formam-se grandes quadras de buxo, separadas por caminhos, preenchidas por plantas aromáticas, framboesas, roseiral e pomar de macieiras. Junto ao longo do tanque, espelho de água da fachada principal, encontra-se uma estátua da Senhora de Cortesia, que anteriormente estava à entrada da propriedade, funcionando como figura de convite, e um relógio de sol. Por escada acede-se a patamar superior com um bosquete, o chamado “jardim inglês” com pequeno lago com cascata artificial e espécies notáveis de teixos, cedros, abetos, loureiros, sequóia, acerpseudoplátanos, laranjeiras da Vírginia, maónias, cedro do Buçaco, tulipeiro da Virgínia, criptomérias, azáleas e rododendros. Num recanto do jardim encontra-se uma escultura em terracota de um casal de crianças sob um guarda-sol. Ao lado deste jardim encontra-se um terraço e pomar, percorridos no extremo por uma longa pérgulae sebe talhada de buxo com ameias. No final desta, no patamar de baixo encontra-se uma nora sobre alpendre circular, iniciando-se junto a esta uma extensa carreira de buxo formando túnel. Estas carreiras fazem parte do complexo de ruas e longos eixos com nomes de senhoras da família, referenciadas em 1909, numa carta ao médico, jornalista e historiador Sousa Viterbo (1845-1910), pelo proprietário Manuel Albuquerque, que conduzem a uma outra mata, algumas com buxos, outras com cedros do Buçaco, outras palmeiras, aveleiras, carvalhos, sequóias, cedros do Líbano, pau-Brasil, azevinho e eucaliptos. As ruas são chamadas de Camila de Faria, Laura, Luísa, Maria e Emília. Num cruzamento de ruas, chamado o cruzamento das Quatro Virtudes, datado de 1775, encontram-se bancos com espaldar de azulejos de padrão com o nome das quatro virtudes morais, a Prudência, a Justiça, a Fortaleza e a Temperança. Este cruzamento de caminhos conduz, a oeste, ao complexo agrícola, atrás da casa, a este a portal de acesso ao exterior e a norte a alameda, com o chamado tanque dos jarros, no centro, em quota mais baixa, circular com acessos laterais por escadas. Lateralmente, a este, desta alameda encontram-se extensos campos de vinha bordejados no limite por ciprestes plantados em 1910. Ao longo da alameda surge a casa do gelo, o Salão Príncipe das Beiras, a Casa do Pomar uma zona com mesa para merendas e uma cascata artificial. No extremo da alameda surge um painel em terracota policromada, de 1909, da autoria de Luigi Battistini representando a aparição da Virgem e do Menino a Santo António e encomendado pelo proprietário de então, Manuel de Albuquerque. No meio da mata encontra-se um lago com pequena ilha ao centro que faz parte do complexo sistema de condução de águas até à cascata e fontes.
Na proximidade da casa encontra-se a piscina, rodeada por relvado e pomares e o enorme complexo agrícola, constituído por adega, lagar de azeite e serralharias, carpintarias e mais zonas de apoio ao trabalho da quinta, hoje em dia a zona é ocupada por um museu e loja alusivo à história da Casa da Ínsua.
A Casa da Ínsua possui uma importante produção de vinho, sendo o primeiro produzido em 1852 a partir de uma área superior a 30 ha, no entanto a atual adega só foi construída em 1890. Apesar da alteração de algumas condições necessárias o processo de vinificação continua igual ao tradicional e os estágios dos vinhos continuam a ser feitos em barricas de carvalho francês e americano. Dos 30 hectares de vinha, 5 ha são com as castas Arinto, Encruzado e Semillon, esta última uma casta de origem francesa trazida por Luís de Albuquerque. Nos outros 25 ha aparecem as castas, Touriga Nacional, Jaen, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Cabernet Sauvignon, esta última também uma casta de origem francesa, trazida por Luís de Albuquerque.
A Casa da Ínsua sempre foi uma referência na região, não só pelo seu valiosíssimo património, mas porque era uma grande quinta de exploração agrícola e produzia tudo o que necessitava, até mesmo para abastecer a povoação, como o por exemplo no fabrico do pão, serralharia, carpintaria e até uma fábrica de gelo. Foi também um dos primeiros locais do país a ter energia elétrica.
Atualmente é um Hotel de Charme, da Visabeira Turismo, que resultou de uma grande recuperação da casa, infelizmente afetada por um grave incêndio em 1970, que destruiu um valioso espólio bibliográfico e documentação sobre o Brasil do séc. XVIII. Para além de bem receber os turistas numa casa e jardins rodeados de história continua com algumas das produções da quinta como é o caso da produção de azeite, vinho, já referido, queijo, requeijão e compotas. Mantém também a tradição pecuária, existindo na propriedade ovelhas da Serra da Estrela das quais é obtido o leite para os queijos e requeijão feito na queijaria da quinta, tudo produtos DOP – Denominação de Origem Protegida.
Tudo isto associado aos icónicos jardins e matas, desde há muito referidos e elogiados no passado, nomeadamente por Marques Loureiro, em 1890 que descreve as matas de “uma beleza surpreendente” e que “a sua plantação fora desde logo subordinada a um plano geral, plano que patenteia os muitos conhecimentos de quem os desenhou”.
IIP - Imóvel de Interesse Público
Inventário: Joaquim Gonçalves – junho de 2018
inserido na ROTA DO DÃO
Casa da Ínsua
(Consultada em junho de 2018)
ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa : Centro de Estudos de Urbanismo, 1962. pp. 233-235.
AZEVEDO, Carlos – Solares Portugueses: Introdução ao Estudo da Casa Nobre. 1ª ed. Lisboa : Livros Horizonte, 1969. pp. 81, 148.
BOWE, Patrick ; SAPIEHA, Nicolas – Gardens of Portugal. [S.l.] : Quetzal Editores, 1989. pp. 138-143.