Cerca e Claustro do Mosteiro de Landim
Norte | Vila Nova de Famalicão
Cerca e Claustro do Mosteiro de Landim
A Quinta do Mosteiro de Landim, correspondendo à antiga cerca, com uma área de cerca de 20 ha, incluindo jardim, mata e vinha, está localizada em vale, desenvolvida a sul, este e oeste do mosteiro. O mosteiro de Santa Maria de Landim, também chamado de Santa Maria dos Anjos ou, simplesmente, de Nandim, ergue-se numa região do vale do Ave onde se inscreviam, no séc. XII, os limites da Terra de Vermoim, tendo o seu assento no interior de uma antiga unidade agrária, de origem romana, a que faz referência um documento datado de 936 dos Diplomata e Chartae. Gonçalo Rodrigues da Palmeira, um fidalgo galego da corte de D. Teresa e membro da linhagem dos Travas, terá fundado o primitivo Monasterio de Nandim entre 1110 e 1128. Em 1177 dotou-o com o domínio da Palmeira que lhe coutou D. Afonso Henriques, numa altura em que o mosteiro já estava reformado pelos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. A partir do século XV o mosteiro de Santa Maria de Landim, na época um dos mais ricos do arcebispado de Braga, passou a fazer parte da lista das instituições monásticas alvo da atribuição de comendas. O Cardeal de Alpedrinha, D. Jorge da Costa, terá sido o seu primeiro comendatário. Entre 1526 e 1529, a comenda encontrava-se nas mãos de D. Miguel da Silva, cardeal-bispo de Viseu, vulto de grande destaque na corrente renascentista europeia que empreendeu, no século XVI, a grande reconstrução do mosteiro e na igreja com a assinatura do arquitecto Francisco Cremona. Em 1562, o mosteiro de Landim uniu-se à Congregação dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz de Coimbra, sediada em Santa Cruz de Coimbra. Em Julho de 1770, um Breve Apostólico de Clemente XIV determinava a extinção de nove mosteiros da Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, entre os quais se incluía o Mosteiro de Santa Maria de Landim.
Passados dois anos da saída dos crúzios das terras de Vila Nova de Famalicão, Manuel Baptista Landim (1715-1788), Administrador Geral dos Direitos dos Diamantes e Ouros, em Minas Gerais (Brasil), comprou o mosteiro, a cerca e a regalia do padroado da Igreja de Santa Maria de Landim. Desde então, a Casa do Mosteiro de Landim e a cerca, delimitada por um muro alto em toda a sua extensão, foram sendo transmitidas ao longo de várias gerações até ao nosso tempo a um só herdeiro, por forma a evitar a dispersão por outros ramos familiares. Uma das mais curiosas histórias da Casa do Mosteiro de Landim passou-se com Camilo Castelo Branco, no tempo em que era proprietário o seu amigo António Vicente de Carvalho Leal e Sousa (1821-1911). A remoção de umas pedras tumulares da sacristia da igreja paroquial de Landim para o centro do claustro do mosteiro a fim de permitir que pudessem ser observadas à luz do dia pelo escritor, levaram a que António Vicente tivesse sido acusado do crime de profanação de sepulturas. O caso, de contornos algo insólitos, terminou com um acórdão do Tribunal do Porto a ilibá-lo das acusações e o reconhecimento do escritor de Seide em nota escrita no seu romance O Senhor do Paço de Ninães: «O antigo mosteiro é hoje a bela casa e quinta do meu amigo António Vicente de Carvalho Leal e Sousa, herdeiro e sobrinho do último capitão-mor de Landim». Na Casa do Mosteiro de Landim o escritor de Seide conheceu o historiador Alberto Sampaio (1841-1908), irmão de José da Cunha Sampaio com quem se casara a filha de António Vicente. Com este casamento uniram-se duas das casas mais emblemáticas do concelho de Famalicão: a Casa de Boamense, situada a escassos quilómetros de Landim, e a Casa do Mosteiro de Landim.
O acesso à Quinta do Mosteiro de Landim é feito por uma alameda cujo início é marcado pela capela de São Brás com cruzeiro e algumas construções recentes, entre elas o edifício da Junta de Freguesia de Landim. Fronteiro à igreja encontra-se o edifício do atual salão paroquial, Centro Social e Colégio Correia de Abreu, que foi hospedaria durante o domínio conventual e, no século XIX, um estabelecimento de ensino, Real Colégio de D. Fernando.
O acesso à Casa do Mosteiro de Landim faz-se por um portão que abre para o pátio de entrada ajardinado com canteiros de camélias talhadas, muito antigas, dispostas em volta de uma fonte central decorada com o busto de Vénus. Adossada ao muro oeste do pátio encontra-se uma outra fonte revestida a azulejos, decorada com uma sereia a segurar um golfinho, encimada por uma cartela com carranca e data de “1837”. Neste jardim encontram-se ainda outras espécies como nespereiras, rododendros e olaia.
Os jardins de entrada da Casa do Mosteiro de Landim comunicam, através de um portão de ferro, com um outro jardim delimitado por muros de suporte rematados com elementos decorativos de cantaria, onde se podem observar dois pombais e uma fonte da segunda metade do século XIX, formada por uma taça quadrilobada rodeada de um caramanchão de teixo. A grande sombra é dada por notáveis rododendros, cameleiras oitocentistas de diversas espécies e palmeiras washingtonias. Junto a um dos pombais encontra-se uma estufa parcialmente revestida com azulejos do séc. XVII. No extremo oeste do jardim encontra-se um alpendre de madeira conhecido como “casa do preto” por ter albergado no centro da estrutura uma cabeça de um negro, esculpida em madeira, a servir de elemento decorativo.
Do terreiro da portaria partem caminhos para toda a quinta, sendo de realçar um, coberto por uma latada e ladeado por pomares e hortas, que serviria de «passeio aos cónegos», culminando numa fonte de espaldar com mina de água por trás, enquadrada de um e de outro lado por lanços de escadas. Daqui vai-se por um caminho ladeado por buxo que dá acesso à mata, que se desenvolve em pequena encosta. A mata apresenta grandes exemplares de eucaliptos, austrálias, carvalhos e pinheiros. No interior da cerca existe o recinto do jogo da Pela, todo ele sobrelevado e suportado por muros. Num dos topos situa-se uma escada de acesso ao recinto e no outro, um pavilhão, a Casa do Paço, com sala forrada de painéis de azulejos setecentistas, representando cenas das vidas de Santos, nomeadamente São Teotónio e Beato Telo, Santo António e São Francisco de Assis, a Assunção e a Sagrada Família. A mata apresenta grandes exemplares de eucaliptos, austrálias, carvalhos e pinheiros. Um caminho da mata conduz à eira e a outros equipamentos agrícolas, acompanhado por um aqueduto que traz água das nascentes na mata para serventia do mosteiro, regressando-se ao terreiro e aos jardins.
Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 2/96, DR, 1ª Série-B, nº 56 de 06 março 1996.
Inventário: Joaquim Gonçalves – maio de 2019.
Cerca e Claustro do Mosteiro de Landim
(Consultada em maio de 2018)
ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa : Centro de Estudos de Urbanismo, 1962. pp. 169, 170.
GUIA de Portugal: Entre Douro e Minho. II - Minho [S.l.] : Fundação Calouste Gulbenkian, 1996. Vol. 4. p. 780.
MARTINS, A. A.; FARIA, Emília Nóvoa – O Mosteiro de Santa Maria de Landim: raízes e memória. Edição de autor, 2002.
http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=1714
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Norte
http://www.mosteirodelandim.pt