Cerca e Claustros do Mosteiro de Tibães

Norte | Braga

Cerca e Claustros do Mosteiro de Tibães

O Mosteiro de São Martinho de Tibães, a casa-mãe da Congregação de São Bento, envolto por cerca murada encontra-se a 6km da cidade de Braga na meia encosta do monte de São Gens na margem esquerda do rio Cávado do qual dista cerca de 1 km. Encontra-se afeto à Direção Regional de Cultura do Norte.

Informações não comprovadas apontam para um primitivo cenóbio no século VI, fundado por São Martinho de Dume (c.510-579), com provável origem numa villa romana em local próximo do atual mosteiro. Sabe-se que em 1070 foi erigido neste local por D. Velasquides e foi sendo alvo de várias doações até que em 1110 lhe foi concedida Carta de Couto por D. Henrique e D. Teresa e novas doações foram-se sucedendo. O poder do mosteiro foi crescendo até ao século XVI, sendo escolhido para Casa-mãe da Congregação de São Bento dos Reinos de Portugal, por bula do papa Pio V (1566-1572) após o Concílio de Trento, em 1567. Possuía 22 mosteiros em Portugal e 13 no Brasil. A comunidade monacal residente no mosteiro, a par da sua prática espiritual cristã, tinha o dever de praticar vários ofícios e trabalhos, nomeadamente os de natureza agrícola, sendo que os mosteiros se tornaram verdadeiros centros difusores de cultura. Sendo um mosteiro de observância beneditina, os monges seguiam as regras do silêncio, obediência, pobreza, oração e trabalho, segundo São Bento de Núrsia (480-547) sob o lema 'ora et labora’.

O mosteiro atingiu o máximo do esplendor nos séculos XVII e XVIII, tendo-se tornado um dos maiores conjuntos monásticos. É composto por igreja e dependências monacais adoçadas, com dois claustros e quatro pátios, que evoluem perpendicularmente à igreja e à cerca que se desenvolve pela encosta acima a sul do mosteiro. Essencialmente maneirista, barroco e rococó ditou grande parte das regras e modelos de construção de vários mosteiros da mesma ordem, nomeadamente ao nível da decoração de talha barroca graças ao trabalho do monge-entalhador Frei José de Santo António de Vilaça (1731-1809). A igreja foi construída entre 1628-1661. Em 1614 foi construído o sistema de captação de água a partir da fonte dos Anjos e entre 1725 e 1734 foi construído o escadório e reconstruída a velha Capela de São Bento. Em 1728 foi construída a Fonte de São Bento e substituição da Fonte dos Tornos.

Em 1834, com a extinção das ordens religiosas, o mosteiro é encerrado e vendido em hasta pública e comprado por dois particulares. Em 1838 é arrematada a cerca por António da Silva Reis e o edifício vendido mais tarde, em 1864, exceto a igreja (manteve-se ligada à paróquia de Mire de Tibães) sacristia e claustro do cemitério. Nos anos 40 do séc. XX, o volfrâmio foi explorado na cerca. Os proprietários morreram sem descendência deixando o mosteiro aos caseiros. Quase todos os bens do interior e exterior foram sendo vendidos, nomeadamente a Fonte de São Beda, atualmente no Museu Nogueira da Silva, em Braga. O mosteiro atravessou um momento de grande de degradação até que, em 1986, o Estado Português o adquiriu incluindo a totalidade da cerca tendo-se então pensado em diversos fins para a sua ocupação, Iniciou-se um consistente e prolongado trabalho de investigação, restauro e recuperação que o viabilizaram como espaço paroquial, cultural, de acolhimento e pedagógico. Em 1998, recebeu o Prémio Internacional Carlo Scarpa, da Fundação Benetton (Treviso, Itália) pela recuperação da cerca.

O acesso ao mosteiro é feito a partir de um amplo terreiro que se inicia com o Cruzeiro de Tibães e remata na igreja e dependências monacais. O terreiro é envolto por muros das quintas da Ouriçosa e da Eira, outrora pertencentes ao mosteiro e hoje propriedade privada. A ladear a igreja, encontra-se o cemitério. A igreja está voltada a poente e acede-se por um adro sobrelevado antecedido de ampla escadaria em pedra.
A entrada dos visitantes faz-se pela Porta dos Carros no piso inferior das dependências monacais. Esta entrada dá igualmente acesso à Hospedaria Convento de Tibães. Uma vez no interior, em frente encontra-se a receção, o acesso ao Pátio de São João, muito declivoso, e com “um jardim de alegretes de cantaria elevado por três lados sobre muros de suporte” e fonte ao centro, encontrando-se a imagem de São João num nicho da parede sul; à direita a Casa do Recibo, hoje muitas vezes usada como espaço expositivo e de atividades culturais; à esquerda a Portaria por onde se inicia a visita ao interior do mosteiro por uma escadaria. Esta conduz aos pisos superiores, dando acesso às alas onde se encontram os aposentos abaciais, as celas, a botica e barbearia e a Sala do Capítulo, assim como ao claustro do cemitério por onde se acede à entrada lateral da igreja e à sacristia. Este possui dois andares, o inferior composto por arcadas de volta perfeita, vários painéis de azulejo alusivos à vida de São Bento, fonte sobrelevada ao centro assente numa plataforma de três degraus, com tanque encurvado, e taça polilobada, decorada com carrancas, terminando em florão, envolta por quatro canteiros quadrados de pedra com buxo, cameleiras, diversos arbustos e roseiras, intercalados com outros quatro canteiros irregulares, mais pequenos. O acesso ao coro alto faz-se pelo piso superior do claustro. Do Claustro do Cemitério pode-se aceder ao Claustro do Refeitório. Este foi alvo de um incêndio tendo sido objeto de uma intervenção recente da autoria do arquiteto João Carlos Santos. Na parede sul, vêem-se os vestígios do refeitório e, a poente, o acesso às cozinhas, hospício e à Hospedaria.

O acesso à cerca pode ser feito pelo Claustro do Refeitório ou a partir deste através das cozinhas que conduzem ao Pátio das adegas, separado do Pátio de São João por um muro elevado com porta e passadiço superior com bancos e alegretes. No Pátio das adegas, dois túneis dão passagem para a cerca, um para poente outro para sul, no canto sudoeste do pátio. Outro modo de aceder à cerca do mosteiro é a partir do piso superior através de uma varanda alpendrada com bancos, alegretes e a Fonte de São Pedro, junto ao espaço de acesso à Sala do Capítulo e, com uma escada lateral pela qual se acede a um terreiro alongado e ensombrado por uma ramada, correndo paralelamente um aqueduto.

A cerca desenvolve-se encosta acima tendo na parte mais plana os campos das hortas ao longo da fachada da Casa do Capítulo, cozinhas e refeitório, hoje ocupados por milho e intercalados por caminhos cobertos por ramadas. Existe um caminho principal, mais largo, que se desenvolve em patamares até um banco de azulejos, ladeado de buxos, roseiras e hidrângeas. Para a direita do caminho encontram-se os campos de cultivo que rematam nuns espigueiros. Os campos das hortas são delimitados por um muro em pedra a sul e, a norte, um alinhamento de buxo. À direita do banco encontra-se a Fonte de São Bento, rodeada por bancos e lajeada, e um tanque. Indo pela esquerda em direção a nascente chega-se à base do escadório que se desenvolve entre muros rebocados em direção à capela de São Bento, que se inicia por um chafariz e é ritmado por um conjunto de fontes com uma diversidade de ornamentações, nomeadamente de cariz naturalista como frutos, animais ou conchas e uma alternância de desenhos de pavimento nos patamares. Ao centro corre a conduta da água. O escadório remata num tanque de grandes dimensões que encosta ao muro norte do patamar superior e ao qual se acede por duas pequenas escadas laterais de pedra. Neste patamar, encontra-se a capela de São Bento com um alpendre e tendo na parte da frente um conjunto de canteiros onde as azáleas marcam presença e uma pequena fonte ao centro. O escadório está envolvido em mata densa de carvalhos, castanheiros, pinheiros, medronheiros, loureiros, também esta armada em socalcos largos suportados por muros de pedra acompanhados por caminhos, paralelos às hortas.

Da capela de São Bento, entre as árvores avista-se o mosteiro e o vale do Cávado e acede-se à mata sendo oferecidos mais do que um percurso. Um que se aproxima do muro da cerca onde corre parte do sistema hidráulico de abastecimento da cerca e outro mais curto, junto a um pequeno vale atravessado pelo aqueduto, e que conduz ao lago, em forma oval, tendo a sul uma distinta fonte com uma cascata adoçada a um muro alto e curvo encimado por dois obeliscos em granito. O lago, envolto em denso arvoredo, tem a sul uma pequena zona de estadia com uns bancos em granito e onde pontuam, entre outras, tílias e enormes cedros. Um caminho leva ao caminho sul da horta, tendo logo à esquerda uma pequena escada onde outrora esteve colocada a fonte de São Beda, e à direita um moinho entretanto reabilitado para atividades culturais ou de lazer e um caminho para retorno à mata. Regressa-se ao mosteiro pelo caminho nascente dos campos das hortas, rematado por um muro atrás das quais existem laranjeiras, e por ele se acede ao Claustro do Refeitório. Desde 1989 que os trabalhos de conservação da cerca e do terreiro do Mosteiro têm tido a orientação técnica dos arquitetos paisagistas Maria João Dias Costa e Paulo Farinha Marques.

Imóvel de Interesse Público - Decreto nº 33 587, DG, 1ª Série, nº 63 de 27 março 1944 / ZEP, Portaria, DG, 2ª Série, nº 242 de 18 outubro 1949 / Zona "non aedificandi", Portaria 736/94, DR, 1ª Série-B, nº 187 de 13 agosto de 1994 l Igreja e Mosteiro de Tibães

Monumento Nacional - Decreto de 16-06-1910, DG, n.º 136, de 23-06-1910 l Portaria n.º 736/94, DR, I Série-B, n.º 187, de 13-08-1994 (com ZNA) l Cruzeiro

Inventário: Teresa Andresen - junho 2019

Cerca e Claustros do Mosteiro de Tibães

(consultada em junho de 2019)

ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa : Centro de Estudos de Urbanismo,1962

CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins com História: Poesia atrás de muros. [S.l.]: Edições Inapa, 2002. p. 161.

CARITA, Hélder ; CARDOSO, António Homem – Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal : ou da originalidade e desaires desta arte. [S. l.] : Edição dos Autores,1987

LEVANTAMENTO E AVALIAÇÃO de Jardins Históricos para Turismo.  Lisboa: Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves, Instituto Superior de Agronomia. Abril de 1998.  Vol. I.

GUIA de Portugal: Entre Douro e Minho. II - Minho [S.l.] : Fundação Calouste Gulbenkian, 1996. Vol. 4. 

https://culturanorte.pt/pt/patrimonio/mosteiro-de-sao-martinho-de-tibaes/ http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/sipa.aspx?id=1151 http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=33911 http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=11787 https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4381102

Rua do Mosteiro 59