Quinta do Souto
Norte | Braga
Quinta do Souto
A Quinta do Souto encontra-se na margem direita do Rio Este, no lugar da Estrada também conhecido por Prado do Cestelo ou Ponte, na freguesia de Este São Pedro e São Mamede, no sopé da vertente nascente do Monte Espinho onde se localiza o Santuário do Bom Jesus do Monte. Foi uma quinta com uma extensão considerável constituída por campos na veiga do rio Este e várias bouças.
A Quinta do Souto é certamente um lugar antigo, tendo dentro de si nascentes do rio Este. Terra fértil na proximidade de uma via principal, distando 5 km do centro de Braga, localizada numa veiga. A Quinta do Souto está nas imediações do Itinerário XVII de Antonino (Braga, Chaves, Astorga). Pertenceu a Simão Duarte de Oliveira (1799-1893), natural de São Pedro d’Este, pai de Simão Duarte de Oliveira Júnior (m. 28. 10.1928) casado com Frederica Cecília Bettencourt da Câmara Teles de Menezes de Nora e Oliveira (m. em 10.07.1971) que, em 1931, vendeu a quinta a José Maria Braga da Cruz. A planta existente na casa data de 1850 quando era proprietário da quinta Simão Duarte de Oliveira e representa a propriedade dentro de muros. Está assinada pelo engenheiro Manuel Couto Guimarães, com vasta obra ainda não devidamente estudada em Braga (incluindo no Santuário do Bom Jesus e no Porto).
Simão Duarte de Oliveira Júnior era primo de José Duarte de Oliveira Júnior (1848-1927) fundador, conjuntamente com o célebre horticultor e proprietário no Porto do Horto das Virtudes José Marque Loureiro, foi redator de 1870 a 1887 de O Jornal de Horticultura Prática que, entre 1870 e 1892, se publicou mensalmente no Porto. Os dois primos estudaram em Inglaterra e sabe-se que mantiveram uma duradoura amizade o que nos leva a crer que o jardim de buxo da Quinta do Souto seja o resultado desta relação nomeadamente atendendo à idade do enorme exemplar de rododendro aí existente assim como das coleções de camélias portuenses antigas e rosas antigas, para além do próprio buxo. A casa foi alvo de uma intervenção por parte do arquiteto Francisco Carlos Azeredo na década de 1970 que procedeu ao restauro e remodelação da casa.
Acede-se à quinta por um portal de onde parte um caminho em direção à casa, suportado por um muro a poente, sobranceiro a campos de cultivo em dois níveis e ladeado do lado direito por um pequeno souto e o campo da eira com pequeno muro de suporte definindo dois patamares sendo o mais elevado confinante com pequeno casario de aluguer pertença da quinta. O varandão outrora existente, de excecionais dimensões, crê-se que construído por Simão Duarte de Oliveira foi incendiado em 1974.
O terreiro da casa é de pequenas dimensões e dá acesso à casa, existindo um lance de escadas de acesso ao 1º andar, de gosto neoclássico. No terreiro existe um pequeno tanque em granito de uma pedra só, tosco, ladeado por duas elegantes pedras de remate de escadaria, que provavelmente serviram as escadas primitivas de acesso à casa, anteriores às obras de Simão Duarte de Oliveira. À direita do terreiro existe um portão de acesso ao caminho público e à esquerda o acesso aos jardins e hortas separados por três lances de escadas contruídos em 2007. As hortas encontram-se a sul, divididas em dois terraços ligados por uma escada lateral à Fonte de Santo António – horta de cima e horta de baixo, com ligação aos campos do laranjal e separadas por um muro dos campos de baixo. A Fonte de Santo António construída em granito é concebida como um tanque de mergulho, suportado por dois muros de suporte a poente e a sul que definem um quadrado em laje. Na parede nascente existe um nicho com uma pequena pia onde cai a água vinda da nascente através de um pequeno monstro marinho em pedra muito danificado. A água cai da pia para um pequeno canaleto que a conduz para fora da fonte. Os lados poente e norte são fechados por muros de granito, havendo uma entrada no muro norte com dois degraus. Existe um banco ao comprimento de três lados. A fonte poderá ter sido coberta por ramada constituindo uma casa de fresco e é certamente anterior à intervenção de Simão Duarte de Oliveira.
Os jardins encontram-se à direita dos três lances de escadas e distribuem-se por dois patamares, imediatamente abaixo da fachada poente da casa, e paralelos a esta. No primeiro patamar está
o jardim de buxo, provavelmente instalado por Simão Duarte de Oliveira com o conselho de seu sobrinho José Duarte de Oliveira e plantas fornecidas pelo Horto Loureiro do Porto. Nele se distingue o monumental rododendro e a coleção de camélias portuenses e de rosas antigas, a que se associam diversas espécies arbustivas prevalecendo as azáleas. O jardim é suportado a poente por um muro alto com reboco rosa. O remate do jardim paralelo a este muro faz-se por um pequeno muro interrompido em três lugares por uma grade, ladeada por dois bancos constituindo assim três namoradeiras. Os remates norte e sul do jardim são novamente feitos por muros de pedra com capeamento por lajes de granito e com duas aberturas suportadas por pequeno lance de escadas e ao centro que definem o eixo longitudinal do jardim. No segundo patamar encontra-se o jardim do tanque, todo dentro de muros, contendo estas três aberturas de acesso, suportadas por escadas. O tanque encontra-se suportado por um conjunto de pedras encimadas por pedras de lavadouro. A água entra a partir de mina com abertura na parede nascente e abastece o tanque, com saída pelo lado sul através de canaleto outrora coberto por lajes de pedra que, desde 2007, se encontram a definir um pequeno eixo de circulação no interior do jardim onde, nessa mesma data, foi instalado um prado. No muro nascente existe ainda uma outra fonte recuada, dentro de um nicho definido por um arco e que corresponde a uma 2ª saída de mina. O jardim do tanque a poente dá para os campos de baixo.
Pelo lado norte da casa corre um caminho de acesso aos campos agrícolas, com pendente acentuada, tendo à direita três enormes oliveiras, estando depois contido entre dois muros com aberturas para o jardim de buxo, para o jardim do tanque e ainda para os campos norte. No final do caminho, ao longo do muro encontra-se uma vala em pedra que conduz as águas da presa e que é ladeado por um capeamento de muro que nos leva à presa. Esta tem duas entradas com portas com grade de acesso às duas condutas de granito com alturas desencontradas provenientes da presa e numa pedra aparece inscrita a data de 1856.
Inventário: Teresa Andresen - janeiro de 2020