Santuário de Nossa Senhora de Aires
Alentejo | Viana do Castelo
Santuário de Nossa Senhora de Aires
O Santuário de Nossa Senhora de Aires encontra-se a 2 Km de Viana do Alentejo, imponente destaca-se na planície, na estrada romana de Évora a Beja. Aqui encontraram-se vestígios arqueológicos romanos, inclusivamente de uma necrópole. Por exemplo, no exterior, no muro da cerca, pode ver-se uma lápide romana. O culto de Nossa Senhora de Aires, efetivamente Nossa Senhora da Piedade, remonta ao século XVI e está associado à lenda de um lavrador que, ao lavar a terra, encontrou a imagem. Conta ainda que houve um milagre e Nossa Senhora apareceu ao lavrador. Aqui existiu uma ermida quinhentista anterior à atual igreja que foi substituída em resultado da crescente afluência de peregrinos. A Confraria de Nossa Senhora de Aires foi fundada em 1730 e dela partiu a iniciativa de construir uma igreja maior devido ao crescente número de devotos. Para além da igreja, foram construídos outros equipamentos destinados ao acolhimento dos peregrinos. O traçado da nova igreja foi realizado pelo irmão João Baptista (1707-1762), da Congregação do Oratório de São Filipe de Néri de Estremoz, datando de 1743 embora não se conheçam os desenhos originais o que não permite saber com exatidão quanto da obra realizada corresponde ao projeto de João Baptista. A Congregação do Oratório foi fundada em 1565, em Roma, por São Filipe de Néri (1515-1595). Em Lisboa, a Congregação do Oratório de São Filipe de Néri foi fundada em 1668 seguiram-se outras casas no país incluindo a de Estremoz (1697) por iniciativa do arcebispo de Évora, D. Frei Luís da Silva, onde João Baptista exerceu diversos cargos. Em 1751, foi atribuído um alvará que declarou o mercado junto ao santuário como feira franca e, a 15 de março de 1760, realizou-se a dedicação da igreja. A grandiosidade da obra obrigou a um elevado esforço financeiro por parte da Confraria levando a adiamentos e ajustes na obra. As obras são dadas por concluídas em 1792, Manuel Gomes foi o mestre de obra se bem que todo o trabalho do interior da igreja tenha sido realizado já no século XIX. A sagração do santuário ocorreu em 1804. Próximo da igreja existe uma ermida dedicada ao Senhor Jesus da Pedra ou do Cruzeiro concluída em 1755 que assim associa ao culto mariano o culto cristológico. Na igreja existe um impressionante espólio votivo constituído sobretudo por ex-votos, fotografias, objetos pessoais, ceras de vários tamanhos e formatos, registos etc. Recentemente, concluíram-se as obras de requalificação e conservação iniciadas em 2017 por iniciativa da Fábrica da Igreja Paroquial de Viana do Alentejo e financiadas pelo programa Alentejo 2020.
A enorme igreja barroca encontra-se dentro de um adro murado, com portões de ferro, paredes-meias com a cerca destinada aos quartéis de peregrinos e outras dependências. Fronteiro à igreja, estende-se um amplo arraial destinado às festas e próximo, do lado esquerdo da igreja num ponto um pouco elevado, encontra-se a pequena ermida de Senhor Jesus da Pedra ou do Cruzeiro. O muro da cerca apresenta algumas aberturas nomeadamente janelas e três portas, e os edifícios que a circundam são de piso térreo, ao serviço dos peregrinos. Raquel Seixas, refere-se à cerca como a “Alameda, junto ao santuário” e citando Frei Agostinho de Santa Maria (1718) sobre a Alameda dos Romeiros que servia de resguardo aos peregrinos protegendo-os do sol informa que “... huma vistosa lameda de choupos, dispostos à linha, em seis ruas, cada hua do comprimento de huma grande carreyra de cavallo, que faz aquelle sitio muy alegre, vistoso, & agradável.” No terreiro fronteiro à porta principal da cerca encontra-se a fonte-tanque de Nossa Senhora de Aires, com a data inscrita 1640, anterior à construção da igreja, com espaldar retangular encimado de frontão triangular integrando uma lápide de mármore evocativa da Restauração. Atrás da fonte, encontra-se o tanque triangular, bebedouro de animais. A vegetação é escassa, pontuam sobretudo freixos e oliveiras. Na frente da igreja, encontra-se o arraial que hoje se estende para outras partes da envolvente da igreja e onde se realizam as festas, nomeadamente as de setembro em honra de Nossa Senhora. A romaria a cavalo, tradição que esteve interrompida durante mais de setenta anos, foi retomada em 2001 e atualmente realiza-se em abril, iniciando-se na igreja de Nossa Senhora da Viagem, na Moita, até Viana do Alentejo, percorrendo cerca de cento e vinte quilómetros, seguindo pela antiga “canada real.”
Monumento Nacional Decreto n.º 31-J/2012, DR, 1.ª série, n.º 252 de 31 dezembro 2012 (Santuário de Nossa Senhora de Aires e Ermida do Senhor Jesus do Cruzeiro). Nota: “O complexo inclui toda a cerca do Santuário, abrangendo o grandioso templo e dependências anexas, a antiga hospedaria, hoje arruinada, e a fonte e tanque de Nossa Senhora de Aires, no Terreiro dos Peregrinos, esta ainda datada de 1640.”
ZEP Portaria n.º 307/2014, DR, 2.ª série, n.º 92, de 14-05-2014
Inventário: Teresa Andresen - janeiro 2019
inserido na ROTA DO ALENTEJO
Santuário de Nossa Senhora de Aires
(consultada em janeiro 2020)
SEIXAS, Raquel A. A. R. – O Santuário de Nossa Senhora de Aires: arquitectura e devoção (1743-1792). Tese de Mestrado em História de Arte Moderna. UNL FCSH. Setembro de 2013
https://run.unl.pt/bitstream/10362/11915/1/RaquelA.Seixas.pdf
https://digitarq.arquivos.pt/details?id=1375767
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=4450