Casas Pintadas

Alentejo | Évora

Casas Pintadas

O Jardim das Casas Pintadas encontra-se incorporado no Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida, uma instituição de direito privado e utilidade pública, cujos fins estatutários se concretizam nos domínios cultural e educativo, social, e espiritual, visando o desenvolvimento humano pleno, integral e sustentável da região de Évora. Em 2008, a Fundação levou a cabo o projeto de valorização e requalificação do jardim das Casas Pintadas sob coordenação das arquitetas paisagistas Aurora Carapinha e Paula Simões e recuperou e requalificou o edifício, em 2013, dando-lhe esta nova vocação, sob coordenação do arquiteto Francisco Barata.

Neste edifício funcionou, de 1655 a 1821, o Tribunal do Santo Ofício, o primeiro a ser criado em Portugal. Ao longo dos tempos, o Palácio da Inquisição sofreu obras para adaptação do edifício a diversos fins - casa de habitação, hotel, instituto universitário e departamento da Universidade de Évora - pelo que a sua estrutura atual é muito diferente da primitiva. Como memória da primitiva função sobressaem a Sala do Tribunal e o Cubículo do Inquisidor.

As Casas Pintadas devem o seu nome ao singular conjunto de frescos quinhentistas que decora a galeria e o oratório anexo integrados no jardim e que, em 2011, foi objeto de estudo e de uma intervenção de consolidação e restauro. À época da execução dos frescos, as Casas Pintadas pertenciam a D. Francisco da Silveira, 3º Coudel-mor de D. Manuel I e de D. João III e um poeta de referência no Cancioneiro Geral. Em finais do século XVI, as Casas Pintadas foram anexadas ao Palácio da Inquisição para servir de moradia aos juízes do Santo Ofício. No século XIX existiu no conjunto habitacional das Casas Pintadas um teatro denominado “Teatro Eborense”, a primeira sala pública de espetáculos de Évora. No início da década de sessenta do século XX, Vasco Maria Eugénio de Almeida, Instituidor da Fundação, adquiriu o imóvel que adaptou e cedeu para residência da Companhia de Jesus em Évora, responsável pela coordenação científica do ISESE (Instituto Superior Económico e Social de Évora), criado em 1964, que funcionava no contíguo Palácio da Inquisição.

O Jardim das Casas Pintadas apresenta-se como um exemplar único no panorama da Arte dos Jardins em Portugal. Primeiro, porque faz parte da história do urbanismo da cidade do século XVI, constituindo-se como um singular representante da expressão estética própria da transição entre a Idade Média e o Renascimento. Depois, pela permanência dos seus espaços abertos – pátio, jardim e horta – durante quatro séculos; e, ainda, pela relação que se estabelece entre o jardim e os frescos da galeria que o integra.

Este é um espaço fechado e intimista que reflete a transformação urbanística da cidade ocorrida sobretudo a partir do reinado de D. João II, período de longa permanência da corte e de nobilitação da cidade. Enquadra-se, por isso, na “campanha” de construção de casas nobres em Évora, expressão da formação e da presença de uma cultura cortesã da qual o espaço aberto ligado à habitação assume importante protagonismo na vivência do quotidiano – o loci amoeni – espaço de prazer e quietação, mas também de alegria, de canções, de dança, de amores discretos, de sociabilidade ou mesmo um símbolo de prestígio.

O conjunto habitacional das Casas Pintadas é, assim, resultado deste período de viragem entre o ideário medieval e o renascentista. O horto, ou jardim, é construído a partir da apropriação de uma via pública do traçado medieval, facto que ainda hoje é percetível na estrutura dos espaços abertos que polarizam o Paço dos Silveira Henriques. A poente, a delimitação do jardim é feita por uma galeria decorada com pinturas a fresco datadas entre 1515 e 1534. As pinturas murais eram uma prática comum nos programas decorativos dos jardins quinhentistas, mas a sua permanência até aos dias de hoje confere extrema importância a este conjunto, sobretudo no contexto ibérico. De facto, tanto em Portugal como em Espanha, não se conhecem outros jardins onde esta linguagem decorativa ao ar livre esteja ainda presente.

As laranjeiras deste jardim foram plantadas por Vasco Maria Eugénio de Almeida nos finais dos anos sessenta do século XX. A presença destas árvores é uma componente fundamental na definição da espacialidade do conjunto, assim como é fundamental na anulação da presença da cerca desproporcionada do edifício da Inquisição que limita, a nascente, o jardim. O projeto de restauro do jardim valorizou a presença das laranjeiras, introduziu um relvado com um pequeno espelho de água, valorizou a existência de uma pequena ramada, de alegretes junto aos muros onde encontramos espécies vegetais ornamentais, medicinais e hortícolas, como a videira, as rosas, as alfazemas ou as madressilvas.

Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 37.801, DG, 1.ª SÉRIE, n.º 78 de 02 de maio 1950 / Incluído no Centro Histórico da Cidade de Évora.

Inventário: Fundação Eugénio de Almeida / Teresa Andresen - janeiro 2020

inserido na ROTA DO ALENTEJO

Casas Pintadas

CARAPINHA, Aurora - Os Jardins. Évora. Cadernos do Património da Fundação Eugénio de Almeida, 2004
https://www.fea.pt/2023-antigo-tribunal-da-inquisicao
https://www.fea.pt/patrimonio-cultural/3601-as-casas-pintadas
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=4446

Largo Conde de Vila Flor