Quinta da Lagoalva de Cima
Lisboa | Alpiarça
Quinta da Lagoalva de Cima
A Quinta da Lagoalva de Cima, na margem esquerda do rio Tejo, encontra-se a cerca de 5 km de Alpiarça, entre o rio e a EN 118, circundada pela Vala de Alpiarça.
A Quinta – como passou a ser chamada da 1.ª metade do século XIX para cá – foi terra da Ordem Militar de Santiago, na qualidade de Comenda, designação constante ao longo de 7 séculos, por ter sido doada em 1193, pelo rei Povoador (D. Sancho I), ao Comendador-mor da ordem, período histórico da Reconquista. Devido àquela nobre distinção, a Comenda e hoje Quinta da Lagoalva, foi sempre de membros da Nobreza ou Comendadores, estatuto dos Cavaleiros-militares.
Já no século XVIII, achamos a Comenda da Lagoalva e suas terras, anexas – como então se dizia, das propriedades da Casa da Lagoalva – andava na posse da ilustre família dos Lavre, servidores da Casa-real, membros do Conselho Ultramarino do tempo de D. João V, dos quais, o famoso Manuel Caetano Lopes de Lavre. Ainda no final daquele século XVIII e entrando já pelo século XIX, passaram as propriedades da Casa, por arrendamento, à distinta família de capitalistas da Praça de Lisboa, os Lima, depois Lima-Mayer, pelo casamento da herdeira daquele património com António Mayer, membro de uma família de origem francesa, estabelecida em Portugal.
O elegante palácio da família de Souza e Holstein, existente hoje na propriedade mãe ou Quinta da Lagoalva, remonta à época daquelas duas dinastias de possuidores, Lavre e Lima, tendo sofrido remodelações, a pedido do tempo e das circunstâncias, sem perder a sua feição barroco-pombalina de solar e casa de campo.
Entre o rol de membros da linhagem dos possuidores da Lagoalva, conta-se gente de alta nomeada, príncipes e cavaleiros-fidalgos cujo nome ficou ligado ao dos mais famosos navegadores portugueses do século XVI.
Com a revolução de 1820 e a nacionalização dos bens nacionais e das ordens religiosas e militares, tais bens foram postos à venda, maioritariamente a partir de 1834, entre os quais se acharia a antiga Comenda da Lagoalva da Ordem de Santiago, logo adquirida por ordem testamentária de Henrique Teixeira de Sampaio, 1.º Conde da Póvoa, em nome da pessoa colectiva dos seus filhos menores e seus herdeiros.
Pelo casamento da filha e herdeira do 1.º Conde da Póvoa (neta materna do 1.º conde de Peniche), D. Luísa Maria Noronha, com D. Domingos de Souza Holstein, 1.º Marquês do Faial, 2.º Conde do Calhariz e 2.º Duque de Palmela, primogénito do 1.º Duque deste título, D. Pedro de Souza Holstein, a Quinta da Lagoalva entrou no ano de 1834 na família e descendência Palmela onde se mantém.A família Palmela assumiu a gestão direta das propriedades, pelos anos 40/50 do séc. XIX.
A quinta estende-se por uma área plana imensa de 660 ha, incluindo os terrenos férteis da lezíria onde hoje estão instalados pivots para rega do milho e os da charneca onde o montado ocupa cerca de 200 ha. O olival já ocupou extensas áreas, hoje mais reduzidas, continuado o azeite a ser uma produção representativa da quinta. A vinha estende-se por 50 ha, estando na base dos vinhos da Lagoalva.
A casa ocupa uma posição no assento agrícola organizado segundo um eixo SE-NW. A entrada principal parte de um caminho que vem da estrada nacional e é constituída por uma alameda. No entanto, na atualidade a entrada é feita lateralmente por um enorme portal. Ambos os acessos levam a um imenso terreiro arborizado e rodeado por edifícios, tendo ao centro uma enorme nora, e a casa com a sua fachada virada a sudoeste. Uma passagem ao nível do rés-do chão conduz ao terreiro principal, tendo à esquerda a capela dedicada a São Pedro Apóstolo, ao centro um pequeno caramanchão, e remata num gradeamento com portão sendo que esta era a primitiva entrada da propriedade a partir do rio. Este terreiro tem novo terreiro à direita que dá acesso à zona de estrebarias e picadeiro e na sua entrada encontra-se a torre sineira, memória de ritmos antigos de trabalho na propriedade. Para norte do gradeamento, acede-se aos campos da quinta passando por um notável conjunto rural, uma verdadeira aldeia, onde outrora viviam os trabalhadores da quinta possuindo, praça de touros, forno comunitário, barbearia, escola, etc.
Inventário: João Campilho e Teresa Andresen
inserido na ROTA DO TEJO
Quinta da Lagoalva de Cima
(Consultada em janeiro de 2020)
LÁZARO, Alice 2007 - Cavaleiros de Santiago – Senhores da Lagoalva. Imagens & Letras. Vols. I, II e III
http://www.enotur.pt/pt/cellars/quinta-da-lagoalva
https://grandesescolhas.com/lagoalva-de-cima-um-tejo-diverso-e-pioneiro/