Santuário de Nossa Senhora dos Remédios
Norte | Lamego
Santuário de Nossa Senhora dos Remédios
O Santuário de Nossa Senhora dos Remédios está localizado em Lamego, no monte de Santo Estêvão, antecedido por extensa alameda – avenida das Tílias entre a avenida Dr. Alfredo de Sousa e avenida Visconde Guedes Teixeira – que se inicia no museu de Lamego, antigo paço episcopal reedificado na segunda metade do século XVIII e com a função de museu desde 1918. A norte do museu fica a catedral. No outro extremo da alameda, inicia-se o escadório até ao alto do monte onde se encontra a igreja que substituiu a capela de Santo Estevão. Construído ao longo de 150 anos, a obra terminou em 1905. O escadório está envolto pelo parque de Santo Estevão ou dos Remédios sendo que o culto do santo foi decaindo em detrimento da devoção a Nossa Senhora dos Remédios.
Em 1361, o bispo D. Durando mandou construir uma ermida dedicada a Santo Estevão. No tempo do bispo D. Manuel de Noronha (m. 1569) encontrava-se em ruínas e em 1568 e ele mandou reedificar uma nova capela, sensivelmente onde hoje se encontra o pátio dos Reis. Embora tivesse transferido a imagem de Santo Estevão para a nova capela, colocou-a sob a invocação da Virgem tendo mandado vir de Roma uma imagem que alcançou devoção como Nossa Senhora dos Remédios. Por volta de 1628 foi constituída a Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios A capela foi demolida e a nova e atual igreja passou a ocupar um lugar mais cimeiro. A primeira pedra foi assente em 1750, iniciativa do cónego José Pinto Teixeira que presidia à Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios, dando início a uma primeira fase de trabalhos que se arrastou até 1778. A atribuição a Nicolau Nasoni (1691-1773) da autoria da igreja não é consensual, já a da fonte abastecida por minas do parque e existente lateralmente no adro da igreja é. Está datada de 1738, sabendo-se que veio para aqui do adro da antiga capela construída pelo bispo D. Manuel de Noronha. As duas torres foram construídas entre 1880 e 1905 sendo o projeto do arquiteto Augusto de Matos Cid. A construção do escadório iniciou-se em 1777 com a contratação do pedreiro Manuel Faustino Loureiro pelo bispo D. Manuel de Vasconcelos Pereira para a sua execução a partir de desenhos enviados de Lisboa, mas a obra só ficou concluída no século XX. Todo construído em granito, possui vários silhares de azulejos assinados pelo pintor F. Gonçalves, datados de 1955, provenientes da Fábrica do Carvalhinho em Vila Nova de Gaia. Em 2015, o santuário foi alvo de um projeto de Conservação e Restauro pro iniciativa do Município de Lamego, Direção Regional da Cultura Norte e da Irmandade com o apoio de fundos comunitários.
A avenida das Tílias é percorrida por quatro alinhamentos de árvores, com uma sucessão de tanques ao centro com estatuária e o monumento ao Soldado Desconhecido. O escadório é constituído por vários lances de escadas ora convergentes e divergentes ora centrais que partem desta avenida sendo, na sua parte inferior, cortado pela Estrada Nacional 2. A parte inferior do escadório abaixo da estrada foi concluída já no 3º quartel do século XX. Os lances de escadas conduzem a diferentes patamares sendo o mais impressivo já na parte alta onde existiu a primitiva capela dedicada a Santo Estevão. É o chamado terreiro dos Reis com dois pórticos que dão para uma alameda do parque, rodeado por dezoito estátuas de figuras bíblicas (reis e patriarcas) executadas no início do século XIX por António de Sousa e Manuel de Liz e com a Fonte dos Gigantes, no centro com um enorme obelisco sustentado por quatro gigantes, pela boca dos quais corre água que cai numa taça. Numa cota inferior, encontra-se o terreiro de Jesus Maria José ou de Nossa Senhora de Lurdes, com uma capela hexagonal construída em 1783 dedicada à Sagrada Família, tendo por cima da porta o brasão do bispo D. Manuel de Vasconcelos Pereira. A imagem de Nossa Senhora de Lurdes foi colocada posteriormente. Em frente da capela encontra-se a fonte da Sereia, com uma escultura de um tritão montado num golfinho, mandada executar pela Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios em 1886. Na parte inferior do escadório encontram-se as fontes Pura e do Pelicano. O escadório e os terreiros são delimitados por parapeitos de balaustres ornamentados com pirâmides, urnas, esferas, a grande maioria datadas do século passado. Lateralmente surgem pequenos jardins formais. O programa inicial anteciparia a construção de várias capelas que reforçariam certamente o programa iconográfico dedicado a Nossa Senhora. O santuário encontra-se envolvido em denso arvoredo. Data de 1878 a licença para compra de terrenos destinados à construção de um parque, A mesa da Irmandade entendia também que, para alem do destino religioso, o santuário deveria responder à procura turística. Em 1898, a Companhia Hortícola-Agrícola Portuense elaborou uma planta para o parque com uma densa rede de caminhos adossada ao relevo acidentado articulada com os terreiros do escadório e com a alameda perpendicular a este e que atravessa o terreiro dos Reis. Possui equipamentos vários como espaços de merenda, lago e grutas de São João e do Fundo, esta com um baixo-relevo de Teixeira Lopes de 1910. O parque impressiona pela grande diversidade de espécies arbóreas autóctone e exóticas carvalhos, castanheiros, medronheiros, loureiros, azereiros, catapereiros, tílias, choupos, faias, cedros, teixos, acácias e eucaliptos, alguns de porte monumental.
Anualmente decorrem as festas da Nossa Senhora dos Remédios, celebrada a 8 de setembro, uma das maiores romarias portuguesas com a sua procissão puxada a caros de bois carregando figurantes e figuras bíblicas em tamanho natural, a chamada procissão do Triunfo.
Imóvel de Interesse Público - Decreto n.º 129/77, DR, I Série, n.º 226, de 29-09-1977 (Chafariz dos Remédios)
Imóvel de Interesse Público - Decreto n.º 29/84, DR, I Série, n.º 145, de 25-06-1984 (Santuário)
ZEP do Alto Douro Vinhateiro, inscrição na lista do Património Mundial (UNESCO), bem nº 1046, 2001
Inventário: Teresa Andresen- janeiro 2020
inserido na ROTA DO DOURO
Santuário de Nossa Senhora dos Remédios
(consultada em janeiro 2020)
ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa : Centro de Estudos de Urbanismo,1962 pp 246-248
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins de Portugal. [S.l.] : CTT Correios de Portugal, 2014.
CARVALHO, Aida – A irmandade de Nossa Senhora dos Remédios. Communio. XXXI, 2014 -1 pp. 101-110 https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/9762/3/Irmandade%20de%20Nossa%20Senhora%20dos%20Remédios.pdf
GUIA de Portugal: Trás os Montes e Alto Douro, Lamego, Bragança e Miranda. Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. Vol. V-Tomo II
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3737
https://www.cm-lamego.pt/patrimonio/igrejas-e-conventos
https://www.cm-lamego.pt/patrimonio/fontanarios