Cerca do Mosteiro de São João de Tarouca
Norte | Tarouca
Cerca do Mosteiro de São João de Tarouca
O Mosteiro de São João de Tarouca, a cerca de 8 km de Tarouca e 15 km de Lamego, localiza-se no vale do Varosa, um afluente da margem direita do rio Douro, enquadrado pela serra de Leomil. A receção neste mosteiro cisterciense masculino hoje faz-se num Centro Interpretativo inaugurado em 2016 e que tem um núcleo museológico instalado numa parte da Casa da Tulha, um antigo celeiro.
D. Afonso Henriques, em 1140, através de carta régia atribuiu carta de couto ao mosteiro definindo limites, deveres, privilégios e encargos. O couto foi sendo expandido em momentos sucessivos, alargando os limites e levando à consolidação de um vasto espaço agrícola de grande produção de cereais, azeite, vinho, frutos, madeira, constituído por granjas monacais, bem para além do couto em torno do mosteiro, e que se traduzia num elevado proveito de rendas para o mosteiro. Após a instalação da comunidade monástica cisterciense neste lugar, a povoação aí existente, ainda hoje designada por Burgo, expandiu-se para a margem direita do ribeiro.
O mosteiro começou a ser construído em 1154. Depois da construção, identificam-se novas fases de ampliação e reconstrução nomeadamente no século XIV, nos finais do século XVI e século XVII (partilhada com um momento de apogeu nos mosteiros cistercienses) e depois no século XVIII, datando nomeadamente desta fase a construção do dormitório monumental.
Com a extinção das Ordens Religiosas em Portugal, em 1834, a igreja foi convertida em igreja paroquial e as dependências monásticas foram vendidas em hasta pública sendo adquirida por um privado que desmontou os edifícios e vendeu a pedra trabalhada. A classificação como monumento nacional apenas ocorreu em 1956 e a do conjunto monástico data de 1978. Desde 1996 que o Estado Português vem a comprar a área monástica tendo o mosteiro sido alvo de um intenso processo de restauro entre 1998 e 2010 que incluiu um exaustivo trabalho de escavação arqueológica e, posteriormente, procedeu-se à sua musealização. A partir de então, foi levado a cabo um continuado trabalho de restauro de elevada qualidade e existe um conhecimento detalhado e sistematizado da evolução do mosteiro.
O mosteiro encontra-se num vale encaixado atravessado por duas ribeiras, a Corga da Cerca e a Corga do Pinheiro, que se juntam no interior da cerca formando o Ribeiro do Corgo, sendo bem visível o muro da cerca que o envolve assim como outras edificações fora de muros. Os elementos de maior notoriedade que persistem são a igreja e o dormitório monumental. Entre eles corre o ribeiro e encontram-se várias ruínas reveladoras da dimensão e distribuição das várias edificações que constituíam este vasto complexo monástico - claustro, casa do capítulo, refeitórios, dormitórios, tulhas ... distinguindo-se os espaços destinados aos monges professos e aos monges conversos.
Luís Sebastian e Patrícia Braz consideram que a planta medieval do Mosteiro de São João de Tarouca é um exemplo perfeito da arquitetura cisterciense dos séculos XII-XII, próximo de referências como os mosteiros de Fontenay ou Silvacane. A igreja é de três naves, com notável altar-mor e altares laterais, e é antecedida por um adro delimitado por muro e gradeamento, acedendo-se por um portão que inicia um caminho central, ladeado de canteiros de buxo distribuídos por seis quadras, que conduz ao pórtico da fachada da igreja. O acesso à cerca é feito lateralmente ao portão do adro. Atravessam-se as ruínas que atestam fases sucessivas de construção, mas permitem compreender a estrutura funcional do complexo monástico. O espaço sofreu diferentes alterações de cota e sempre conviveu com a necessidade de permitir a drenagem das águas o que deixou marcas no terreno de curiosa interpretação. Para se visitar a cerca, atravessa-se o ribeiro e o refeitório monumental. A encosta na margem direita do ribeiro está armada em socalcos, destinados ao cultivo, interligados por um caminho e um escadório que unem as capelas de Santo António e Santa Umbelina, esta antecedida por um pequeno patamar onde se encontra a fonte da Carranca que conduz ao pequeno adro com uma vista excecional sobre a igreja, a cerca, a capela de Santa Catarina, o vale, a envolvente e a serra de Leomil. No caminho das capelas, em pleno escadório, encontra-se um pequeno lagar e uma eira. Aqui foi instalado o projeto “Horto Monástico do Mosteiro de São João de Tarouca”, o resultado de uma parceria entre o projeto “Vale do Varosa” e a associação InovTerra, uma associação para o desenvolvimento local, com sede em Vila Pouca de Salzedas, que pretende devolver a paisagem do século XVIII à cerca do mosteiro com base numa investigação histórica das espécies utilizadas implementando em simultâneo a Produção biológica. “... das oliveiras centenárias aos recém-plantados sabugueiros, são cerca de 35 as espécies, distribuídas por 72 canteiros, que existem no Horto Monástico, dividindo-se entre plantas aromáticas medicinais e condimentares, que depois de colhidas e desidratadas são utilizadas na sua maioria na produção de infusões e de óleos essenciais.” Uma das plantas que tem sido alvo do trabalho da InovTerra tem sido o sabugueiro aqui também cultivado. As restantes áreas da cerca são ainda de acesso condicionado e carentes de prosseguimento de um trabalho de reabilitação.
Monumento Nacional / Decreto n.º 40 684, DG, I Série, n.º 146, de 13-07-1956 (Igreja)
Monumento Nacional / Decreto n.º 95/78, DR, I Série, n.º 210, de 12-09-1978 (Conjunto monástico)
Zona Especial de Proteção pela Portaria n.º 189/99, DR, II Série, n.º 56, de 8-03-1999
Inventário: Teresa Andresen (janeiro 2019)
inserido na ROTA DO DOURO
Cerca do Mosteiro de São João de Tarouca
(consultada em janeiro de 2019)
CATALÃO, Sofia Barroso – O Mosteiro de São João de Tarouca e a arqueologia da arquitetura. O “Aljube”. Direção Regional de Cultura do Norte, Museu de Lamego, 2018 https://issuu.com/066239/docs/msjt_aljube_catalaosofia2018
SEBASTIAN, Luís e BRÁS, Patrícia – O Mosteiro de São João de Tarouca. História, arquitetura e quotidiano. Direção Regional de Cultura do Norte, Museu de Lamego, 2015
https://issuu.com/066239/docs/mosteirosaojoaotarouca
http://www.culturanorte.pt/pt/patrimonio/mosteiro-de-sao-joao-de-tarouca/
http://www.inovterra.com/
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=4720/
http://www.valedovarosa.gov.pt/3-3/mosteiro-de-sao-joao-de-tarouca/