Jardim Botânico da Ajuda

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Jardim Botânico da Ajuda

O Jardim Botânico da Ajuda localiza-se na encosta sul da serra de Monsanto, adossado ao velho Palácio do Conde de Óbidos, armado em dois altos terraços virados para o Tejo e ocupa uma área de 3,5 hectares.

A história do Real Jardim Botânico da Ajuda começa em 1764, nove anos depois do terramoto que abalou Lisboa. A sua construção na encosta da Ajuda está diretamente ligada a esta catástrofe. No registo da destruição o lugar da Ajuda fez parte das freguesias que não foram afetadas, pelo que foi escolhida para a construção da residência real. O rei D. José, traumatizado pela destruição que o terramoto tinha causado em Lisboa, não queria mais viver por baixo da pedra, decidindo construir a Real Barraca em madeira. Assiste-se a uma situação inédita em que o jardim passa a ser a única peça que dá grandiosidade à residência real: um jardim botânico destinado à instrução dos príncipes e ao recreio da família real. O arquiteto da Casa Real Manuel Caetano de Sousa, sem possibilidade de exercer a sua mestria em edifícios, investe no jardim embelezando-o com balaustradas, escadas bem talhadas, estatuária de grande originalidade e um traçado geométrico em terraços que se adaptam com harmonia à encosta da Ajuda. Para plantar o jardim e chamado um botânico da Universidade de Pádua, Domingos Vandelli o qual cria a primeira coleção em 1768, mas ao fim de um ano transfere-se para Coimbra onde vai dar aulas de Historia Natural.

Em 1811, Félix de Avelar Brotero, o autor da «Flora Lusitânica», é nomeado diretor do Real Jardim Botânico da Ajuda, desejando ilustrar a sua Flora, vai conseguir que as plantas sejam desenhadas na Casa do Risco do Jardim e gravadas em chapa de cobre, servindo o jardim como repositório vivo da flora de Portugal. Ao mesmo tempo existe uma divulgação da cultura de novas plantas úteis, como o algodão e o chá, e experimentam-se árvores como o Jacarandá, o Brachichiton, a Sophora japonica e a Schotia, que ainda hoje se podem visitar no jardim.

Em meados do século XIX decidiu fazer-se um novo Jardim Botânico no centro de Lisboa para apoiar o ensino de Plantas na Escola Politécnica, e o Jardim da Ajuda entrou em decadência.

A partir de 1918 o Jardim fica sob a tutela do Instituto Superior de Agronomia e é dirigido, a partir de 1941, por Francisco Caldeira Cabral, professor e fundador do ensino da Arquitetura Paisagista em Portugal e o responsável pelo restauro do jardim depois do grande tornado de 1941. Nessa altura o jardim serviu para desenvolver os conhecimentos de floricultura, perdendo o seu caráter de coleção de plantas. Depois de 1974, sob a Direção de António Almeida Monteiro, o Jardim Botânico transforma-se numa estrutura de apoio à investigação. No entanto, a partir da revolução de 1974, a Universidade passa a ter grande dificuldade em manter o jardim, perdendo-se tanto o caráter de coleção e mostruário de plantas, como o de apoio ao ensino. Em 1993 o conselho Diretivo do Instituto Superior de Agronomia, chefiado por Francisco Rego ganha um projeto de restauro à União Europeia, no âmbito do Prémio Europeu de Património e, entre as seiscentas candidaturas recebidas em Bruxelas, o Jardim Botânico da Ajuda foi um dos 30 premiados, iniciando-se o projeto de restauro coordenado por Cristina Castel-Branco. O jardim restaurado inaugurou em 1997 sob a direção de Cristina Castel-Branco e a frequência do jardim passa de 600 visitas anuais para 20.000.

O Jardim tem naturalmente uma notável qualidade paisagística: exposta a sul, com vista sobre a desembocadura do rio e a barra, está protegida do vento, e desce em declive suave permitindo uma ligação visual com o Mosteiro dos Jerónimos e o Tejo. Na implantação do jardim e futuro palácio este fator pesou iniciando a tradição Portuguesa dos requintes dos jardins renascimento em que vista passa a ser um fator marcante do jardim. (Castel-Branco, 2013)

O jardim é limitado por um muro com três portões, em que dois têm acesso direto ao jardim, um a este e outro a oeste. Junto ao portão nascente localizam-se dois lagos em forma de concha talhados em pedra. O plano do jardim divide-se em dois terraços de forma retangular a diferentes cotas separados por um muro e por balaustradas e ligados por escadas. No terraço superior, os canteiros foram recuperadas em 1997 e seguem agora uma disposição em quadrícula, em torno de um eixo, que faz parte do traçado arquitetónico original. Os caminhos que cruzam os canteiros são de saibro acompanhados por alguns bancos de pedra.

A coleção botânica plantada nos canteiros está organizada por oito áreas geográficas e o sistema de classificação escolhido pelo departamento de botânica do Instituto Superior de Agronomia durante o restauro foi o de Cronquist, e a disposição inicia-se de nascente para poente com as plantas originárias das seguintes regiões: África, Mediterrâneo, América do Norte e Central, China e Japão, Europa Central e Atlântica, Macaronésia, Austrália e Nova Zelândia e América do Sul. Neste terraço existem três lagos, um centrado com a escadaria e os outros dois perto dos limites este e Oeste, à mesma distância do centro. Junto ao limite Norte estão alinhadas quatro estufas que foram construídas para as plantas vindas das regiões quentes e que não suportavam os invernos frios. Eram aquecidas por caldeiras, que lançavam o ar quente entre os tijolos das paredes terminando o conhecimento de orquídeas e plantas que não aguentam temperaturas abaixo de 5ºC. A reabilitação de uma estufa em restaurante permitiu criar um novo atrativo no jardim e em 1997 foi inaugurado o restaurante “Estufa Real”.

No terraço inferior, os canteiros de buxos aparecem num desenho de linhas retas e paralelas, de influência modernista, simples e de fácil manutenção, da autoria de Caldeira Cabral após o furação que destruiu o jardim em 1941. As linhas retas repetem-se dentro dos triângulos do desenho original. O terraço inferior é estruturado por dois eixos principais, um N-S, que parte da escadaria central e outro E-O que liga as duas escadarias laterais. O centro do terraço está marcado por uma fonte de forma elítica, onde cresce uma grande quantidade de plantas aquáticas. A oeste do terraço inferior existe uma área destinada a um bosquete, e no limite sul desta área encontra-se o Viveiro das Naus. No lado este do terraço inferior foi criado pela equipa de restauro de 1997 um jardim de plantas aromáticas para cegos, em que os canteiros foram levantados para que as plantas aromáticas pudessem ser tateadas e acompanhadas de etiquetas em Braille.

Classificado como IIP - Imóvel de Interesse Público - Decreto n.º 33 587, DG, I Série, n.º 63, de 27-03-1944

Texto de inventário: Luísa Correia – 2015.

Adaptação: Guida Carvalho – 2020.

Revisão:  Cristina Castel-Branco – 2020.

inserido na ROTA DA GRANDE LISBOA

Jardim Botânico da Ajuda

(Consultada em Setembro de 2019)
CARITA, Hélder; CARDOSO, António Homem – Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal: ou da originalidade e desaires desta Arte. [S. l.]: Edição dos Autores, 1987. pp. 228-229, 295, 299.
CASTEL-BRANCO, Cristina (coord.) – Jardim Botânico da Ajuda. Lisboa: Jardim Botânico da Ajuda, 1998.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins de Portugal. Lisboa: CTT Correios de Portugal, 2014, pp. 152-155.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Félix de Avelar Brotero - Uma Historia Natural. Coimbra: Livros Horizonte, 2007, pp. 143-172.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Lisbone en ses Jardins: Je jardin à la portugaise. In OLIVEIRA, Luisa Braz de Oliveira – Lisbonne: Historie, Promenades, Anthologie & dictionnaire. Paris: Éditions Robert Laffont, 2013, p. 411-430.
GUIA de Portugal: Generalidades Lisboa e Arredeores I - Lisboa [S.l.]: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. Vol. 1. p. 397.
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J22&qid=sdx_q29
http://www.jardimbotanicodajuda.com/
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=9867
http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72758

Calçada da Ajuda s/n