Jardim da Estrela

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Jardim da Estrela

O Jardim da Estrela, também conhecido como Jardim Guerra Junqueiro, ocupa uma área de cerca de 4,3 hectares e é um dos mais belos e frequentados jardins públicos de Lisboa. Situado na freguesia da Estrela, junto à Basílica da Estrela, nasceu de uma vontade higienista seguindo as orientações de outras capitais da Europa culta, e pelo gosto por jardins que cresceu dentro da família Real Portuguesa - impulsionado por D. Fernando II, o rei Paisagista. (Azambuja, 2001, pp. 129-132).

O Passeio da Estrela, como ficou então conhecido, tanto foi desenvolvido e projetado em 1842 e construído a partir de 1852. Nessa época, a colina da Estrela era uma zona pouco construída, ocupada por cercas de conventos e por quintas, com vista para o Tejo. O terreno do Passeio da Estrela fazia parte da cerca do convento Beneditino que a expropriação das ordens religiosas em 1834 tinha deixado sem uso.

A obra foi iniciativa do liberal e Presidente do Concelho de Ministros, António Bernardo da Costa Cabral, e do Presidente da Câmara de Lisboa, Dr. Laureano Luz Gomes. O objetivo era a criação de um espaço aberto e plantado para o bem-estar e saúde da população de Lisboa. A construção do jardim foi possibilitada pelos donativos de dois mecenas: Manuel José de Oliveira, barão de Barcelinhos, e Joaquim Manuel Monteiro, industrial vindo do Brasil com grande fortuna e que recebe como recompensa do rei D. Luís, o título de 1º Conde da Estrela. As obras ficaram sob a orientação do Arquiteto Pedro José Pezerat, enquanto o jardim foi delineado e plantado pelo jardineiro Jean Baptiste Bonnard (Azambuja, 2001, pp. 129-132), especialista em aclimatação de plantas e jardineiro do Rei D. Fernando que este “emprestou” contribuindo assim para o desenho bem adaptado ao terreno e pelo jardineiro paisagista João Francisco da Silva que conhecia muito bem os terrenos de Lisboa. É resultado desta parceria, a qualidade na escolha do local para cada espécie e o cuidado na plantação que permitiu um bom arranque para o desenvolvimento máximo de cada árvore.

A cada espécie o seu lugar certo; a zona dos catos bem exposta a sul vigiada por uma Dracaena draco, um imenso Ficus macrophyla a sair da água do lago, os cedros do Líbano e Atlântica nos solos profundos, os Plátanos ao longo dos caminhos serpenteantes, à entrada do jardim uma Gingko biloba e uma Chorizia speciosa que floresce em Novembro, e a alameda de Celtis Australis, as mais robustas árvores urbanas junto ao gradeamento da rua que sobe. São árvores que atingiram portes enormes, e na zona mais sombria, junto ao convento na parte mais húmida e de solos ácidos, uma encosta de Clívia miniata, Aucuba japónica, azáleas e o chão revestido a Ophiopogon. (Castel-Branco, 2014).

A qualidade da composição do Jardim da Estrela em linhas naturalistas revela mestria. A modelação do terreno, parte essencial do desenho de um jardim, acentuou a topografia natural criando uma gruta em rocailles, na parte mais baixa e uma colina artificial conhecida pela montanha Russa, na zona sul, a servir de miradouro, traço característico do jardim português, abrindo vistas sobre o Tejo. Na zona mais baixa do jardim, aproveitando o melhor da topografia, foram projetados dois grandes lagos de formas naturais e a descer do ponto mais alto do jardim, mais três pequenos lagos em patamares, que estão ligados por cascatas. Os vários caminhos que saem dos 5 portões de entrada vão confluir no largo do coreto, que é uma das imagens de marca do jardim. O coreto foi projetado por Soares de Lima, em 1850, para ser colocado no Passeio Publico e foi transportado no Jardim da Estrela em 1936, para substituir o antigo pavilhão chinês, onde se ouviam concertos todos os domingos.

Outra construção é o pavilhão do jardim-de-infância, o primeiro jardim-de-infância de Portugal construído em 1882 por José Luís Monteiro, que serve exatamente as ideias higienistas da época: dar às crianças do meio urbano um contacto com a natureza garantindo-lhes um desenvolvimento que inclui o despertar para a beleza do mundo natural. Foi projetado por Pezerrat.

Tal como nos jardins públicos de outras capitais, o jardim oferecia várias atividades de lazer e de serviço à população: uma biblioteca, uma coleção de mármores e bronzes que homenageiam a figuras importantes das artes e das letras, do liberalismo entre outros temas como é exemplo Busto de Antero de Quental, da autoria de Salvador Barata Feyo (1948) ou do Actor Taborda, feito em bronze por Costa Motta (sobrinho) (1914); um quiosque que ainda hoje serve de bar; e a casa de ferramentas de apoio à vigilância do jardim, e à supervisão dos animais que aí viviam à solta, e ainda vivem: cágados e peixes nos lagos, pavões nas árvores, pombos por todo o lado, patos, gansos e cisnes nos lagos grandes, e em cuja coleção existiu uma vez um leão oferecido em 1870 por um explorador africano Paiva Raposo (até 1929) que ficou conhecido como o leão da Estrela. (Castel-Branco, 2014; Vieira, 2014).

Já no século XX, o jardim recebe alguns melhoramentos com a introdução de novos lagos, bancos, pavimentos e um moderno parque infantil. (Castel-Branco, 2014).

O jardim da Estrela é ainda hoje uma animação permanente sofrendo de menor vandalismo que os jardins urbanos não vedados pois encerra à meia-noite e abre às 7 da manhã. Um pequeno bar e esplanada, junto ao lago da parte Sul, é muito frequentado e é ponto de encontro para muitos residentes do bairro da Estrela. Do intenso uso do jardim destacam-se as crianças para as quais foi reservado um grande parque infantil para onde veem em grandes números. Pais e mães trazem os filhos, aproveitando os fins de tarde dourados da Primavera e Outono lisboeta. No canto norte do jardim juntam-se os mais velhos reformados que jogam às cartas. Os jovens namoram nos bancos mais escondidos do jardim em contacto com a natureza. As preocupações de higiene e saúde e o exercício passaram hoje a ser muito visíveis no jardim onde correm a ritmo regular os joggers e os residentes do bairro passeiam-se com os seus cães. O jardim serve também de cenário para a fotografia de casamento das noivas que saem da Basílica da Estrela casadas. (Castel-Branco, 2014).

Incluído na Zona Especial de Proteção da Basílica da Estrela (v. IPA.00010613) Classificada como MN - Monumento Nacional: Decreto de 16-06-1910, DG, n.º 136, de 23-06-1910; Decreto de 10-01-1907, DG, n.º 14, de 17-01-1907 (classificou com a designação de Basílica do Coração de Jesus); Portaria de 29-10-1955, publicada no DG, II Série, n.º 288, de 14-12-1955 (sem restrições).

Texto de Inventário: Luísa Correia – 2015.

Adaptação: Guida Carvalho – 2019.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2019

inserido na ROTA DA GRANDE LISBOA

Jardim da Estrela

(Consultada em Setembro de 2019)
CARITA, Hélder; CARDOSO, António Homem – Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal: ou da originalidade e desaires desta Arte. [S. l.]: Edição dos Autores, 1987. p. 297.
CASTEL-BRANCO, Cristina (Coord.) - Necessidades: Jardins e Cerca. Lisboa: Livros Horizonte/Jardim Botânico da Ajuda, 2001, pp. 129-151.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins de Portugal. Lisboa: CTT Correios de Portugal, 2014. pp. 156-159.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Lisbone en ses Jardins: Je jardin à la portugaise. In OLIVEIRA, Luisa Braz de Oliveira – Lisbonne: Historie, Promenades, Anthologie & dictionnaire. Paris: Éditions Robert Laffont, 2013. p. 411-430.
GUIA de Portugal: Generalidades Lisboa e Arredeores I - Lisboa [S.l.]: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. Vol. 1. pp. 344-345, 695.
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J65&qid=sdx_q59
http://www.lisboapatrimoniocultural.pt/artepublica/Paginas/Jardim-Guerra-Junqueiro-JardimdaEstrela).aspx
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=9888

Praça da Estrela n°12