Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian

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Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian

O jardim, construído na década de 60 em conjunto com o edifício da Fundação Calouste Gulbenkian, localiza-se junto à Praça de Espanha em Lisboa. O jardim é envolvido por muro baixo de pedra sob o qual se desenvolve uma densa cortina de vegetação que acompanha os limites do jardim e, sabiamente, o protege de intrusões visuais e dos ventos dominantes, criando um ecossistema calmo e pacífico mesmo no ceio da confusão da cidade.

O Jardim, inaugurado em 1968, foi projetado pelos arquitetos paisagistas António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles de forma a prolongar o edifício para o exterior. As plantações iniciaram-se em 1965, após a modelação de terreno e a substituição do lago antigo por outro de maiores dimensões, dando-se início à plantação das suas margens. Ainda no mesmo ano, é feita uma homenagem ao Sr. Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955), o fundador desta instituição, pelo décimo aniversário da sua morte, através da colocação de uma estátua de Claustros Gulbenkian, na clareira entre o edifício Sede e o palácio da Palhavã, ensombrado por uma magnólia (Magnolia grandiflora).

O traçado do jardim é pioneiro na afirmação do modernismo e do despertar da arquitetura paisagista em Portugal. Mais tarde constrói-se o Centro de Arte Moderna (CAM), que remata o jardim a norte, e onde é pedida a colaboração de um novo arquiteto Paisagista, Edgar Sampaio Fontes, que desenhou os planos de plantação para o lago, os terraços e a envolvente do CAM.

Os edifícios foram concebidos em função das árvores notáveis preexistentes de forma a tirar o melhor partido do espaço e salientando a dimensão ecológica deste. A perfeita continuidade entre os espaços interiores e exteriores permite que a vida do edifício se estenda naturalmente para o jardim e vice-versa, completando-se a vivência de ambos os espaços estética e funcionalmente, sem nenhum deles perder a sua identidade.

Vamos encontrar aqui uma variedade de vegetação naturalizada como: o pinheiro-manso (Pinus pinea), ciprestes (Cupressus sempervirens), lódãos (Celtis australis), freixo-comum (Fraxinus angustifolia), teixo (Taxus baccata), carvalho-roble (Quercus robur), carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e bétula (Betula celtiberica). Um pequeno bambuzal de bambu dourado (Phyllostachys aurea), eucaliptos (Eucalyptus globulus) e camélias trazem um toque exótico e ensombram um roseiral, entre muitas outras espécies arbustivas que circundam as clareiras de relvados.

Viana Barreto e Ribeiro Telles vão projetar o jardim da Gulbenkian conciliando o seu desenho com os processos naturais. A modelação do terreno é desenhada com mestria, com a drenagem de todo o jardim a fazer-se por uma linha de água transformada em várias cascatas e caindo no grande espelho de água de forma naturalizada. O lago forma o núcleo do jardim e em seu redor tudo se organiza em linhas ondulantes e suaves. Ao longo de toda a periferia foi plantada uma cortina de árvores, para proteger o jardim do buliço da cidade, e uma orla de arbustos virada para o exterior criando o perímetro essencial à sua proteção. Do lado de dentro, a mesma floresta/cortina tem outra orla, agora mais recortada e mais larga, com bancos, recantos e estadias, virada para a clareira do lago, entre a sombra e o sol. Um dos traços marcantes do projeto são os percursos do jardim em enormes lajes de betão construídas in situ que percorrem todo o jardim e que predispõem o movimento do visitante ao máximo de possibilidades, através de um percurso que pode ser irregular, que acompanha os declives do terreno como um fato feito à medida, dando um sentido mais diverso, e por isso maior, do espaço. O percurso serpenteia em redor do lago, oferecendo uma profusão de enquadramentos conforme nos movemos sobre as lajes, fazendo sentir o tempo de forma especial e contrastando-o com os enquadramentos parados das áreas de estadia sem saída, onde nos leva por vezes o percurso das lajes e onde bancos nos convidam a sentar, tentando fazer-nos parar, a nós e ao tempo. (Castel-Branco, 2013)

É um espaço com uma grande função recreativa e cultural e tem vários espaços de lazer/estadia, que incluem um anfiteatro, vários cafés e esplanadas, um museu de arte, uma biblioteca de arte e a própria sede da fundação.

Classificado como MN - Monumento Nacional: Decreto n.º 18/2010, DR, 1.ª série, n.º 250, de 28-12-2010 (sem restrições); Portaria n.º 260/2011, DR, 2.ª série, n.º 20, de 28-01-2011 (sem restrições)

Texto de Inventário: Luísa Correia – 2015.

Adaptação: Guida Carvalho – 2019.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.

 

Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian

(Consultada em Dezembro, 2019)
CASTEL-BRANCO, Cristina. Jardins de Portugal – Lisboa: CTT Correios de Portugal, 2014. pp. 160-163.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Lisbone en ses Jardins: Je jardin à la portugaise. In OLIVEIRA, Luisa Braz de Oliveira. Lisbonne: Historie, Promenades, Anthologie & dictionnaire. Paris: Éditions Robert Laffont, 2013. p. 411-430.
PONTE Teresa Nunes da (coord.); CARAPINHA, Aurora (coord.) etal – Fundação Calouste Gulbenkian: edifícios e jardim - renovação 1998-2014. Lisboa: Fundação Claustros Gulbenkian, 2015.
QUINTAL, Raimundo (aut.); SILVA, Artur Santos (pref.); MARQUES, Viriato Soromenho (pref.); SILVA, Virgílio (trad.). – Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, Calouste Gulbenkian Foundation’s Garden: Flora. Lisboa: Fundação Claustros Gulbenkian, 2014.
TOSTÕES, Ana; CARAPINHA, Aurora; CÔRTE-REAL, Paula. – Gulbenkian: Arquitectura e Paisagem. Lisboa: Fundação Claustros Gulbenkian, 2006.
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J72&qid=sdx_q66
http://www.gulbenkian.pt/Jardins/
http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/jardins-da-fundacao-calouste-gulbenkian
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6995
http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/330483

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