Jardim do castelo de São Jorge
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Jardim do castelo de São Jorge
O castelo de São Jorge, construído no da colina mais marcante de Lisboa, encontra-se dentro das muralhas da Cidadela que envolvem a antiga freguesia do castelo. Daqui, a vista é soberba tanto sobre o rio como sobre o casario branco de Lisboa que foi revestindo as colinas ao longo dos séculos, deixando em verde uma rede de jardins públicos e privados. (Castel-Branco, 2014).
Em tempos idos, os Fenícios e os Gregos instalaram aqui uma «acrópole», mais tarde convertida em cidade Romana e denominada Olisipo. A primeira fortificação terá aqui sido construída em 42 A.C., tendo sido concedida a Lisboa a categoria de município romano. A cidade desenvolvia-se então em redor da colina, sobre a encosta inclinada virada para sul - resta desta época um anfiteatro na área que hoje é a Mouraria.
A cidade árabe que se seguiu à romana manteve a alcáçova no ponto alto, guardando e admirando o rio. O castelo é conquistado aos árabes por D. Afonso Henriques em 1147, e a cidade católica que se seguiu desenvolveu-se sob a mourisca que a precedeu. É apenas em 1300, sob o reinado de D. Dinis, que a alcáçova mourisca é transformada em Paço Real da Alcáçova, ocupando o melhor local de Lisboa em termos de vista e domínio da paisagem. Aí se manteve a corte até 1502, data em que foi transferida para o Paço da Ribeira, ficando o Paço da Alcáçova votado a outros usos. Durante a dominação filipina, instalaram-se aqui quartéis e prisões. No final do séc. XVI foram construídos um Recolhimento e um hospital denominado dos Soldados, sob a invocação de São João de Deus, e em 1780 dá-se a instalação da Casa Pia, que aí se fixa até 1807.
A colina Oriental é a mais antiga de Lisboa. Sítio magnífico que Fenícios e Gregos escolheram para instalar uma “acrópole” onde hoje se visita o Castelo de São Jorge e donde, tanto hoje como há 3.000 anos, quem comanda o sítio é a vista sobre o enorme estuário do Tejo. Recebendo os barcos de todas as civilizações durante milénios, espraiando-se pelos 7.000 hectares de água que ligam as duas margens em frente a Lisboa, mais parece um mar que um rio e cinco dos seus braços entram pelo território da margem sul recortando-a numa superfície brilhante que vai mudando de cor conforme a luz do céu. Ao fundo, a rematar o cenário da planície entrecortada pela água, levanta-se em tons cinzentos e violetas a Serra da Arrábida. Foi do estuário do Tejo que a Europa saiu para o mundo. É um património da humanidade que deveria entrar na famosa lista da UNESCO. Os romanos mantiveram esta colina sagrada e construíram em seu redor - resta-nos um anfiteatro na área que hoje é da Mouraria e a cidade crescendo sobre a encosta inclinada virada para sul ficou para sempre densa, ocupando todo o espaço donde se visse o Tejo. A cidade árabe que se seguiu à dos romanos manteve a alcáçova no ponto alto, guardando e admirando o rio, e a cidade católica que se seguiu à árabe construi a sua fortaleza nesse mesmo sítio, talvez o melhor de Lisboa em vista e segurança: o Castelo de S. Jorge (que nos antigos documentos se chamava cidadela ou alcáçova – Silva, 1937, p.27) concentra a memória da nacionalidade portuguesa arduamente conquistada ao longo de século, e os vestígios de torres, sólidas muralhas inexpugnáveis, portas e pontes levadiças que hoje vemos são referidos em manuscritos que lhes asseguram a autenticidade. No auto de Aclamação de D. João I, (Oliveira, 1882, p.344) o Rei “entrou pella ponte dentro as primeiras portas do Castello; e a porta principal estava fechada”.
Hoje como antigamente a vista é soberba tanto sobre o rio como sobre o casario branco de Lisboa que foi revestindo as colinas ao longo dos séculos, deixando em verde uma rede de jardins públicos e privados, e podemos admirar toda a cidade à sombra dos grandes pinheiros mansos que foram plantados nos anos 50 e que completam as muralhas ocres do castelo com as suas copas redondas e verdes. Deste ponto alto vemos para Norte outro miradouro revestido a pinheiros e uma igreja de fachada branca virada para a cidade, a igreja de Nossa Senhora da Graça, com um adro pequeno que se agiganta com a vista que de lá se desfruta. Vale a pena vir de manhã para gozar a luz forte a bater sobre a colina Poente de S. Pedro de Alcântara, e seguir para Norte para o Miradouro de Nossa Senhora do Monte que rivaliza com o do Graça em vista mas também em charme: “[...] sobe à Senhora do Monte, uma colina do cimo da qual se pode desfrutar uma das mais belas vistas de toda a Lisboa, seja à noite, seja ao nascer ou ao pôr-do-sol. Estamos agora a caminho do Monte da Graça, onde está situada uma das melhores igrejas de Lisboa; é nela que se pode ver a famosa imagem do Senhor dos Passos (feita de pau-brasil e articulada) que costumava figurar na procissão anual do mesmo nome, a qual foi suspensa com o advento da República. Do adro empedrado desta igreja pode também desfrutar-se um magnífico panorama da cidade e do rio, quase tão belo como o que se desfruta da Senhora do Monte.” (Pessoa, 2006, p.51). Na descrição de José-Augusto França, minuciosa e descritiva do percurso do elétrico 28, a Graça e a Senhora do Monte relacionam-se: “Estamos do lado da rua de prédios velhos, da primeira metade de Oitocentos, de uma grande unidade, que azulejos caracterizam também – e por detrás, é S. Gens, quer dizer N. Sra. Do Monte, com a sua capela que recorda outra, do tempo da Conquista aos Mouros, posse do Convento da Graça que daqui nasceu. Defronte, em arranjo turístico, é um miradouro” (França, 1998, p.25).
É esta a colina original onde Lisboa nasceu e onde se mantém na tradição os locais de romarias e procissões que todos os anos aguardam em Junho a grande festa de Sto. António, em que o povo se junta nestes largos, ruelas e miradouros para comer sardinhas, cantar, dançar e celebrar Lisboa.
Classificado como MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910.
Texto de Inventário: Luísa Correia – 2015.
Adaptação: Guida Carvalho – 2019.
Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.
inserido na ROTA DA GRANDE LISBOA
Jardim do castelo de São Jorge
(Consultada em 2015 e dezembro de 2019)
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins de Portugal. Lisboa: CTT Correios de Portugal, 2014, p.136-138
FRANÇA, J.A. – Crónica de um Percurso. Lisboa: Livros Horizonte, 1998.
GUIA de Portugal: Generalidades Lisboa e Arredeores I - Lisboa [S.l.] : Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. Vol. 1. pp. 286-289.
OLIVEIRA, Eduardo Freire de. – Elementos para a história do Município de Lisboa. Tomo I. Lisboa: Lisboa Typographia universal, 1882, pg. 344.
PESSOA, Fernando. – Lisboa: o que o turista deve ver. Lisboa: Livros Horizonte, 2006.
SILVA, Vieira da. – O Castelo de S. Jorge de Lisboa. Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 1937, p. 27.
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J81&qid=sdx_q12
http://castelodesaojorge.pt/
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3128
http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70523/