Jardim do Palácio dos Condes de Calheta / Jardim Botânico Tropical
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Jardim do Palácio dos Condes de Calheta / Jardim Botânico Tropical
O Jardim Botânico Tropical em Belém é também conhecido como Jardim do Ultramar e Jardim Colonial e é o terceiro jardim botânico situado na cidade de Lisboa junto ao Tejo e especializado em flora tropical e subtropical. Ocupando dois terços da antiga Quinta de Belém, o jardim ocupa cerca de 7 hectares e totaliza uma coleção que inclui mais de 600 espécies exóticas originárias dos diversos continentes e cuja plantação se destinou a desenvolver o estudo da flora das colónias portuguesas desde 1940.
As referências mais antigas a este jardim remetem para construção do palácio de verão dos Condes da Calheta em meados do séc. XVII por D. João Gonçalves da Câmara, 4º conde da Calheta. Por volta de 1726, D. Pedro Sousa da Câmara, neto do 5º Conde da Calheta, vende o palácio ao rei D. João V que o integra na cerca do seu Palácio de Verão e manda fazer obras que deixam um traçado barroco no jardim com um eixo de simetria que une toda a quinta em alamedas retilíneas. O jardim passa então a ser conhecido como "Regius Hortus Suburbanus", tendo sido enobrecido com esculturas de Bernardino Ludovici em 1737.
Em setembro de 1758, na proximidade do denominado Pátio das Vacas, logradouro da casa Calheta, dá-se a tentativa de assassinato de J. José I, que resulta no processo dos Távoras, acusados da tentativa de homicídio e cruelmente julgados por isso. Por ter sobrevivido ao atentado, D. José ordena a construção da igreja da Memória, na calçada do Galvão, cuja construção se inicia em 1760.
A criação de um Museu Jardim Botânico Tropical, dedicado unicamente ao estudo da flora do império português surge em 1906, pela mão do ministro da marinha e do ultramar Manuel António Moreira Júnior. Designado como Museu Colonia, foi originalmente instalado temporariamente nas estufas do conde de Farrobo, na Quinta das Laranjeiras, como "dependência pedagógica" do Instituto Superior de Agronomia sob a direção do Prof. José Joaquim de Almeida. Neste parque estava também instalado, desde 1903, o Jardim Zoológico de Lisboa.
Em 1910, o Jardim Colonial foi transferido para o Jardim Botânico da Ajuda e rapidamente reconhece a necessidade de encontrar um terreno público que reunisse as condições necessárias para instalar definitivamente o jardim e permitir a sua expansão. Em 1912 é feita a cedência dos terrenos da cerca do palácio da Belém para instalar o Jardim Colonial e o Museu, que se transferiram para o local em 1914 e 1916 respetivamente. Desta forma o Jardim Colonial passa a ficar instalado definitivamente dento da cerca do Palácio de Belém, ocupando os terrenos do antigo Palácio dos Condes da Calheta (também conhecido por Quinta do Meio) e parte dos terraços e jardins do antigo Palácio dos Duques de Aveiro.
“O jardim de árvores e a pequena horta do século XVIII transformaram-se gradualmente num laboratório ao ar livre para testar a resistência das plantas dessas regiões. No decurso desta transformação, algumas das avenidas da mata setecentista foram conservadas e replantadas com árvores exóticas, mais apropriadas à nova identidade do jardim. Um desses passeios é hoje uma majestosa avenida de palmeiras-reais australianas, Arconthophoenix alexandrae. Algumas destas árvores atingem os vinte e um metros de altura e exibem troncos verdes macios e copas bem recortadas. Noutra alameda plantaram-se palmeiras das Canárias, Phoenix canariensis […] Outra avenida tem palmeiras-rainha do Brasil, Arecastrum romanzoffianum; com menos de metade da altura da palmeira-real, possuem uma copa aberta de folhas graciosas e pendulares. Estas palmeiras estão plantadas em alternância com a sumauma, Chorisia speciosa, também originária do Brasil. Este espécime é notável pelo seu tronco bojudo de espinhos compridos e grandes folhas cor-de-rosa que cobrem completamente a árvore no fim do Outono. […] A última avenida deste conjunto tem renques de coraleiras crista-de-galo, Erythrina crista-galli, outra espécie brasileira que em junho exibe cachos de flores vermelhas escuras” (Bowe, 1989, pp. 37-38).
A escolha do local foi acertada e outro não era fácil encontrar que, sendo propriedade do estado, e localizado dentro de Lisboa, reunisse as condições para instalar um jardim desta natureza: em encosta suave virado a sul protegido dos ventos dominante, com disponibilidade de água para rega (de minas, de poço e água da companhia) e perto do Instituto Superior de Agronomia (Fragateiro, 1935, pp. 23-32). Deste período inicial do Jardim a Estufa Principal, edificada em ferro em 1914 é a marca mais forte.
Em 1940, é montada no Palácio dos Condes da Calheta a secção colonial da Exposição do Mundo Português que se estendem pela zona de Belém, junto ao rio, em frente ao Mosteiro dos Jerónimos. Esta foi uma das maiores exposições organizadas que se fez em Portugal, em que se festejava a História, Etnografia e Mundo Colonial Portugueses, apenas equiparado em dimensão à Expo 98. É para a exposição que se constrói o arco de estilo Chinês no topo da rua das coraleiras crista-de-galo, com a inscrição “Macau”, bem como a Casa Colonial (atualmente denominada Casa da Direção), com painéis de azulejos de temática colonial, o antigo Restaurante Colonial e o Pavilhão das Matérias-Primas. Datam desta mesma exposição, os catorze bustos africanos e asiáticos do escultor Manuel de Oliveira que povoam o jardim e os dois painéis de madeira em baixo-relevo do escultor Alípio Brandão, expostos no átrio do Palácio da Calheta, com temática centrada na agricultura e pesca nas colónias (ulisboa.pt).
Em 1944, o Jardim Colonial fundiu-se com o Museu Agrícola Colonial para formar o Jardim e Museu Agrícola Colonial, deixando de estar sob tutela do Instituto Superior de Agronomia. A designação do complexo museu-jardim, assim como o organismo de tutela a que pertence, foi-se alterando várias vezes ao longo dos anos. Em 1996 no âmbito de um protocolo entre o Instituto Superior de Agronomia e a Expo 98 o Jardim Museu Agrícola Tropical recebe as plantas oferecidas de língua Portuguesa para figurarem na Expo 98. Grandes caixotes e contentores de plantas chegam de Macau, India, Moçambique, Angola, Cabo Verde e Brasil e ficam de quarentena em estufa criada para o efeito. Muitas outras foram aqui reproduzidas sob a condução da Engenheira Henriqueta Carvalho para fornecer os jardins Garcia de Orta cujos planos de plantação e coordenação foram da responsabilidade da Arquiteta Paisagista Cristina Castel-Branco (Castel-Branco, 1998). Hoje em dia é designado Jardim Botânico Tropical (JBT) e pertence à Universidade de Lisboa desde 2015, resultando da integração do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT) com a Universidade. Sob a nova tutela, em Janeiro de 2019, seguindo o projeto de restauro dirigido pelo Arquiteto Paisagista Luis Paulo Ribeiro (Topiaris) foram iniciadas obras de reabilitação que culminaram na reabertura do jardim em Janeiro de 2020. A obra incluiu a recuperação dos pavimentos, da sinalética e dos vários elementos de água que incluem o Lago Principal, Lago das Serpentes, Tanque dos Leões, Tanque do Palácio dos Condes da Calheta, riachos do Jardim Oriental e canais de circulação. Foram também recuperadas todas as estátuas existentes no local, e aberto ao público o Jardim dos Catos, um espaço patrimonial de grandes relvados foi ressemeado e o jardim recuperou a sua vida urbana e pública.
O jardim em si possui uma planta trapezoidal, é murado e está implantado em terreno declivoso virado a sul. O seu desenho é caracterizado por uma estrutura orgânica inspirada no jardim paisagista, no qual alamedas de plantas exóticas nos levam a passear por entre lagos, estufas, campos experimentais, um jardim povoado de plantas orientais, edifícios setecentistas, bem como canteiros onde se dispersam estatuária de diversas épocas e se exibem espécies vegetais curiosas de origem exótica. A estatuária presente inclui peças de Bernardino Ludovici (1693-1749), Giuseppe Mazzuoli (1624-1725) e outros artistas, tanto no jardim como no Palácio, e está, geralmente associada aos elementos de água e a áreas de estadia com bancos, pérgulas e bebedouros.
No topo Norte, eleva-se o Palácio da Calheta onde está instalado o Museu Agrícola Tropical. A fachada sul do palácio é acompanhado por um enorme tanque retangular, com função de espelho de água que reflete a fachada do palácio e logo abaixo um jardim formal de buxo topiado, implantado num patamar rebaixado cerca de 3 m. A Norte e a Oeste encontramos, dispersos, os edifícios da administração, assim como as zonas de estufas que serviram para a Expo 98 e campos experimentais. Junto a estas foi recuperado o Jardim dos Catos servindo-se das ruínas de uma antiga estufa que em tempos abrigou estas suculentas. Continuando para o Jardim da Ninfa, encontra-se a Casa do Veado, uma casa do Fresco do século XVII descrita na "Carta de Padrão" como "uma casa de recreação no canto do prazo de cima com janela para o campo sobre a ribeira dos Gafos com ornato de estuque e uma fonte com estátua de mármore de Itália". O Jardim Oriental, localizado para lá do arco de Macau, é caracterizado por jogos de água, arruamentos, desníveis e espécies típicas da região. “A Sul desenvolve-se um lago alimentado por uma linha de água que tem origem numa gruta artificial localizada no centro do jardim. Este lago, bordejado por espécies botânicas das famílias Zamiaceae, Cicadaceae e Palmaceae, tem no centro uma "ilha" com pequeno pomar de espécies fruteiras africanas” (monumentos.pt).
A amenidade do clima permite que nesta encosta protegida dos ventos as plantas subtropicais vinguem e a coleção de mais de 600 plantas que incluem também plantas das regiões temperadas. É de destacar a importante coleção de plantas com interesse económico decorrentes do objetivo de criação do jardim como fruteiras, especiarias e plantas produtoras de fibras, assim como a notável coleção de Cicadáceas, eucaliptos, erythrinas e casuarinas, figueiras australásias e africanas, que em conjunto fazem deste um oásis de espécies exóticas bem no coração de uma das zonas mais turísticas de Lisboa. <br/>
Este jardim continua a servir a investigação botânica e como espaço pedagógico constituindo um repositório de flora exótica na zona histórica de Belém, tendo sido classificado em 2017 como Monumento Nacional, juntamente com o Palácio Presidencial.
Texto de Inventário: Guida Carvalho – 2020.
Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.
inserido na ROTA DA GRANDE LISBOA
Jardim do Palácio dos Condes de Calheta / Jardim Botânico Tropical
(Consultada em janeiro de 2020)
AYRES (filho), Christovam. – Abrigo do parque Eduardo VII (vulgo Estufa Fria). In Guia de Portugal Artistico: Lisboa, jardins parques e tapadas. II vol. Lisboa: M Costa Ramalho, 1935.
BOWE, Patrick; SAPIECHA, Nicolas (fot.). – Jardins de Portugal. Lisboa: Quetzal Editores, 1989.
CARITA, Hélder; CARDOSO, António Homem – Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal: ou da originalidade e desaires desta Arte. [S. l.]: Edição dos Autores, 1987. pp. 76, 87, 123, 147.
CASTEL-BRANCO, Cristina. - O Livro Verde: The Green Book, Expo 98. Lisboa: Parque Expo 98, S. A, 1998.
GOUVEIA, João. – Parque Eduardo VII. In Guia de Portugal Artistico: Lisboa, jardins parques e tapadas. II vol. Lisboa: M Costa Ramalho, 1935, pp. 57-62.
https://museus.ulisboa.pt/pt-pt/jardim-botanico-tropical
https://www.ulisboa.pt/patrimonio/jardim-botanico-tropical
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=9885
http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/sipa.aspx?id=11278
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74574