Quinta Real de Caxias

Lisboa | Oeiras

Quinta Real de Caxias

Situada na margem direita da desembocadura do estuário do Tejo, a quinta Real de Caxias localiza-se junto à estação de comboios do mesmo nome e foi construída no local onde o estuário termina e o oceano começa. 

A quinta, então conhecida como Palácio Real de Caxias, foi mandada construir pelo Infante D. Francisco numa das propriedades do Almoxarifado de Caxias, em meados do século XVIII, ainda durante o reinado do seu pai D. Pedro II. As obras arrastaram-se por anos tendo apenas terminado após a morte do infante, já no reinado de D. Pedro III em 1825 e será este o monarca consorte que decide enobrecer o palácio com a construção de um jardim de buxo à la française pontilhado de esculturas. Cria-se assim um espaço de lazer ‘digno da família real’ dentro de uma quinta de reconhecida produtividade agrícola. 

Em 1908, D. Manuel II assina um decreto no qual autoriza o parcelamento da Quinta e a sua partilha por duas entidades. Ao então Ministério da Guerra são atribuídos o Palácio e o Jardim da Cascata, tendo-se ali estabelecido mais tarde os Altos Estudos Militares que ocuparam as edificações e a restante área de pomares, pátio do Jogo da Péla e o conjunto escultórico de Hércules, ficam na posse do Ministério da Justiça. É nesta área, conjuntamente com a área da cerca e Convento da Cartuxa, que se vai instalar o Instituto Padre António de Oliveira (Reformatório de Caxias, um estabelecimento de educação de menores delinquentes). 

A partilha deste espaço levou a que, em 1922, se construísse o muro que rodeia o Jardim da Cascata e secciona a Rua de Hércules e a propriedade em dois. Quando em 1956, o Instituto de Altos estudos Militares, afeto ao Ministério de defesa Nacional, é transferido para Pedrouços, inicia-se um longo processo de degradação. Em 1986, a Câmara municipal de Oeiras estabelece um protocolo de cedência de propriedade com o Ministério de Defesa Nacional, para recuperação, manutenção e utilização dos jardins da cascata. Em 2009, é feito um novo protocolo, desta vez com o Ministério da Justiça, que visa o aumentar a área cedida de forma a incluir os pomares, hoje em dia abertos à população. 

A Quinta Real de Caxias, assim como a Quinta Real de Queluz e a quinta do Marques de Pombal, segue o estilo barroco que foi adotado tardiamente em Portugal, em meados do século XVIII. Apesar de já não apresentar jardins murados, típicos das quintas de séculos anteriores em Portugal, o traçado rígido do barroco do resto da Europa acomoda-se aqui às condições topográficas e adapta-se à tradição portuguesa de construir jardins, com bancos nas proximidades de tanques, namoradeiras nos terraços da cascata, e uma escada confortável em que as vistas e o conforto vêm comprovar o usufruto vivencial do espaço. 

O Jardim Novo, iniciado na década de setenta do século XVIII, apresenta um traçado geométrico e nele se destaca a peça mestra do jardim: uma cascata monumental com pavilhões, sete lagos, e várias estátuas de barro pintadas a branco. Destacam-se no seu perímetro os jardins de buxo geométricos topiados. A quinta foi pensada como um Pomar/Jardim, tendo subjacente a produção agrícola e consequentemente a rega. 

Estruturado numa malha geométrica, instala-se nos aluviões férteis e planos da várzea da Ribeira de Barcarena, com alinhamentos retos de sebes e árvores formando ruas, batizadas com nomes de frutos e personalidades mitológicas, como é o caso da «Rua dos Damasqueiros» e da «Rua de Hércules», aludindo a um verdadeiro jardim das delícias e ao seu simbolismo. Os percursos deambulatórios que culminam no Jardim da Cascata concentram as representações simbólicas de várias lendas e entidades místicas, tornando-se um exemplo de destaque de uma intervenção na paisagem rural plenamente subordinada ao recreio lúdico dos sentidos. As estátuas representam na sua maioria cenas mitológicas e a cascata com o seu lago onde a Deusa Diana vinha tomar banho junto da gruta onde o seu amado pastor Endimião dormia um sono eterno. Das estátuas partiam vários jogos de água, emprestando ainda mais movimento ao jardim. A presença monumental da cascata, projetada por Mathias Francisco, traz um caráter especial ao espaço, pois introduz o gosto pela imitação da natureza típico Inglês, afastando-se parcialmente dos modelos geométricos franceses. 

Atualmente a Quinta Real de Caxias encontra-se parcialmente restaurada sob direção do Arquiteto Paisagista Rodrigo Dias, conservando-se o jardim da cascata e três das ruas originais. Desde 2009, que a câmara Municipal de Oeiras tem levado a cabo a recuperação de grande parte do património escultórico, inserida num projeto mais alargado que contemplou ainda a criação de novos percursos e vias pedonais. 

Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 39 175, DG, 1.ª série, n.º 77 de 17 abril 1953 (jardins, esculturas e duas salas com pintura).

Texto de Inventário: Luísa Correia – 2015. 

Adaptação: Guida Carvalho – 2020. 

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020. 

inserido na ROTA DA GRANDE LISBOA

Quinta Real de Caxias

(Consultada em Setembro de 2019) 

ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa: Centro de Estudos de Urbanismo, 1962. p. 156.
BINNEY, Marcus – Country Manors of Portugal. Lisboa: Difel, 1987. pp. 26-27.
CARITA, Hélder; CARDOSO, António Homem – Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal: ou da originalidade e desaires desta Arte. [S. l.]: Edição dos Autores, 1987. pp. 205, 237.
DIAS, Rodrigo Alves - Quinta Real de Caxias: Jardim da Cascata. A Voz de Paço de Arcos. n. 66-67 (1986).
DIAS, Rodrigo Alves - Quinta Real de Caxias: Jardim da Cascata (séc. XVIII): Jardim histórico em recuperação. Revista Municipal (1986).
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J44&qid=sdx_q6
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=35293
http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74866/

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