Convento dos Capuchos

Lisboa | Sintra

Convento dos Capuchos

Era difícil chegar ao Convento dos Capuchos, escondido numa dobra da serra de Sintra, do lado de Colares. O isolamento, a presença muito discreta do Homem no meio das enormes fragas de granito arredondadas, o sossego da Natureza, tornaram o convento num retiro de difícil acesso. Ninguém desviou as pedras para criar espaço para as construções geométricas, como é habitual, e as pedras fazem parte da construção onde, durante horas, tantos homens despojados de tudo rezaram a Deus, acolheram peregrinos, doentes e pobres, e viveram em plena austeridade e em harmonia com a Natureza.

Entra-se por baixo de duas enormes fragas apoiadas uma na outra e temos que nos dobrar para passar. É o sinal que ali a Natureza domina e que cada vez que há um teto construído pelos homens há também uma fraga que ficou lá dentro, respeitada como parte do espaço e servindo de parede redonda. A escolha do sítio, assim como a ideia da construção, deve-se a D. João de Castro e a regra de simplicidade deve-se a São Francisco de Assis. Ambos contribuíram para este conceito de arquitetura em composição com a Natureza. Dois homens de enorme qualidade e modéstia, que perceberam a vida sobre a terra de forma diferente: através de uma grande religiosidade escolheram a Natureza como lugar para louvar a Deus e, para ambos, a modéstia era a única forma de se relacionarem com os outros e com o mundo. D. João de Castro tinha pedido ao rei como recompensa da sua viagem à Índia um pedaço de Sintra para aí construir a Quinta da Penha Verde, onde não fez um jardim geométrico mas adaptou o seu jardim ao terreno, saindo das regras da época. No jardim da Quinta da Penha Verde, a cada volta do caminho encontramos uma capela para acolher um santo e agradecer a Deus, ou uma fonte donde a água segue em caleiras para regar as plantas e dar de beber a quem chega. Nos pontos em que a serra se abre para o mar ficaram muros e namoradeiras em pedra, ficou o convite para nos sentarmos a olhar a Natureza. Em testamento, D. João de Castro pediu aos seus filhos que construíssem um convento de frades nos seus terrenos em Sintra.

Nas proximidades do Convento dos Capuchos é possível visitar uma grande diversidade de monumentos como a Tapada de D. Fernando II, o Castelo dos Mouros, a Quinta da Penha Verde, a Quinta da Regaleira, a Quinta do Relógio e o Parque de Monserrate (Pereira de Lima, 2005). Ao contrário das luxuosas propriedades que o envolvem, o Convento dos Capuchos caracteriza-se pela sua pobreza simples e funcional. Predomina aqui a harmonia entre a construção humana e os elementos naturais pré-existentes que foram integrados nas construções. A cerca é constituída pela zona do convento com o pátio e terreiros adjacentes e pela mata e a zona agrícola. Está limitada por muros e tem duas entradas. No terreiro das cruzes, duas penhas cobertas de musgo e cinco cedros do Buçaco indicam a entrada e três pedras encimadas por cruzes dão o sinal da devoção do convento. Por baixo das cruzes duas entradas discretas e apertadas dão acesso ao terreiro do plátano. Este terreiro, com um plátano de grande porte, é rodeado de enormes pedras que terminam em baixo num banco corrido escavado na pedra.

Depois do terreiro do plátano, oito degraus cortados a meio por uma pirâmide de pedras com uma cruz em cima dão acesso a um recinto plano onde um velho freixo torcido dá a entrada. Este jardim é acolhedor e tem duas mesas de pedra rodeadas de bancos corridos, também de pedra. O encosto é uma peça de cortiça espalmada, a toalha de mesa é feita de líquenes e musgo. Entre as mesas tem uma fonte de azulejos amarelos e azuis com uma bica e taça de pedra e um nicho de embrechados. O pórtico de entrada do século XVII que remata este jardim está apoiado por dois pilares de granito tosco que sustentam uma trave recoberta a cortiça; no centro do pórtico uma fonte de embrechados com pedaços de porcelana, para onde corria a água e onde havia uma estátua de Madalena, passando a mensagem que todos os seres, independentemente de serem justos ou pecadores, tinham ali acolhimento.

De cada lado do pórtico há duas capelas com portas de cortiça. Uma é decorada com azulejos e a outra com um altar de mármore de embutidos e retábulos. Do lado oposto do convento está o claustro do convento, de forma quadrangular e ajardinado, centrado por um tanque ortogonal com um chafariz. Este claustro sem arcaria é rodeado pelas construções simples do convento e é aberto num dos lados por um banco corrido em pedra e por um muro baixo para se poder ver a vista para o mar. Este terreiro tem sobre ele um sobreiro inclinado coberto de musgo e fetos, mas falta uma peça fundamental no espaço, que aparece em gravuras antigas: uma enorme fraga em pé como um menir, com uma cruz no cimo. Em frente a esta fraga desaparecida, no cimo de oito degraus, novo pórtico com bancos e a capela do Senhor no Horto com um altar coberto de azulejos, frescos na parede e no teto abobado. A capela foi aberta na pedra, que foi mantida como espaldar dos bancos. De cada lado da porta dois painéis de frescos de grande qualidade: de um lado um Santo António com o menino Jesus e um mocho sobre uma pedra, do outro, um S. Francisco com as chagas de Cristo nas mãos. A capela tem no alto um medalhão de embrechados com pratos de cerâmica e uma cruz. Descendo do claustro, passa-se para a horta onde um grande tanque recolhe as águas para rega. A sul do claustro desenvolve-se a mata na encosta de grande densidade vegetal. O claustro tem ainda passagem pelo muro para a zona agrícola, onde existe uma casa de fresco com dois bancos laterais, revestida a azulejos e concheados e um grande tanque que recolhe as águas para a rega, que é feita por caleiras. (Castel-branco, 2014; Parques de Sintra - Monte da Lua, 2015).

Parcialmente incluída na Zona de Protecção do Convento dos Capuchos (v. PT031111050021) / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. PT031111050264)

Texto de Inventário: Cristina Castel-Branco – 2013.

Adaptação: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.

inserido na ROTA DA GRANDE LISBOA

Convento dos Capuchos

(Consultada em Setembro de 2019)
ANDRADE, Jacinto Freyre de. – Vida de D. João de Castro quarto Viso-Rey da India. Lisboa: Officina Craesbeeckiana, 1651.
ARAÚJO, Ilídio de – Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal. Lisboa: Centro de Estudos de Urbanismo, 1962. p. 104.
CASTEL-BRANCO, Cristina – Jardins de Portugal. Lisboa: CTT Correios de Portugal, 2014. pp. 186-191.
GASPAR, Nuno Miguel. - O Convento dos Capuchos da Serra de Sintra: percurso histórico e guia interpretativo. Cacém: Voxgo Centro Editorial, 2006
GÓIS, Damião de. - Crónica de D. Manuel I. Lisboa: Oficina de Miguel Manescal da Costa, 1749.
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JUROMENHA, Visconde de. – Cintra Pinturesca. Sintra: C.M. Sintra, 1989, pp. 85-91.
LACERDA, João António de Lemos Pereira de, 2º Visconde e 2º Alcaide-Mor de Juromenha. Cintra Pinturesca, publicada em 1838. Edição da Câmara Municipal de Sintra, 1989-1990.
LINK, Heinrich Friedrich. – Notas de uma Viagem a Portugal e Através de França e Espanha. rev. Graça Pais Ferreira; trad. Fernando Clara. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2005.
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Ribeiro, José Cardim - Sintra - Património da Humanidade. Sintra: Edição C.M. Sintra, 1998.
http://europeangardens.eu/inventories/pt/ead.html?id=PTIEJP_Lisboa&c=PTIEJP_Lisboa_J86&qid=sdx_q5http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=23455
http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72838

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