Jardim da Vila Sassetti / Quinta da Amizade

A Amizade entre Vitor Sassetti (1851-1915) e Luigi Manini, dois italianos estabelecidos em Portugal no final de oitocentos criou em Sintra uma obra surpreendente a que se chamou Quinta da Amizade, interpretável à luz da vivência de cada um deles: Sassetti prestigiado hoteleiro, Manini no auge da sua carreira com cenógrafo dos Teatros S. Carlos e D. Maria II, treinado com os mestres da cenografia do Teatro La Scala de Milão.

Uma exposição sobre a obra de Manini como pintor, cenógrafo e arquiteto revelou desenhos e documentos que permitem afirmar que o estilo neorromânico lombardo das construções é uma homenagem de Manini, aplaudida por Sassetti, à unificação da Itália e ao Piemonte onde residia o seu coração. " Nas laudas é ainda evidente o afã do arquiteto numa definição pessoal das coordenadas de um estilo puro e representativo do românico lombardo, construído a partir das suas memórias [...] A tradição lombarda revela-se ainda na conjugação de materiais. É através das superfícies cerâmicas em contraste com a pedra rustica e a utilização prudente de cantaria... que se animam as fachadas criando um efeito bicolor tão característico deste estilo " (João Cruz Alves (coord. e direção) Catálogo da Exposição Luigi Manini - Imaginário e Método, Fundação Cultursintra, Sintra 2006).

A escolha da localização a meia encosta permite vistas soberbas sobre o Palácio da Vila, a Regaleira e, ao fundo, a praia das Maças e o infinito oceano e um passeio ao longo da encosta íngreme da quinta revela o cuidado cenográfico de Manini aproveitando a paisagem como cenário e só preparando os bancos e o enquadramento para a apreciação do esplendor da paisagem envolvente. Manini cria espaços com regatos, cascatas e pequenos lagos que se dispõem no terreno desnivelado e são envoltos num cenário arbóreo privilegiado criando contrastes entre espaços de abertura à vista e de recato. As várias construções como o pombal levam-nos a subir encosta e aproveitam os enormes rochedos para criar um jardim pitoresco em que as plantas, a vista e os caminhos oferecem um percurso de surpresas muito ingreme até ao castelo dos mouros.

A casa serviu como hospedaria onde pernoitaram personagens célebres da cultura Portuguesa: como Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão e Alberto Pimentel. Após a morte do proprietário, a vila surge como arrendada a Calouste Gulbenkian, entre 1920 e 1955, com usufruto para Isabel Armanda Luísa Real. O atual proprietário é o Parques de Sintra Monte da Lua, que adquiriu a propriedade com vista a abertura percurso pedestre, através da Quinta da Amizade, que liga o Centro Histórico ao Palácio Nacional da Pena e ao Castelo dos Mouros.

Texto de Inventário: Cristina Castel-Branco – 2020.

inserido na ROTA DA GRANDE LISBOA