Quinta do Vinagre

A Quinta do Vinagre, junto à Eugaria, é uma das mais antigas Quintas da região de Colares e um magnífico exemplar de casa nobre rural Portuguesa. A quinta é atravessada pela Ribeira de Colares que é explicitamente integrada no jardim, criando uma separação líquida entre os dois patamares do jardim formal de buxo.

A sua fundação remonta ao séc. XVI, altura em que foi mandada construir por D. Fernando Coutinho, filho do camareiro-mor do rei D. João II Bispo de Silves e Lamego. Pela sua morte, em 1538, a quinta é deixada à sua legatária é D. Isabel da Silva, esposa de Rui Pereira da Silva, alcaide-mor de Colares. A quinta do Vinagre passa depois para seu filho, D. Fernando da Silva, que passa ali grande parte da sua vida.  As inscrições no portão e na fachada referem a data de 1586.

Em 1630 o morgadio é dissolvido e em seguida vendido a Gaspar de Sousa Lacerda da Silva, fidalgo da casa real, comendador do hábito de Santiago e a quinta do Vinagre permanecerá na família dos seus descendentes pelos próximos três séculos.

Em 1777, suas altezas D. Maria I e do seu esposo D. Pedro III visitaram a Quinta do Vinagre, e em 1787 William Beckford que a terá visitado conta-nos que lá encontrou “um jardim ensombrado que se estende ao longo das margens de um ribeiro, no sopé de uma colina a pique, coberta de pinheiros, medronheiros e de grande variedade de arbustos odoríferos. Infelizmente, o proprietário, sem gosto, já destruiu grande parte destes, para aí fazer terraços ao estilo português, com reservatórios, parapeitos envidraçados em alvenaria”. (Beckford, 1997).

Em 1964, a Quinta do Vinagre é comprada por Pierre Schlumberger, a António Plácido de Mello Breyner, conde de Mafra, pertencendo ainda hoje a descendentes da família Schlumberger. 

Segundo Anne Stoop “Este antigo solar do Vinagre, se bem que muito remodelado ao longo dos séculos, mantém como testemunho das construções primitivas que se devem ao bispo de Silves, o pátio, cercado por uma galeria rústica de pedra em pilares quadrangulares, construído à beira do ribeiro. No centro deste pátio, de cada lado de um tanque, erguem-se dois impressionantes leões de mármore segurando brasões nas suas garras.” (Stoop, 1999, p. 242). Num recanto da fachada posterior, que se debruça diretamente sobre a ribeira, encontra-se um conjunto de quatro bustos em porcelana que representam as estações. A varanda decorada a painéis de azulejos é também ornada por uma singular grade de ferro forjado. 

Ainda segundo Anee Stoop, o conjunto foi submetido a ampliação e restauro em 1965, sendo que “O novo proprietário deu-lhes mesmo uma nova dimensão chamando artistas contemporâneos e mantendo-se fiel à constante tradição de criatividade dominante. Um dos florões, revestimento de azulejos do pavilhão da piscina, e que se deve ao pintor Nuno Siqueira, situa-se entre uma das mais belas realizações, neste domínio. Sobre um fundo azul muito clássico dança um grafismo azul, branco e preto, verdadeira melodia das águas... Em seguida, uma belíssima coleção de esculturas, entre as quais se podem admirar obras de Henry Moore, Lipschitz, Berrocal e muitas mais, repartem-se pelos jardins que se estendem em socalcos à beira do riacho. É um local encantador, com as suas essências raras, os seus buxos aparados e as suas flores: «leve é este exílio», que não teria por certo desagradado a William Beckford.” (Stoop, 1999, p. 242).

Incluído na Área Protegida de Sintra – Cascais.

Texto de Inventário: Guida Carvalho – 2020.

Revisão: Cristina Castel-Branco – 2020.